segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

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José Antonio dos Santos da Silva
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Marighella Desbanca Médici


Marighella desbanca Médici e vira escola na Bahia

– 12 de dezembro de 2013
 
Comunidade adota decisão que STF evitou, revê homenagem a ditador e celebra um dos ícones da luta contra ditadura  
Por Mário Magalhães, em seu blog
Numa eleição histórica encerrada anteontem, a comunidade do Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici, de Salvador, decidiu que a instituição deve ser rebatizada como Colégio Estadual Carlos Marighella.
Os eleitores, na maioria alunos, deram 406 votos (69%) a Marighella e 128 ao geógrafo Milton Santos. Os nulos foram 25, e os brancos, 27. O resultado será encaminhado à Secretaria da Educação da Bahia, para que o Estado promova uma “reinauguração”, palavra empregada pela diretora do estabelecimento, Aldair Almeida Dantas, em conversa com o blog.
O colégio foi inaugurado em 1972, quando o general gaúcho Médici (1905-85) ocupava a Presidência da República, sem ter recebido um só voto popular. Seu governo (1969-74) marcou o período de maior repressão e falta de liberdades na ditadura imposta em 64.
Do golpe que derrubou o presidente constitucional João Goulart até 1985, nos 21 anos em que ditadores ocuparam o Palácio do Planalto, ao menos 400 oposicionistas foram mortos por agentes públicos. Boa parte havia sido presa com vida, estava sob custódia do Estado e foi torturada até a morte.  Mais de 130 cidadãos tiveram os corpos desaparecidos para sempre, sem que as famílias pudessem lhes oferecer um enterro digno. Nem mesmo a legislação da ditadura autorizava tortura e execução de seres humanos.
O guerrilheiro baiano Carlos Marighella (1911-69) foi declarado pela ditadura, em novembro de 1968, “inimigo público número 1”. Militante comunista na maior parte da vida, ele se incorporou em 67 à luta armada contra o regime. Fundou a maior organização guerrilheira de combate à ditadura, a Ação Libertadora Nacional, ALN.
Foi assassinado em 1969, no governo Médici, por ao menos 29 membros da polícia política armados até os dentes. Desarmado, Marighella não portava nem um canivete. Em decisões de 1996 e 2011, a União reconheceu que o “inimigo” poderia ter sido preso vivo, assumiu a responsabilidade por seu homicídio e pediu perdão à sua família.
O outro candidato da eleição, o geógrafo baiano Milton Santos (1926-2001), foi um dos pensadores brasileiros mais brilhantes do século XX. Perseguido pela ditadura, foi obrigado a passar mais de uma década no exílio, inclusive durante a administração do general Médici.
Milton Santos e Carlos Marighella eram afrodescendentes. Médici era branco.
O pleito foi coordenado pelo colegiado da escola, composto por professores, funcionários, estudantes e pais de alunos _segmentos que tiveram direito a voto. Ninguém propôs manter na cédula o nome atual _insatisfeitos com as opções votaram branco e nulo. O colégio Médici é de ensino médio e profissionalizante.
Continuam a existir no Brasil centenas ou milhares de sítios públicos batizados em homenagem a próceres e símbolos da ditadura. Seria como eternizar na Alemanha reverências do tempo do nazismo ou, na Argentina, da ditadura 1976-83. Mas não existe escola berlinense Adolf Hitler ou praça portenha Jorge Rafael Videla, o ditador que principiou o ciclo genocida. Tiranos e açougueiros do passado não devem servir de exemplo aos jovens.
É esse o caminho apontado no colégio Médici, futuro colégio Marighella.
Como assinalou a diretora Aldair, na origem da escolha pela mudança de nome esteve uma exposição dos alunos, derivada de “um trabalho espetacular da professora Maria Carmen”. Chamaram-na “A vida em preto e branco: Carlos Marighella e a ditadura militar”.
Um vídeo com a socióloga e professora Carmen apresentando a exposição pode ser assistido clicando aqui.
Testemunho pessoal
Sou autor da biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo” (Companhia das Letras). Um exemplar aparece no vídeo, entre os objetos expostos no _ainda_ colégio Médici. A professora Carmem disse, comovendo-me: “Seu livro foi uma base e uma inspiração para esse trabalho”.
Como sabe quem leu a biografia, não produzi nem uma hagiografia, promovendo os feitos do protagonista, nem um libelo contra ele. Escrevi uma reportagem, contando o que Marighella fez, disse e, na medida do possível, pensou. Não o julgo ou trato como herói ou bandido _empenho-me em fornecer informações para cada leitor formar seu próprio juízo.
Mas, como dizia João Saldanha, grande amigo de Marighella, eu não sou filho de chocadeira _tenho opinião. A ditadura foi um mal, e seus crimes devem ser narrados, bem como os criminosos, punidos. A história não deve apagar personagens, como a ditadura e suas viúvas tentaram fazer com Marighella, ou como os artistas de Stálin faziam eliminando das fotografias as pessoas caídas em desgraça.
A professora Carmem e seus alunos orgulham o Brasil. Assim como é legítimo haver escolas com o nome de Carlos Lacerda (1914-77), líder de direita de gigantesco talento, é legítimo reverenciar um dirigente de esquerda como Carlos Marighella.
Ilegítimo é bajular em prédio público a memória de ditador, perenizando o elogio das trevas.
Tomara que o governo Jacques Wagner não barre a decisão democrática e soberana da comunidade que decidiu pela civilização, contra a barbárie.

Resposta Jean Wyllys

Resposta à matéria "Jean Wyllys e o pastor do PSOL", da revista Veja


Na última quarta-feira, a edição online da revista Veja publicou uma brevíssima coluna do jornalista Lauro Jardim, afirmando que um pastor evangélico, Jeferson Barros, ligado ao pregador homofóbico Silas Malafaia, seria candidato a deputado federal pelo PSOL em 2014. A coluna afirma, ainda, que a suposta candidatura do pastor poderia ameaçar a reeleição do deputado Jean Wyllys.
Desconhecemos qual é a fonte de tais fantasias. O deputado Jean, cujo mandato muito orgulha o PSOL, é um dos parlamentares mais destacados do Brasil, eleito pela segunda vez consecutiva como melhor parlamentar do ano pelo prêmio Congresso em Foco e reconhecido nacional e internacionalmente por seu trabalho em defesa dos direitos humanos e sua luta contra todas as formas de discriminação.
Com relação ao pastor Barros, o certo é que o partido desconhece que ele pretenda ser candidato. As candidaturas do PSOL serão definidas na convenção eleitoral em 2014 e o fato de alguém se filiar ao partido não significa que vá ser candidato. Não é assim que o PSOL funciona. Para alguém ser candidato/a pelo PSOL, precisa ter identidade com seu programa, seus princípios e suas bandeiras e ser selecionado para essa tarefa pelas instâncias democráticas do partido. 
O PSOL está aberto à participação de brasileiros e brasileiras de todas as religiões, assim como daqueles que não têm religião. Contudo, o pertencimento a grupos político/religiosos que pregam o ódio, o preconceito e a discriminação contra negros, mulheres, homossexuais, transexuais, adeptos de religiões de matriz africana e outros grupos oprimidos é incompatível com o ideário do partido, que defende os direitos humanos e luta contra o preconceito e a discriminação, no parlamento, no movimento social e nas ruas.
Um bom exemplo disso é o nosso companheiro Henrique Vieira, pastor da igreja batista e vereador do PSOL em Niterói, parceiro do movimento LGBT na luta contra a homo/lesbo/transfobia e defensor dos direitos humanos.
O casamento civil igualitário, o reconhecimento da identidade de gênero das pessoas trans, a luta contra a intolerância religiosa e a defesa do Estado Laico não são apenas bandeiras do mandato do Jean: são princípios programáticos do PSOL, que fazem parte da ação política do dia-a-dia de toda a nossa militância.
Rogério Alimandro
Presidente do PSOL-RJ 

Mandela

 
 
MANDELA: OS ELOGIOS DOS SEM VERGONHA

por Georges Gastaud [*]
Caros amigos e camaradas: 
Lenine dizia que a maneira com que a burguesia consegue sujar os grandes revolucionários consiste em incensá-los a título póstumo depois de os ter perseguido durante toda a sua vida. É o que acontece hoje. A burguesia mundial incensa Mandela depois de o te aprisionado durante 27 anos. Ela quer esconder que os grandes estados capitalistas, França inclusive, se desinteressaram de Mandela durante décadas. Sem vergonha, o grande patronato do nosso país importava os diamantes e as laranjas sul-africanos manchados com o sangue do apartheid. 
Eis porque, não dispondo senão de dois minutos, recordarei três verdades censuradas por aqueles que não vêem em Mandela senão o grande conciliador que, a seus olhos, teria impedido a transição democrática na África do Sul de voltar-se para o que a burguesia mundial mais temia: uma África do Sul socialista. Esta está infelizmente por realizar, para reduzir as enormes desigualdades que subsistem hoje entre a burguesia branca ou negra de Pretória e o proletariado miserável de Soweto. 
Chris Hani. Primeira verdade censurada: a luta anti-apartheid foi conduzida de A a Z pelo Partido Comunista da África do Sul e pelo sindicato de classe COSATU. Mandela foi membro do PC sul-africano que, pela primeira vez, levantou a bandeira da revolta negra e anti-colonial. Honra a Mandela, mas honra também a Chris Hani , dirigente negro do PC sul-africano, assassinado pelo regime racista no princípio dos anos 90. Quando haverá uma praça Chris Hani em Lens e nas cidades dos arredores? 
Segunda verdade: o regime do apartheid e todos os regimes gorilas que o cercavam, o colonialismo dos fascistas portugueses em Angola e Moçambique, países reduzidos ao estado de ghettos na Rodésia e na Namíbia, nunca teria caído, dado o apoio que recebia de Reagan, de Thatcher e de Israel, se Fidel Castro não houvesse enviado à África um contingente militar internacionalista. Foi em Cuito Cuanavale , em Angola, que o exército cubano esmagou o exército do apartheid e foi só a partir desta data que a parte menos bárbara do regime racista aceitou tirar Mandela da sua prisão. O objectivo era sacrificar o apartheid para salvar a propriedade capitalista dos meios de produção, que continua hoje sempre em vigor, apesar de certos progressos democráticos evidentes mas frágeis. Honra a Cuba socialista cujo presidente era hoje o dirigente mais autorizado a prestar a Mandela uma homenagem sincera. 
Terceira verdade: em França foram os comunistas, a começar por Georges Marchais, que apoiaram a luta anti-apartheid enquanto outros não se interessavam senão pelo anti-comunista Walesa ou apresentavam os talibans, atacando o regime laico de Cabul, como "combatentes da liberdade". 
Termino dizendo, com Marwan Bargouti, dirigente do Fatah aprisionado em Israel, que a vitória de Mandela permanecerá incompleta enquanto o povo palestino, com o qual Nelson era solidário, for oprimido. A luta anti-apartheid não terá sido vitoria senão no dia em que, na África do Sul, a polícia do regime actual cessar de atirar sobre os mineiros negros em greve e quando, em França, o poder instituído cessar de derramar lágrimas de crocodilo enquanto expulsa crianças sem documentos à saída das escolas com o único objectivo de fazer esquecer a renúncia a mudar a sociedade. 
Mandela, Chris Hani, vosso combate é mais vital do que nunca em vossa pátria, mas também, infelizmente, na nossa!

[*] Dirigente do PRCF . Discurso pronunciado na homenagem a Nelson Mandela, em Lens, a
08/Dezembro/2013.

Coluna de Beto Almeida
Mandela e Cuba
Mesmo na morte de um gigante da humanidade como o revolucionário Nelson Mandela, o imperialismo não deixa de exibir sua baixeza incorrigível ao buscar manipular a imagem deste líder para mostrá-lo como um conciliador abstrato. A revista Veja , que tem como acionistas empresários sul-africanos apoiadores do apartheid, o apresenta como “o guerreiro da paz”, a quem prenderam e torturaram. Seria o segundo sequestro de Mandela,depois de 27 anos de prisão: o da sua imagem, para que não se saiba tratar-se de um dirigente comunista, revolucionário, que apoiou a luta armada contra o regime racista da África do Sul e a revolução no mundo.

É obrigatório lembrar a posição de Mandela sobre Cuba, sempre sonegada pela mídia do capital, para mostrar seu pensamento por inteiro. Logo após Angola ter conquistado sua independência, em 1975, foi alvo de agressão militar da África do Sul, que ocupou grande parte de seu território, com o apoio dos EUA e Inglaterra, que hoje fazem declarações hipócritas sobre Mandela. O presidente de Angola, Agostinho Neto, solicitou diretamente a Fidel Castro o apoio militar de Cuba. Imediatamente, se organizou uma das maiores operações de ajuda militar internacionalista, com 400 mil cubanos, homens e mulheres, tendo lutado em solo angolano, ao longo de um década, derrotando a agressão imperialista e libertando Angola e Namíbia. A Batalha decisiva foi a de Cuito Cuanavale quando, derrotadas, as tropas do regime racista bateram em retirada. Mandela a declara: “a Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid. Nós devemos a destruição do Apartheid a Cuba!”

Hoje, Cuba, que foi o único país a se levantar em armas em defesa de Angola e Namíbia e contra o Apartheid, continua a compartilhar internacionalmente, médicos, professores, vacinas e exemplos. Com o reconhecimento e solidariedade doo revolucionário Nelson Mandela, que, neste episódio, mostrou sua integridade e grandeza!

Beto Almeida

Diretor de Telesur
Coluna de Emir Sader
Mandela contra a escravidão
A figura de Mandela permanece como a do maior líder popular africano, porque tocou no tema essencial de todo o período histórico da colonização: a escravidão.

A escravidão foi o maior crime de lesa humanidade cometido ao longo de toda a história humana. Tirar milhões de africanos dos seus países, do seu mundo, da sua família, para trazê-los para a América, para trabalhar como escravos, como “raça inferior”, produzindo riquezas para os brancos europeus foi um crime incomensurável, do qual nunca se compensou, sequer minimamente, a África.

O “apartheid” foi uma sobrevivência da escravidão na África do Sul. Como relata o Museu do Apartheid, em Joanesburgo, impressionante testemunho do mundo do racismo, os brancos consideravam essa politica uma “genial arquietetura” para conseguir a convivência entre brancos e negros. Nas mais escandalosas condições de discriminação, de racismo, de opressão.

Por detrás estava a super exploração da mão de obra negra nas minas sul-africanas, fornecedor essencial para os países europeus, sob comando da Holanda. As pessoas eram legalmente declaradas brancas ou negras, com todas as consequencias de direitos para uns e exclusão de direitos para os outros. Uma declaração da qual se poderia apelar todos os anos, mas que, ao mesmo tempo, se corria o risco de alguém questionar a condição de branco de qualquer outra pessoa, que poderia recair na condição de negro.

O cinismo das potências coloniais e dos próprios EUA estava na postura de não aderir ao boicote à Africa do Sul, alegando que isso isolaria ainda mais esse pais e dificultaria negociações politicas. Na verdade, a África do Sul do apartheid era um grande aliado dos EUA – junto com Israel – em todos os conflitos internacionais, alem de fornecedor de matérias primas estratégicas.

Não foi essa via de negociações que o apartheid terminou, mas pela luta, conduzida por Nelson Mandel, mesmo de dentro da cárcere, por 27 anos. Como reconheceu o próprio Mandela, o país que desde o começo apoiou ativamente, sem hesitação, a luta dos sul-africanos foi a Cuba de Fidel, o que forjou entre os dois lideres uma relação de amizade e companheirismo permanente.

A libertação de Mandela, o fim do apartheid e sua eleição como o primeiro presidente negro da Africa do Sul, foram a conclusão de décadas de lutas, de massacres, de prisões, de sacrifícios. Mandela aceitou ser eleito presidente, para concluir esse longo caminho, com a consciência de que estava longa de ser conseguida a emancipação dos sul-africanos. O país manteve a mesma inserção no sistema econômico mundial, as estruturas capitalistas de dominação não foram atingidas. A desigualdade racial foi profundamente afetada, mas não as desigualdades sociais.

Por esta via, os negros sul-africanos continuaram a ser vítimas, agora da pobreza, que os segue afetando de maneira concentrada. Os governos posteriores foram impotentes para mudar o modelo econômico e promover os direitos sociais da massa da população. Os ideias de Mandela se realizaram, com o fim do apartheid, da discriminação racial legalmente explicitada, mas não permitiu aos negros saírem da sua condição de massa super explorada, discriminada, agora socialmente.

Mas a figura de Mandela permanece como a do maior líder popular africano, porque tocou no tema essencial de todo o período histórico da colonização – a escravidão. Ele soube combinar a resistência pacifica e violenta, para canalizar a força acumulada dentro e fora do país, para negociações que terminaram com o apartheid.

O historiador marxista britânico Perry Anderson considera Nelson Mandela e Lula como os maiores líderes populares do mundo contemporâneo, não apenas pelo sucesso das lutas a que eles se dedicaram – contra a discriminação racial e contra a fome -, mas também porque tocam em temas fundamentais das formas de exploração e de opressão do capitalismo. O apartheid terminou, fazendo com que Mandela ficasse como um dos maiores lideres do século XX. Lula projeta sua figura no novo século, na medida em que a sobrevivência do capitalismo e do neocolonialismo reproduzem a fome e a miséria no mundo.
Postado em 08/12/2013 ás 07:51
50 verdades sobre Nelson Mandela

por Salim Lamrani [*]

 
As grandes potências ocidentais opuseram-se até ao último instante à sua luta e apoiaram sempre o governo racista de Pretória
Mas o herói da luta contra o apartheid marcou para sempre a história da África.
No crepúsculo da sua existência, Nelson Mandela passou a ser louvado por aqueles que sempre o combateram ou o ignoraram – como por exemplo Cavaco Silva.
Eles agora choram lágrimas de crocodilo.
1. Nascido no dia 18 de julho de 1918, Nelson Rolihlahla Mandela, apelidado de Madiba, é o símbolo por excelência da resistência à opressão e ao racismo na luta pela justiça e pela emancipação humana.

2. Procedente de uma família de treze filhos, Mandela foi o primeiro a estudar em uma escola metodista e a cursar direito na Universidade de Fort Hare, a única que aceitava, então, pessoas de cor no governo segregacionista do apartheid.

3. Em 1944, aderiu ao Congresso Nacional Africano (ANC) e, particularmente, à sua Liga da Juventude, de inclinação radical.

4. O apartheid, elaborado em 1948 depois da vitória do Partido Nacional Purificado, instaurava a doutrina da superioridade da raça branca e dividia a população sul-africana em quatro grupos distintos: os brancos (20%), os indianos (3%), os mestiços (10%) e os negros (67%). Esse sistema segregacionista discriminava 4/5 da população do país.

5. Foram criados "bantustões", reservas territoriais destinadas às pessoas de cor, para amontoar as pessoas não brancas. Assim, 80% da população tinha de viver em 13% do território nacional, muitas vezes sem recursos naturais ou industriais, na total indigência.

6. Em 1951, Mandela transformou-se no primeiro advogado negro de Johanesburgo e assumiu a direção do ANC na província de Transvaal um ano depois. Também foi nomeado vice-presidente nacional.

7. À frente do ANC, lançou a campanha de desafio (defiance campaign), contra o governo racista do apartheid, e utilizou a desobediência civil contra as leis segregacionistas. Durante a manifestação do dia 6 de abril de 1952, data do terceiro centenário da colonização da África do Sul pelos brancos, Mandela foi condenado a um ano de prisão. Da sua prisão domiciliar em Johanesburgo, criou células clandestinas do ANC.

8. Em nome da luta contra o apartheid, Mandela preconizou a aliança entre o ANC e o Partido Comunista Sul-Africano. Segundo ele, "o ANC não é um partido comunista, mas um amplo movimento de libertação que, entre seus membros inclui comunistas e outros que não o são. Qualquer pessoa que seja membro leal do ANC, e que respeite a disciplina e os princípios da organização, tem o direito de pertencer às suas fileiras. Nossa relação com o Partido Comunista Sul-Africano como organização é baseada no respeito mútuo. Unimo-nos ao Partido Comunista Sul-Africano em torno daqueles objetivos que nos são comuns, mas respeitamos a independência de cada um e a sua identidade. Não houve tentativa alguma por parte do Partido Comunista Sul-Africano de subverter o ANC. Pelo contrário, essa aliança nos deu força política".

9. Em dezembro de 1956, Mandela foi preso e acusado de traição com mais de uma centena de militantes antiapartheid. Depois de um processo de quatro anos, os tribunais o absolveram.

10. Em março de 1960, depois do massacre de Sharperville, perpetrado pela polícia contra manifestantes antisegregação, que custou a vida de 69 pessoas, o governo do apartheid proibiu o ANC.

11. Mandela fundou então o Umkhonto we Sizwe (MK) e preconizou a luta armada contra o governo racista sul-africano. Antes de optar pela doutrina da violência legítima e necessária, Mandela inspirava-se na filosofia da não violência de Gandhi: "Embora tenhamos pegado em armas, não era nossa opção preferida. Foi o governo do apartheid que nos obrigou a pegar em armas. Nossa opção preferida sempre foi a de encontrar uma solução pacífica para o conflito do apartheid."

12. O MK multiplicou, então, os atos de sabotagem contra os símbolos e as instituições do apartheid, preservando ao mesmo tempo as vidas humanas, lançou com êxito uma greve geral e preparou o terreno para a luta armada com o treinamento militar de seus membros.

13. Durante sua estada na Argélia, em 1962, depois da intervenção do presidente Ahmed Ben Bella, Mandela aproveitou para aperfeiçoar seus conhecimentos sobre guerra de guerrilhas. A Argélia colocou à disposição do ANC campos de treinamento e deu apoio financeiro aos residentes antiapartheid. Mandela recebeu ali uma formação militar. Inspirou-se profundamente na guerra da Frente de Libertação Nacional do povo argelino contra o colonialismo francês. Quando libertado, Mandela dedicou sua primeira viagem ao exterior à Argélia, em maio de 1990, e rendeu tributo ao povo argelino: "Foi a Argélia que fez de mim um homem. Sou argelino, sou árabe, sou muçulmano! Quando fui ao meu país para enfrentar o apartheid, senti-me mais forte". Recordou ter sido "o primeiro sul-africano treinado militarmente na Argélia."

14. Mandela estudou minuciosamente os escritos de Mao e de Che Guevara. Transformou-se em um grande admirador do guerrilheiro cubano-argentino. Depois de ser libertado, declarou: As "façanhas revolucionárias [de Che Guevara] — inclusive no nosso continente — foram de tal magnitude que nenhum encarregado de censura na prisão pôde escondê-las. A vida do Che é uma inspiração para todo ser humano que ame a liberdade. Sempre honraremos sua memória".

15. Cuba foi um dos primeirps paí:ses a dar ajuda ao ANC. A esse respeito, Nelson Mandela destacou: "Que país solicitou a ajuda de Cuba e lhe foi negada? Quantos países ameaçados pelo imperialismo ou que lutam pela sua libertação nacional puderam contar com o apoio de Cuba? Devo dizer que quando quisemos pegar em armas nos aproximamos de diversos governos ocidentais em busca de ajuda e somente obtivemos audiências com ministros de baixíssimo escalão. Quando visitamos Cuba fomos recebidos pelos mais altos funcionários, os quais, de imediato, nos ofereceram tudo o que queríamos e necessitávamos. Essa foi nossa primeira experiência com o internacionalismo de Cuba."

16. No dia 5 de agosto de 1962, depois de 17 meses de vida clandestina, Mandela foi levado à prisão em Johanesburgo, graças à colaboração dos serviços secretos dos Estados Unidos com o governo de Pretoria. A CIA deu às forças repressivas do apartheid a informação necessária para a captura do líder da resistência sul-africana.

17. Acusado de ser o organizador da greve geral de 1961 e de sair ilegalmente do território nacional, foi condenado a cinco anos de prisão.

18. Em julho de 1963, o governo prendeu 11 dirigentes do ANC em Rivonia, perto de Johanesburgo, sede da direção do MK. Todos foram acusados de traição, sabotagem, conspiração com o Partido Comunista e complô destinado a derrubar o governo. Já na prisão, Mandela foi acusado das mesmas coisas.

19. No dia 9 de outubro de 1963, começou o famoso julgamento de Rivonia na Corte Suprema de Pretoria. No dia 20 de abril de 1964, frente ao juiz africâner Quartus de Wet, Mandela desenvolveu sua alegação brilhante e destacou que, frente ao fracasso da desobediência civil como método de combate para conseguir a liberdade, a igualdade ou a justiça, frente aos massacres de Sharperville e à proibição de sua organização, o ANC não teve outro remédio senão recorrer à luta armada para resistir à opressão.

20. No dia 12 de junho de 1964, Mandela e seus companheiros foram declarados culpados de motim e condenados à prisão perpétua.

21. O Conselho de Segurança das Nações Unidas denunciou o julgamento de Rivonia. Em agosto de 1963, condenou o governo do apartheid e pediu às nações do mundo que suspendessem o fornecimento de armas à África do Sul.

22. As grandes nações ocidentais, como Estados Unidos, Grã-Bretanha e França, longe de respeitarem a resolução do Conselho de Segurança, apoiaram o governo racista sul-africano e multiplicaram o fornecimento de armas.

23. De Charles de Gaulle, presidente da França de 1959 a 1969, até o governo de Valéry Giscard d'Estaing, presidente da França de 1974 a 1981, a França foi um fiel aliado do poder racista de Pretoria e negou-se sistematicamente a dar apoio ao ANC em sua luta pela igualdade e pela justiça.

24. Paris nunca deixou de fornecer material militar a Pretoria, provendo até mesmo a primeira central nuclear da África do Sul, em 1976. Sob os governos de De Gaulle e de Georges Pompidou, presidente entre 1969 e 1974, a África do Sul foi o terceiro maior cliente da França em matéria de armamento.

25. Em 1975, o Centro Francês de Comércio Exterior (CFCE) disse que "a França é considerada o único verdadeiro apoio da África do Sul entre os grandes países ocidentais. Não apenas fornece ao país o essencial em matéria de armamentos necessários para sua defesa, mas também se tem mostrado benevolente, ou, mais ainda, um aliado nos debates e nas votações dos organismo internacionais."

26. Preso em Robben Island, com o número 466/64, Mandela viveu 18 anos de sua existência em condições extremamente duras. Não podia receber mais de duas cartas e duas visitas por ano e esteve separado de sua esposa Winnie — que não tinha permissão para visitá-lo — durante 15 anos. Foi condenado a realizar trabalhos forçados, o que afetou seriamente a sua saúde, sem conseguir jamais quebrar sua força moral. Dava cursos de política, literatura e poesia aos seus camaradas de destino e clamava pela resistência. Mandela gostava de recitar o poema Invictus de William Ernest Henley: 
It matters not how strait the gate
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.
Não importa quão estreito é o portão
E quantas são as punições listadas
Sou o mestre do meu destino
Sou o capitão da minha alma.
27. No dia 6 de dezembro de 1971, a Assembleia Geral das Nações Unidas qualificou o apartheid como crime contra a humanidade e exigiu a libertação de Nelson Mandela.

28. Em 1976, o governo sul-africano propôs a Mandela sua libertação em troca da sua renúncia à luta. Madiba negou firmemente a proposta do governo segregacionista.

29. Em novembro de 1976, depois das revoltas de Soweto e da sangrenta repressão que o governo do apartheid desencadeou, o Conselho de Segurança das Nações Unidos impôs um embargo sobre as armas destinadas à África do Sul.

30. Em 1982, Mandela foi transferido para a prisão de Pollsmoor, perto de Cape Town.

31. Em 1985, Pieter Willen Botha, presidente de fato da nação, propôs libertar Mandela se ele se comprometesse, em troca, a renunciar à luta armada. O líder da luta antiapartheid recusou a proposta e exigiu a democracia para todos: "um homem, um voto."

32. Frente ao recrudescimento das operações de guerrilha do MK, o governo segregacionista criou esquadrões da morte com a finalidade de eliminar os militantes do ANC na África do Sul e no exterior. O caso mais famoso é o de Dulci September, assassinada em Paris no dia 29 de março de 1988.

33. A mobilização internacional a favor de Nelson Mandela culminou em um show em Wembley, em junho de 1988, em homenagem aos 70 anos do resistente sul-africano, que foi assistido por 500 milhões de pessoas pela televisão.

34. O elemento decisivo que pôs fim ao apartheid foi a estrepitosa derrota militar que tropas cubanas infligiram ao exército sul-africano em Cuito Cuanavale, no sudeste de Angola, em janeiro de 1988. Fidel Castro enviou seus melhores soldados a Angola depois da invasão do país pelo governo de Pretoria, apoiada pelos Estados Unidos. A vitória de Cuito Cuanavale também permitiu à Namíbia, até então ocupada pela África do Sul, conseguir sua independência.

35. Em um artigo intitulado "Cuito Cuanavale: a batalha que acabou com o apartheid", o historiador Piero Gleijeses, professor da Universidade John Hopkins, de Washington, especialista na política africana de Cuba, aponta que "a proeza dos cubanos nos campos de batalha e seu virtuosismo na mesa de negociações foram decisivos para obrigar a África do Sul a aceitar a independência da Namíbia. Sua exitosa defesa de Cuito foi o prelúdio de uma campanha que obrigou o exército sul-africano a sair de Angola. Essa vitória repercutiu para além de Namíbia."

36. Nelson Mandela, durante sua visita histórica a Cuba, em julho de 1991, lembrou-se daquele episódio: "A presença de vocês e o reforço enviado para a batalha de Cuito Cuanavale têm uma importância verdadeiramente histórica. A derrota esmagadora do exército racista em Cuito Cuanavale constituiu uma vitória para toda a África! Essa contundente derrota do exército racista em Cuito Canavale deu a Angola a possibilidade de desfrutar da paz e de consolidar sua própria soberania. A derrota do exército racista permitiu que o povo combatente da Namíbia alcançasse finalmente a sua independência! A decisiva derrota das forças agressoras do apartheid destruiu o mito da invencibilidade do opressor branco! A derrota do apartheid serviu de inspiração para o povo combatente da África do Sul! Sem a derrota infligida em Cuito Cuanavale nossas organizações não teriam sido legalizadas! A derrota do exército racista em Cuito Cuanavale possibilitou que hoje eu possa estar aqui com vocês! Cuito Cuanavale é um marco na história da luta pela libertação da África austral! Cuito Cuanavale marca a virada da luta para libertar o continente e nosso país do flagelo do apartheid! A decisiva derrota infligida em Cuito Cuanavale alterou a correlação de forças da região e reduziu consideravelmente a capacidade do governo de Pretoria para desestabilizar seus vizinhos. Este feito, em conjunto com a luta do nosso povo dentro do país, foi crucial para fazer Pretoria entender que tinha de se sentar à mesa de negociações."

37. No dia 2 de fevereiro de 1990, o governo segregacionista, moribundo depois da derrota de Cuito Cuanavale, viu-se obrigado a legalizar o ANC e aceitar as negociações.

38. No dia 11 de fevereiro de 1990, Nelson Mandela foi finalmente libertado, depois de 27 anos de prisão.

39. Em junho de 1990 foram abolidas as últimas leis segregacionistas depois da pressão feita por Nelson Mandela, pelo ANC e pelo povo.

40. Eleito presidente do ANC em junho de 1991, Mandela recordou os objetivos: "No ANC sempre estaremos ao lado dos pobres e dos que não têm direitos. Não apenas estaremos junto deles. Vamos garantir antes cedo que tarde que os pobres e sem direitos rejam a terra onde nasceram e que — como expressa a Carta da Liberdade — seja o povo que governe".

41. Fortemente criticado por sua aliança com o Partido Comunista Sul-Africano por causa das potências ocidentais que continuavam a apoiar o governo do apartheid durante o processo de paz, Mandela replicou de modo contundente. "Não temos a menor intenção de fazer caso aos que nos sugerem e aconselham que rompamos essa aliança [com o Partido Comunista]. Quem são os que oferecem esses conselhos não solicitados? Provêm, em sua maioria, dos que nunca nos deram ajuda alguma. Nenhum desses conselheiros fez jamais os sacrifícios que fizeram os comunistas pela nossa luta. Essa aliança nos fortaleceu e a tornaremos ainda mais estreita."

42. Em 1991, Mandela condenou o persistente apoio dos Estados Unidos ao governo do apartheid: "Estamos profundamente preocupados com a atitude que a administração Bush adotou sobre esse assunto. Este foi um dos poucos governos que esteve em contato habitual conosco para examinar a questão das sanções e lhe fizemos ver claramente que eliminar as sanções seria prematuro. No entanto, essa administração, sem nos consultar, simplesmente nos informou que as sanções estadunidenses seriam anuladas. Consideramos isso totalmente inaceitável."

43. Em 1993, Mandela recebeu o Prêmio Nobel da Paz por sua obra a favor da reconciliação nacional.

44. Durante a primeira votação democrática da história da África do Sul, no dia 27 de abril de 1994, Nelson Mandela, de 77 anos, foi eleito presidente da República com mais de 60% dos votos. Governou até 1999.

45. No dia 1 de dezembro de 2009, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, em votação unânime de seus 192 membros, uma resolução que decreta o dia 18 de julho como Dia Internacional Nelson Mandela, em homenagem à luta do herói sul-africano contra todas as injustiças.

46. Se hoje Mandela é cumprimentado por todos, por décadas as potências ocidentais o consideraram um homem perigoso e o combateram apoiando o governo do apartheid.

47. Estados Unidos, França e Grã-Bretanha foram os principais aliados do governo do apartheid, o qual apoiaram até o último momento.

48. Se os Estados Unidos veneram hoje em dia Nelson Mandela, de Clinton a Bush passando por Obama, é conveniente lembrar que ele foi mantido na lista de membros de organizações terroristas até o dia 1 de janeiro de 2008.

49. Nelson Mandela lembrou varias vezes dos laços inquebrantáveis que ligavam a África do Sul a Cuba. "Desde seus primeiros dias, a Revolução Cubana tem sido uma fonte de inspiração para todos os povos amantes da liberdade. O povo cubano ocupa um lugar especial no coração dos povos da África. Os internacionalistas cubanos deram uma contribuição para a independência, para a liberdade e a justiça na África que não tem paralelo pelos princípios e pelo desinteresse que a caracterizam. É muito o que podemos aprender da sua experiência. De modo particular, nos comove a afirmação do vínculo histórico com o continente africano e seus povos. Seu invariável compromisso com a erradicação sistemática do racismo não tem paralelo. Somos conscientes da grande dívida que existe hoje com o povo de Cuba. Que outro país pode mostrar uma história mais desinteressada que a que teve Cuba em suas relações com a África?

50. Thenjiwe Mtintso, embaixadora da África do Sul em Cuba, lembrou-se da verdade histórica a propósito do compromisso de Cuba na África. "Hoje a África do Sul tem muitos amigos novos. Ontem, estes amigos se referiam aos nossos líderes e aos nossos combatentes como terroristas e nos acusavam enquanto apoiavam a África do Sul do apartheid. Esses mesmos amigos hoje querem que nós denunciemos e isolemos Cuba. Nossa resposta é muito simples, é o sangue dos mártires cubanos e não destes amigos que corre profundamente na terra africana e nutre a árvore da liberdade em nossa pátria."
Ver também:

Mandela

 
 
MANDELA: OS ELOGIOS DOS SEM VERGONHA

por Georges Gastaud [*]
Caros amigos e camaradas: 
Lenine dizia que a maneira com que a burguesia consegue sujar os grandes revolucionários consiste em incensá-los a título póstumo depois de os ter perseguido durante toda a sua vida. É o que acontece hoje. A burguesia mundial incensa Mandela depois de o te aprisionado durante 27 anos. Ela quer esconder que os grandes estados capitalistas, França inclusive, se desinteressaram de Mandela durante décadas. Sem vergonha, o grande patronato do nosso país importava os diamantes e as laranjas sul-africanos manchados com o sangue do apartheid. 
Eis porque, não dispondo senão de dois minutos, recordarei três verdades censuradas por aqueles que não vêem em Mandela senão o grande conciliador que, a seus olhos, teria impedido a transição democrática na África do Sul de voltar-se para o que a burguesia mundial mais temia: uma África do Sul socialista. Esta está infelizmente por realizar, para reduzir as enormes desigualdades que subsistem hoje entre a burguesia branca ou negra de Pretória e o proletariado miserável de Soweto. 
Chris Hani. Primeira verdade censurada: a luta anti-apartheid foi conduzida de A a Z pelo Partido Comunista da África do Sul e pelo sindicato de classe COSATU. Mandela foi membro do PC sul-africano que, pela primeira vez, levantou a bandeira da revolta negra e anti-colonial. Honra a Mandela, mas honra também a Chris Hani , dirigente negro do PC sul-africano, assassinado pelo regime racista no princípio dos anos 90. Quando haverá uma praça Chris Hani em Lens e nas cidades dos arredores? 
Segunda verdade: o regime do apartheid e todos os regimes gorilas que o cercavam, o colonialismo dos fascistas portugueses em Angola e Moçambique, países reduzidos ao estado de ghettos na Rodésia e na Namíbia, nunca teria caído, dado o apoio que recebia de Reagan, de Thatcher e de Israel, se Fidel Castro não houvesse enviado à África um contingente militar internacionalista. Foi em Cuito Cuanavale , em Angola, que o exército cubano esmagou o exército do apartheid e foi só a partir desta data que a parte menos bárbara do regime racista aceitou tirar Mandela da sua prisão. O objectivo era sacrificar o apartheid para salvar a propriedade capitalista dos meios de produção, que continua hoje sempre em vigor, apesar de certos progressos democráticos evidentes mas frágeis. Honra a Cuba socialista cujo presidente era hoje o dirigente mais autorizado a prestar a Mandela uma homenagem sincera. 
Terceira verdade: em França foram os comunistas, a começar por Georges Marchais, que apoiaram a luta anti-apartheid enquanto outros não se interessavam senão pelo anti-comunista Walesa ou apresentavam os talibans, atacando o regime laico de Cabul, como "combatentes da liberdade". 
Termino dizendo, com Marwan Bargouti, dirigente do Fatah aprisionado em Israel, que a vitória de Mandela permanecerá incompleta enquanto o povo palestino, com o qual Nelson era solidário, for oprimido. A luta anti-apartheid não terá sido vitoria senão no dia em que, na África do Sul, a polícia do regime actual cessar de atirar sobre os mineiros negros em greve e quando, em França, o poder instituído cessar de derramar lágrimas de crocodilo enquanto expulsa crianças sem documentos à saída das escolas com o único objectivo de fazer esquecer a renúncia a mudar a sociedade. 
Mandela, Chris Hani, vosso combate é mais vital do que nunca em vossa pátria, mas também, infelizmente, na nossa!

[*] Dirigente do PRCF . Discurso pronunciado na homenagem a Nelson Mandela, em Lens, a
08/Dezembro/2013.

Coluna de Beto Almeida
Mandela e Cuba
Mesmo na morte de um gigante da humanidade como o revolucionário Nelson Mandela, o imperialismo não deixa de exibir sua baixeza incorrigível ao buscar manipular a imagem deste líder para mostrá-lo como um conciliador abstrato. A revista Veja , que tem como acionistas empresários sul-africanos apoiadores do apartheid, o apresenta como “o guerreiro da paz”, a quem prenderam e torturaram. Seria o segundo sequestro de Mandela,depois de 27 anos de prisão: o da sua imagem, para que não se saiba tratar-se de um dirigente comunista, revolucionário, que apoiou a luta armada contra o regime racista da África do Sul e a revolução no mundo.

É obrigatório lembrar a posição de Mandela sobre Cuba, sempre sonegada pela mídia do capital, para mostrar seu pensamento por inteiro. Logo após Angola ter conquistado sua independência, em 1975, foi alvo de agressão militar da África do Sul, que ocupou grande parte de seu território, com o apoio dos EUA e Inglaterra, que hoje fazem declarações hipócritas sobre Mandela. O presidente de Angola, Agostinho Neto, solicitou diretamente a Fidel Castro o apoio militar de Cuba. Imediatamente, se organizou uma das maiores operações de ajuda militar internacionalista, com 400 mil cubanos, homens e mulheres, tendo lutado em solo angolano, ao longo de um década, derrotando a agressão imperialista e libertando Angola e Namíbia. A Batalha decisiva foi a de Cuito Cuanavale quando, derrotadas, as tropas do regime racista bateram em retirada. Mandela a declara: “a Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid. Nós devemos a destruição do Apartheid a Cuba!”

Hoje, Cuba, que foi o único país a se levantar em armas em defesa de Angola e Namíbia e contra o Apartheid, continua a compartilhar internacionalmente, médicos, professores, vacinas e exemplos. Com o reconhecimento e solidariedade doo revolucionário Nelson Mandela, que, neste episódio, mostrou sua integridade e grandeza!

Beto Almeida

Diretor de Telesur
Coluna de Emir Sader
Mandela contra a escravidão
A figura de Mandela permanece como a do maior líder popular africano, porque tocou no tema essencial de todo o período histórico da colonização: a escravidão.

A escravidão foi o maior crime de lesa humanidade cometido ao longo de toda a história humana. Tirar milhões de africanos dos seus países, do seu mundo, da sua família, para trazê-los para a América, para trabalhar como escravos, como “raça inferior”, produzindo riquezas para os brancos europeus foi um crime incomensurável, do qual nunca se compensou, sequer minimamente, a África.

O “apartheid” foi uma sobrevivência da escravidão na África do Sul. Como relata o Museu do Apartheid, em Joanesburgo, impressionante testemunho do mundo do racismo, os brancos consideravam essa politica uma “genial arquietetura” para conseguir a convivência entre brancos e negros. Nas mais escandalosas condições de discriminação, de racismo, de opressão.

Por detrás estava a super exploração da mão de obra negra nas minas sul-africanas, fornecedor essencial para os países europeus, sob comando da Holanda. As pessoas eram legalmente declaradas brancas ou negras, com todas as consequencias de direitos para uns e exclusão de direitos para os outros. Uma declaração da qual se poderia apelar todos os anos, mas que, ao mesmo tempo, se corria o risco de alguém questionar a condição de branco de qualquer outra pessoa, que poderia recair na condição de negro.

O cinismo das potências coloniais e dos próprios EUA estava na postura de não aderir ao boicote à Africa do Sul, alegando que isso isolaria ainda mais esse pais e dificultaria negociações politicas. Na verdade, a África do Sul do apartheid era um grande aliado dos EUA – junto com Israel – em todos os conflitos internacionais, alem de fornecedor de matérias primas estratégicas.

Não foi essa via de negociações que o apartheid terminou, mas pela luta, conduzida por Nelson Mandel, mesmo de dentro da cárcere, por 27 anos. Como reconheceu o próprio Mandela, o país que desde o começo apoiou ativamente, sem hesitação, a luta dos sul-africanos foi a Cuba de Fidel, o que forjou entre os dois lideres uma relação de amizade e companheirismo permanente.

A libertação de Mandela, o fim do apartheid e sua eleição como o primeiro presidente negro da Africa do Sul, foram a conclusão de décadas de lutas, de massacres, de prisões, de sacrifícios. Mandela aceitou ser eleito presidente, para concluir esse longo caminho, com a consciência de que estava longa de ser conseguida a emancipação dos sul-africanos. O país manteve a mesma inserção no sistema econômico mundial, as estruturas capitalistas de dominação não foram atingidas. A desigualdade racial foi profundamente afetada, mas não as desigualdades sociais.

Por esta via, os negros sul-africanos continuaram a ser vítimas, agora da pobreza, que os segue afetando de maneira concentrada. Os governos posteriores foram impotentes para mudar o modelo econômico e promover os direitos sociais da massa da população. Os ideias de Mandela se realizaram, com o fim do apartheid, da discriminação racial legalmente explicitada, mas não permitiu aos negros saírem da sua condição de massa super explorada, discriminada, agora socialmente.

Mas a figura de Mandela permanece como a do maior líder popular africano, porque tocou no tema essencial de todo o período histórico da colonização – a escravidão. Ele soube combinar a resistência pacifica e violenta, para canalizar a força acumulada dentro e fora do país, para negociações que terminaram com o apartheid.

O historiador marxista britânico Perry Anderson considera Nelson Mandela e Lula como os maiores líderes populares do mundo contemporâneo, não apenas pelo sucesso das lutas a que eles se dedicaram – contra a discriminação racial e contra a fome -, mas também porque tocam em temas fundamentais das formas de exploração e de opressão do capitalismo. O apartheid terminou, fazendo com que Mandela ficasse como um dos maiores lideres do século XX. Lula projeta sua figura no novo século, na medida em que a sobrevivência do capitalismo e do neocolonialismo reproduzem a fome e a miséria no mundo.
Postado em 08/12/2013 ás 07:51
50 verdades sobre Nelson Mandela

por Salim Lamrani [*]

 
As grandes potências ocidentais opuseram-se até ao último instante à sua luta e apoiaram sempre o governo racista de Pretória
Mas o herói da luta contra o apartheid marcou para sempre a história da África.
No crepúsculo da sua existência, Nelson Mandela passou a ser louvado por aqueles que sempre o combateram ou o ignoraram – como por exemplo Cavaco Silva.
Eles agora choram lágrimas de crocodilo.
1. Nascido no dia 18 de julho de 1918, Nelson Rolihlahla Mandela, apelidado de Madiba, é o símbolo por excelência da resistência à opressão e ao racismo na luta pela justiça e pela emancipação humana.

2. Procedente de uma família de treze filhos, Mandela foi o primeiro a estudar em uma escola metodista e a cursar direito na Universidade de Fort Hare, a única que aceitava, então, pessoas de cor no governo segregacionista do apartheid.

3. Em 1944, aderiu ao Congresso Nacional Africano (ANC) e, particularmente, à sua Liga da Juventude, de inclinação radical.

4. O apartheid, elaborado em 1948 depois da vitória do Partido Nacional Purificado, instaurava a doutrina da superioridade da raça branca e dividia a população sul-africana em quatro grupos distintos: os brancos (20%), os indianos (3%), os mestiços (10%) e os negros (67%). Esse sistema segregacionista discriminava 4/5 da população do país.

5. Foram criados "bantustões", reservas territoriais destinadas às pessoas de cor, para amontoar as pessoas não brancas. Assim, 80% da população tinha de viver em 13% do território nacional, muitas vezes sem recursos naturais ou industriais, na total indigência.

6. Em 1951, Mandela transformou-se no primeiro advogado negro de Johanesburgo e assumiu a direção do ANC na província de Transvaal um ano depois. Também foi nomeado vice-presidente nacional.

7. À frente do ANC, lançou a campanha de desafio (defiance campaign), contra o governo racista do apartheid, e utilizou a desobediência civil contra as leis segregacionistas. Durante a manifestação do dia 6 de abril de 1952, data do terceiro centenário da colonização da África do Sul pelos brancos, Mandela foi condenado a um ano de prisão. Da sua prisão domiciliar em Johanesburgo, criou células clandestinas do ANC.

8. Em nome da luta contra o apartheid, Mandela preconizou a aliança entre o ANC e o Partido Comunista Sul-Africano. Segundo ele, "o ANC não é um partido comunista, mas um amplo movimento de libertação que, entre seus membros inclui comunistas e outros que não o são. Qualquer pessoa que seja membro leal do ANC, e que respeite a disciplina e os princípios da organização, tem o direito de pertencer às suas fileiras. Nossa relação com o Partido Comunista Sul-Africano como organização é baseada no respeito mútuo. Unimo-nos ao Partido Comunista Sul-Africano em torno daqueles objetivos que nos são comuns, mas respeitamos a independência de cada um e a sua identidade. Não houve tentativa alguma por parte do Partido Comunista Sul-Africano de subverter o ANC. Pelo contrário, essa aliança nos deu força política".

9. Em dezembro de 1956, Mandela foi preso e acusado de traição com mais de uma centena de militantes antiapartheid. Depois de um processo de quatro anos, os tribunais o absolveram.

10. Em março de 1960, depois do massacre de Sharperville, perpetrado pela polícia contra manifestantes antisegregação, que custou a vida de 69 pessoas, o governo do apartheid proibiu o ANC.

11. Mandela fundou então o Umkhonto we Sizwe (MK) e preconizou a luta armada contra o governo racista sul-africano. Antes de optar pela doutrina da violência legítima e necessária, Mandela inspirava-se na filosofia da não violência de Gandhi: "Embora tenhamos pegado em armas, não era nossa opção preferida. Foi o governo do apartheid que nos obrigou a pegar em armas. Nossa opção preferida sempre foi a de encontrar uma solução pacífica para o conflito do apartheid."

12. O MK multiplicou, então, os atos de sabotagem contra os símbolos e as instituições do apartheid, preservando ao mesmo tempo as vidas humanas, lançou com êxito uma greve geral e preparou o terreno para a luta armada com o treinamento militar de seus membros.

13. Durante sua estada na Argélia, em 1962, depois da intervenção do presidente Ahmed Ben Bella, Mandela aproveitou para aperfeiçoar seus conhecimentos sobre guerra de guerrilhas. A Argélia colocou à disposição do ANC campos de treinamento e deu apoio financeiro aos residentes antiapartheid. Mandela recebeu ali uma formação militar. Inspirou-se profundamente na guerra da Frente de Libertação Nacional do povo argelino contra o colonialismo francês. Quando libertado, Mandela dedicou sua primeira viagem ao exterior à Argélia, em maio de 1990, e rendeu tributo ao povo argelino: "Foi a Argélia que fez de mim um homem. Sou argelino, sou árabe, sou muçulmano! Quando fui ao meu país para enfrentar o apartheid, senti-me mais forte". Recordou ter sido "o primeiro sul-africano treinado militarmente na Argélia."

14. Mandela estudou minuciosamente os escritos de Mao e de Che Guevara. Transformou-se em um grande admirador do guerrilheiro cubano-argentino. Depois de ser libertado, declarou: As "façanhas revolucionárias [de Che Guevara] — inclusive no nosso continente — foram de tal magnitude que nenhum encarregado de censura na prisão pôde escondê-las. A vida do Che é uma inspiração para todo ser humano que ame a liberdade. Sempre honraremos sua memória".

15. Cuba foi um dos primeirps paí:ses a dar ajuda ao ANC. A esse respeito, Nelson Mandela destacou: "Que país solicitou a ajuda de Cuba e lhe foi negada? Quantos países ameaçados pelo imperialismo ou que lutam pela sua libertação nacional puderam contar com o apoio de Cuba? Devo dizer que quando quisemos pegar em armas nos aproximamos de diversos governos ocidentais em busca de ajuda e somente obtivemos audiências com ministros de baixíssimo escalão. Quando visitamos Cuba fomos recebidos pelos mais altos funcionários, os quais, de imediato, nos ofereceram tudo o que queríamos e necessitávamos. Essa foi nossa primeira experiência com o internacionalismo de Cuba."

16. No dia 5 de agosto de 1962, depois de 17 meses de vida clandestina, Mandela foi levado à prisão em Johanesburgo, graças à colaboração dos serviços secretos dos Estados Unidos com o governo de Pretoria. A CIA deu às forças repressivas do apartheid a informação necessária para a captura do líder da resistência sul-africana.

17. Acusado de ser o organizador da greve geral de 1961 e de sair ilegalmente do território nacional, foi condenado a cinco anos de prisão.

18. Em julho de 1963, o governo prendeu 11 dirigentes do ANC em Rivonia, perto de Johanesburgo, sede da direção do MK. Todos foram acusados de traição, sabotagem, conspiração com o Partido Comunista e complô destinado a derrubar o governo. Já na prisão, Mandela foi acusado das mesmas coisas.

19. No dia 9 de outubro de 1963, começou o famoso julgamento de Rivonia na Corte Suprema de Pretoria. No dia 20 de abril de 1964, frente ao juiz africâner Quartus de Wet, Mandela desenvolveu sua alegação brilhante e destacou que, frente ao fracasso da desobediência civil como método de combate para conseguir a liberdade, a igualdade ou a justiça, frente aos massacres de Sharperville e à proibição de sua organização, o ANC não teve outro remédio senão recorrer à luta armada para resistir à opressão.

20. No dia 12 de junho de 1964, Mandela e seus companheiros foram declarados culpados de motim e condenados à prisão perpétua.

21. O Conselho de Segurança das Nações Unidas denunciou o julgamento de Rivonia. Em agosto de 1963, condenou o governo do apartheid e pediu às nações do mundo que suspendessem o fornecimento de armas à África do Sul.

22. As grandes nações ocidentais, como Estados Unidos, Grã-Bretanha e França, longe de respeitarem a resolução do Conselho de Segurança, apoiaram o governo racista sul-africano e multiplicaram o fornecimento de armas.

23. De Charles de Gaulle, presidente da França de 1959 a 1969, até o governo de Valéry Giscard d'Estaing, presidente da França de 1974 a 1981, a França foi um fiel aliado do poder racista de Pretoria e negou-se sistematicamente a dar apoio ao ANC em sua luta pela igualdade e pela justiça.

24. Paris nunca deixou de fornecer material militar a Pretoria, provendo até mesmo a primeira central nuclear da África do Sul, em 1976. Sob os governos de De Gaulle e de Georges Pompidou, presidente entre 1969 e 1974, a África do Sul foi o terceiro maior cliente da França em matéria de armamento.

25. Em 1975, o Centro Francês de Comércio Exterior (CFCE) disse que "a França é considerada o único verdadeiro apoio da África do Sul entre os grandes países ocidentais. Não apenas fornece ao país o essencial em matéria de armamentos necessários para sua defesa, mas também se tem mostrado benevolente, ou, mais ainda, um aliado nos debates e nas votações dos organismo internacionais."

26. Preso em Robben Island, com o número 466/64, Mandela viveu 18 anos de sua existência em condições extremamente duras. Não podia receber mais de duas cartas e duas visitas por ano e esteve separado de sua esposa Winnie — que não tinha permissão para visitá-lo — durante 15 anos. Foi condenado a realizar trabalhos forçados, o que afetou seriamente a sua saúde, sem conseguir jamais quebrar sua força moral. Dava cursos de política, literatura e poesia aos seus camaradas de destino e clamava pela resistência. Mandela gostava de recitar o poema Invictus de William Ernest Henley: 
It matters not how strait the gate
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.
Não importa quão estreito é o portão
E quantas são as punições listadas
Sou o mestre do meu destino
Sou o capitão da minha alma.
27. No dia 6 de dezembro de 1971, a Assembleia Geral das Nações Unidas qualificou o apartheid como crime contra a humanidade e exigiu a libertação de Nelson Mandela.

28. Em 1976, o governo sul-africano propôs a Mandela sua libertação em troca da sua renúncia à luta. Madiba negou firmemente a proposta do governo segregacionista.

29. Em novembro de 1976, depois das revoltas de Soweto e da sangrenta repressão que o governo do apartheid desencadeou, o Conselho de Segurança das Nações Unidos impôs um embargo sobre as armas destinadas à África do Sul.

30. Em 1982, Mandela foi transferido para a prisão de Pollsmoor, perto de Cape Town.

31. Em 1985, Pieter Willen Botha, presidente de fato da nação, propôs libertar Mandela se ele se comprometesse, em troca, a renunciar à luta armada. O líder da luta antiapartheid recusou a proposta e exigiu a democracia para todos: "um homem, um voto."

32. Frente ao recrudescimento das operações de guerrilha do MK, o governo segregacionista criou esquadrões da morte com a finalidade de eliminar os militantes do ANC na África do Sul e no exterior. O caso mais famoso é o de Dulci September, assassinada em Paris no dia 29 de março de 1988.

33. A mobilização internacional a favor de Nelson Mandela culminou em um show em Wembley, em junho de 1988, em homenagem aos 70 anos do resistente sul-africano, que foi assistido por 500 milhões de pessoas pela televisão.

34. O elemento decisivo que pôs fim ao apartheid foi a estrepitosa derrota militar que tropas cubanas infligiram ao exército sul-africano em Cuito Cuanavale, no sudeste de Angola, em janeiro de 1988. Fidel Castro enviou seus melhores soldados a Angola depois da invasão do país pelo governo de Pretoria, apoiada pelos Estados Unidos. A vitória de Cuito Cuanavale também permitiu à Namíbia, até então ocupada pela África do Sul, conseguir sua independência.

35. Em um artigo intitulado "Cuito Cuanavale: a batalha que acabou com o apartheid", o historiador Piero Gleijeses, professor da Universidade John Hopkins, de Washington, especialista na política africana de Cuba, aponta que "a proeza dos cubanos nos campos de batalha e seu virtuosismo na mesa de negociações foram decisivos para obrigar a África do Sul a aceitar a independência da Namíbia. Sua exitosa defesa de Cuito foi o prelúdio de uma campanha que obrigou o exército sul-africano a sair de Angola. Essa vitória repercutiu para além de Namíbia."

36. Nelson Mandela, durante sua visita histórica a Cuba, em julho de 1991, lembrou-se daquele episódio: "A presença de vocês e o reforço enviado para a batalha de Cuito Cuanavale têm uma importância verdadeiramente histórica. A derrota esmagadora do exército racista em Cuito Cuanavale constituiu uma vitória para toda a África! Essa contundente derrota do exército racista em Cuito Canavale deu a Angola a possibilidade de desfrutar da paz e de consolidar sua própria soberania. A derrota do exército racista permitiu que o povo combatente da Namíbia alcançasse finalmente a sua independência! A decisiva derrota das forças agressoras do apartheid destruiu o mito da invencibilidade do opressor branco! A derrota do apartheid serviu de inspiração para o povo combatente da África do Sul! Sem a derrota infligida em Cuito Cuanavale nossas organizações não teriam sido legalizadas! A derrota do exército racista em Cuito Cuanavale possibilitou que hoje eu possa estar aqui com vocês! Cuito Cuanavale é um marco na história da luta pela libertação da África austral! Cuito Cuanavale marca a virada da luta para libertar o continente e nosso país do flagelo do apartheid! A decisiva derrota infligida em Cuito Cuanavale alterou a correlação de forças da região e reduziu consideravelmente a capacidade do governo de Pretoria para desestabilizar seus vizinhos. Este feito, em conjunto com a luta do nosso povo dentro do país, foi crucial para fazer Pretoria entender que tinha de se sentar à mesa de negociações."

37. No dia 2 de fevereiro de 1990, o governo segregacionista, moribundo depois da derrota de Cuito Cuanavale, viu-se obrigado a legalizar o ANC e aceitar as negociações.

38. No dia 11 de fevereiro de 1990, Nelson Mandela foi finalmente libertado, depois de 27 anos de prisão.

39. Em junho de 1990 foram abolidas as últimas leis segregacionistas depois da pressão feita por Nelson Mandela, pelo ANC e pelo povo.

40. Eleito presidente do ANC em junho de 1991, Mandela recordou os objetivos: "No ANC sempre estaremos ao lado dos pobres e dos que não têm direitos. Não apenas estaremos junto deles. Vamos garantir antes cedo que tarde que os pobres e sem direitos rejam a terra onde nasceram e que — como expressa a Carta da Liberdade — seja o povo que governe".

41. Fortemente criticado por sua aliança com o Partido Comunista Sul-Africano por causa das potências ocidentais que continuavam a apoiar o governo do apartheid durante o processo de paz, Mandela replicou de modo contundente. "Não temos a menor intenção de fazer caso aos que nos sugerem e aconselham que rompamos essa aliança [com o Partido Comunista]. Quem são os que oferecem esses conselhos não solicitados? Provêm, em sua maioria, dos que nunca nos deram ajuda alguma. Nenhum desses conselheiros fez jamais os sacrifícios que fizeram os comunistas pela nossa luta. Essa aliança nos fortaleceu e a tornaremos ainda mais estreita."

42. Em 1991, Mandela condenou o persistente apoio dos Estados Unidos ao governo do apartheid: "Estamos profundamente preocupados com a atitude que a administração Bush adotou sobre esse assunto. Este foi um dos poucos governos que esteve em contato habitual conosco para examinar a questão das sanções e lhe fizemos ver claramente que eliminar as sanções seria prematuro. No entanto, essa administração, sem nos consultar, simplesmente nos informou que as sanções estadunidenses seriam anuladas. Consideramos isso totalmente inaceitável."

43. Em 1993, Mandela recebeu o Prêmio Nobel da Paz por sua obra a favor da reconciliação nacional.

44. Durante a primeira votação democrática da história da África do Sul, no dia 27 de abril de 1994, Nelson Mandela, de 77 anos, foi eleito presidente da República com mais de 60% dos votos. Governou até 1999.

45. No dia 1 de dezembro de 2009, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, em votação unânime de seus 192 membros, uma resolução que decreta o dia 18 de julho como Dia Internacional Nelson Mandela, em homenagem à luta do herói sul-africano contra todas as injustiças.

46. Se hoje Mandela é cumprimentado por todos, por décadas as potências ocidentais o consideraram um homem perigoso e o combateram apoiando o governo do apartheid.

47. Estados Unidos, França e Grã-Bretanha foram os principais aliados do governo do apartheid, o qual apoiaram até o último momento.

48. Se os Estados Unidos veneram hoje em dia Nelson Mandela, de Clinton a Bush passando por Obama, é conveniente lembrar que ele foi mantido na lista de membros de organizações terroristas até o dia 1 de janeiro de 2008.

49. Nelson Mandela lembrou varias vezes dos laços inquebrantáveis que ligavam a África do Sul a Cuba. "Desde seus primeiros dias, a Revolução Cubana tem sido uma fonte de inspiração para todos os povos amantes da liberdade. O povo cubano ocupa um lugar especial no coração dos povos da África. Os internacionalistas cubanos deram uma contribuição para a independência, para a liberdade e a justiça na África que não tem paralelo pelos princípios e pelo desinteresse que a caracterizam. É muito o que podemos aprender da sua experiência. De modo particular, nos comove a afirmação do vínculo histórico com o continente africano e seus povos. Seu invariável compromisso com a erradicação sistemática do racismo não tem paralelo. Somos conscientes da grande dívida que existe hoje com o povo de Cuba. Que outro país pode mostrar uma história mais desinteressada que a que teve Cuba em suas relações com a África?

50. Thenjiwe Mtintso, embaixadora da África do Sul em Cuba, lembrou-se da verdade histórica a propósito do compromisso de Cuba na África. "Hoje a África do Sul tem muitos amigos novos. Ontem, estes amigos se referiam aos nossos líderes e aos nossos combatentes como terroristas e nos acusavam enquanto apoiavam a África do Sul do apartheid. Esses mesmos amigos hoje querem que nós denunciemos e isolemos Cuba. Nossa resposta é muito simples, é o sangue dos mártires cubanos e não destes amigos que corre profundamente na terra africana e nutre a árvore da liberdade em nossa pátria."
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