terça-feira, 27 de junho de 2017

a Onde Nasce o Arco Ìris

Diversidade e violência são temas discutidos de forma lúdica no espetáculo infantil “Aonde nasce o arco íris?” 
O Coletivo Cultural Sankofa apresenta o espetáculo Aonde Nasce o Arco-Íris?, que, através da história de um menino e sua boneca, trata de questões presentes no universo familiar e escolar de muitas crianças consideradas “diferentes”.
Maria é uma menina que nasceu boneca de pano, mas não se reconhece como tal e sonha em ser uma bailarina. Rafa é uma criança solitária e apaixonada por revistas de moda, amigo inseparável de Maria. Na história, Maria e Rafa saem em uma incrível jornada em busca do arco-íris, pois lá eles têm certeza de que realizarão seus desejos de poder ser quem quiserem ser.
Os personagens da peça apresentam conflitos de famílias que não conseguem conviver com as diferenças que as crianças apresentam e acabam limitando a experiência do brincar na certeza de que estão ”educando”.  O Coletivo Cultural Sankofa traz para a cena a criança que explora e descobre possibilidades de brincar e de ser, e nessa experiência lúdica elas transgridem os tabus culturais impostos pelos adultos.  “A peça que é uma mistura de histórias reais de violência doméstica com literatura infantil, aproxima o público de um realismo fantástico sobre diversidade”, explica Adriano Mota, diretor e dramaturgo do espetáculo.  Mota, ainda completa que “precisamos falar de diferenças e diversidades desde cedo com as crianças, sobretudo com seus pais e professores, pois são os adultos que limitam a experiência da infância”.
 
O espetáculo já passou por parques, praças, festivais, casas ficará em temporada no Viga Espaço Cênico. Nessas férias tragam as crianças para brincar com a gente e descobrir onde nasce o tal arco íris.

FICHA TÉCNICA
Concepção: Anderson Maciel
Direção e Dramaturgia:
 Adriano Mota
Assistente de Direção: Anderson Maciel
Elenco:
 Davi Scorzato, Rodrigo Mar e Tata Ribeiro 
Músicista convidado:
 Zana Cândido
Figurinos e Cenografia:
 Sissa Oliveira e Márcia Novais
Trilha Sonora:
 Fábricio Zavanella 
Fotografia:
 Sissa Oliveira e Orlando Sousa
Produção Executiva:
 Anderson Maciel

SERVIÇO
Dias: 08, 15, 22 e 29 de julho, às 16h  - Sábados
Viga Espaço Cênico – Rua Capote Valente, 1323 – Pinheiros – São Paulo – 
R$ 40,00
Duração: 40 minutos
Classificação: Livre
Lotação: 40 Lugares




-- 
Att.
(11) 98358-6607 / (11) 98314-4598
Site oficial: 
https://ccsankofa.wordpress.com/

Facebook: https://www.facebook.com/coletivoculturalsankofa
Instagram: @coletivoculturalsankofa


"Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância."
Simone de Beauvoir

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Telos Cursos


Curso Feminista

Cinedebate do filme "Estrelas Além do Tempo"

Emancipa Mulher convida todas para a aula inaugural do segundo módulo do curso de formação feminista e resistência antirracista exclusivo para mulheres.

O segundo módulo do curso vai tratar do tema: "Mulheres e o mundo do trabalho". Por isso, nossa aula inaugural será um cinedebate sobre o filme "Estrelas Além do Tempo", que demonstra o machismo e o racismo enfrentado por três trabalhadoras da NASA nos anos 1960. As organizadoras do curso, Luciana Genro, Winnie Bueno, Joanna Burigo e Nina Becker, debaterão o filme com o público presente.

A aula inaugural ocorrerá no dia 1 de julho, um sábado, às 14h30min, no auditório do Sindisprev-RS (Travessa Francisco Leonardo Truda, 40, 12º andar, no Centro de Porto Alegre).

Se você já é aluna do Emancipa Mulher, apenas confirme presença no evento. Se você ainda não é aluna, inscreva-se aqui:https://goo.gl/naQevw
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Equipe 50
LucianaGenro.com.br contato@lucianagenro.com.br
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Centro - Porto Alegre, RS

Luta Negra




Literatura
Florestan Fernandes: a luta negra é de todos
por Eduardo Nunomura — publicado 24/06/2017 01h00, última modificação 23/06/2017 12h46
A reedição de "Significado do Protesto Negro" serve de alerta para os movimentos incorporarem a luta contra o racismo aos protestos de hoje






Wilson Melo/Folhapress


O ex-engraxate e garçom Florestan entrou na USP em 1941
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Não passou despercebida a forma racista com que o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, se referiu ao ex-ministro e ex-colega de Corte Joaquim Barbosa. A expressão “negro de primeira linha” oculta, como o próprio ministro admitiu depois, um viés racista presente no “nosso inconsciente”.

Uma antiga reflexão do sociólogo Florestan Fernandes lança um diagnóstico mais aprofundado do que os pretensos debates nas redes sociais sobre o problema: “A democracia só será uma realidade quando houver, de fato, igualdade racial no Brasil e o negro não sofrer nenhuma espécie de discriminação, de preconceito, de estigmatização e de segregação, seja em termos de classe, seja em termos de raça”.

Escrita há 30 anos, essa frase está no livroSignificado do Protesto Negro, relançado agora pela Editora Expressão Popular (iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e de outros movimentos sociais), em coedição com a Fundação Perseu Abramo. Ela é lapidar para mostrar como o pensamento do pai da sociologia crítica permanece atualíssimo: “O negro vem a ser a pedra de toque da revolução democrática na sociedade brasileira”.
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O sociólogo orientou a trse do doutorando (e futuro presidente) Fernando Henrique Cardoso, O Negro na Sociedade de Castas (Foto: Lula Marques/Folhapress)

Florestan via um potencial revolucionário se e quando os brasileiros percebessem a força da combinação das lutas de raça e de classes. Ou, em outras palavras, enquanto não surgir uma consciência coletiva de que é preciso superar o “dilema racial brasileiro”, o País estará fadado a perder cada uma das batalhas (raciais, classistas, feministas, secundaristas etc.) contra a ordem burguesa do capitalismo.

É por essa razão que continuamos a ver negros sofrendo dos problemas seculares herdados de uma abolição dos escravos que abandonou à própria sorte uma massa de trabalhadores, assim como pobres brancos que, embora passem longe dos problemas de preconceito, discriminação ou racismo, não têm poder para enfrentar as relações desiguais entre patrões e empregados. “Proletários de todas as raças do mundo, uni-vos”, conclamava o sociólogo, para que negros e brancos pudessem forjar a sua sociedade, e não a dos capitalistas.

Significado do Protesto Negro foi publicado pela Editora Cortez/Autores Associados, em 1989, e contém ensaios sobre a questão do negro produzidos por Florestan Fernandes. Nesta reedição, que será a primeira a ser entregue no Clube do Livro da Editora Expressão Popular, foram reproduzidos os textos da primeira versão e mais três outros, publicados separadamente, como a íntegra da emenda constitucional em que ele defendia uma proposta de reparação ao povo negro.

Em lugar de uma visão paternalista, o sociólogo buscava engajar os movimentos negros numa luta mais radical para combater as desigualdades sociais. Entendia que “a revolução dentro da ordem é insuficiente para eliminar as equidades econômicas, educacionais, culturais e políticas”.

A relação de Florestan com a militância do movimento negro brasileiro surgiu a partir de fins da década de 1940. Foi quando ele recebeu convite do antropólogo francês Roger Bastide, um estudioso das religiões africanas no Brasil, para participar de um projeto de pesquisa da Unesco em São Paulo.

O resultado desse estudo, contudo, foi diverso do pretendido pela Unesco, que procurava mapear as distinções do preconceito existente nos Estados Unidos e no Brasil. A pesquisa de Bastide e Florestan mostrou que o preconceito não só existia como também “guardava profundas raízes com a escravidão e, o que é muito significativo, também o seu fim”, anotou o jornalista e editor Haroldo Ceravolo Sereza, autor de uma biografia do sociólogo (Florestan, a Inteligência Militante, Boitempo, 2005).

Aquela pesquisa resultou no livro Brancos e Negros em São Paulo, de 1971, e marcou o início da formação de um grupo intelectual de peso na Universidade de São Paulo. E Florestan ficou “muito mais confortável com o trato de questões contemporâneas e com a autoidentificação como um sociólogo que faz suas escolhas com base na própria experiência e em suas posições políticas, ou seja, mais próximo do sociólogo ‘crítico e militante’”, afirmou Sereza.

Filho de uma empregada doméstica, que aos 6 anos limpava as roupas dos clientes de uma barbearia e depois virou engraxate e garçom, Florestan entrou na USP em 1941, quando a instituição criada pela e para a elite paulista crescia a ponto de ter de ceder espaço para estudantes de famílias pobres.

“Sociólogo mais completo de sua geração”, nas palavras do amigo Antonio Candido, Florestan Fernandes liderou a chamada “escola paulista de sociologia”, da qual fizeram parte Fernando Henrique Cardoso e Octavio Ianni.

O primeiro defendeu a tese de doutorado Formação e Desintegração da Sociedade de Castas: O negro na ordem escravocrata no Rio Grande do Sul, e o segundo, O Negro na Sociedade de Castas. Florestan foi o orientador de ambos.

Em Significado do Protesto Negro, enaltece a organização do movimento negro nos anos 1930 e 1940 em São Paulo e no Rio de Janeiro, rapidamente reprimida pelo Estado Novo, de Getúlio Vargas.

Um dos grandes nomes lembrados pelo sociólogo é o de José Correia Leite, que publicou O Clarim d’Alvorada, um jornal feito por negros para a comunidade negra. Para Florestan, a ascensão de vozes como a de Leite permitiu o surgimento de uma forte contraideologia racial, um desejo por uma “segunda abolição”.

Nos anos 1960 e 1970, sobretudo com o Movimento Negro Unificado, o negro ativista voltava a realizar protestos, já tendo a consciência de que a luta seria contra oracismo institucional. O problema, apontava Florestan, era como sair dessa armadilha.

“O desafio consiste em opor um racismo institucional branco a um racismo libertário negro. Ele se apresenta na necessidade de forjar uma sociedade igualitária inclusiva, na qual nenhum racismo ou forma de opressão possa substituir e florescer”, dizia.

Filiado ao PT e deputado federal (1987 a 1995), Florestan não hesitava em contrariar o partido, como fez ao participar da revisão da Constituição, em 1994. O sociólogo queria que os líderes petistas assumissem uma postura de defesa clara e inquestionável em favor da causa negra.

Durante o Estado Novo, o pioneiro José Correia Leite editou um jornal feito por negros para a comunidade negra



“Não basta recorrer ao ‘movimento popular’ como terapêutica de assistência social e de ‘cura’ na opção pelos excluídos. O dilema social (...) exige uma contraviolência que remova a concentração racial da riqueza, da cultura e do poder”, afirmou. Em tempos de golpe, ler ou reler Florestan é uma boa forma de iluminar os reaisproblemas brasileiros e evitar a institucionalização eterna de construções como “um negro de primeiro linha”.

O MOVIMENTO DOS SEM-EDITORA

A Editora Expressão Popular nasceu em 1999 da iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Movimento dos Atingidos pelas Barragens e de pastorais sociais, entre outras organizações da sociedade civil.

O objetivo era produzir livros baratos e acessíveis para a militância. Isso tem sido possível com escritores que cedem os direitos autorais, diagramadores, tradutores e revisores que aceitam fazer trabalhos voluntários de edição e buscando formas alternativas de distribuição. Uma versão de bolso do Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels, é vendida por 4 reais.

“No início, os títulos eram mais para a formação da militância na política, mas isso foi se ampliando para outras áreas, como no campo da agroecologia”, explica o editor-assistente da Expressão Popular, Miguel Yoshida. A partir de 2010, o siteexpressaopopular.com.br virou também uma livraria de outras editoras que comungam da mesma matriz ideológica.

O novo passo a ser dado é a criação do Clube do Livro Expressão Popular. Por um custo mensal a partir de 35 reais, já incluídas as despesas de correio, os simpatizantes da editora terão acesso mensal a um ou mais livros do acervo, que já ultrapassa os 500 títulos publicados. O primeiro a ser entregue aos leitores é o livro de Florestan Fernandes.

Classe Média

Entrevista

Jessé Souza: “A classe média é feita de imbecil pela elite”
por Sergio Lirio — publicado 23/06/2017 00h30, última modificação 24/06/2017 14h33
Os extratos médios, diz o sociólogo, defendem de forma acrítica os interesses dos donos do poder e perpetuam uma sociedade cruel forjada na escravidão


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Paulo Pinto/Fotos Públicas


Inocentes úteis? Ou só úteis?



Em agosto, o sociólogo Jessé Souza lança novo livro, A Elite do Atraso – da Escravidão à Lava Jato. De certa forma, a obra compõe uma trilogia, ao lado de A Tolice da Inteligência Brasileira, de 2015, e de A Ralé Brasileira, de 2009, um esforço de repensar a formação do País.

Neste novo estudo, o ex-presidente doInstituto de Pesquisa Econômica Aplicadaaprofunda sua crítica à tese do patrimonialismo como origem de nossas mazelas e localiza na escravidão os genes de uma sociedade “sem culpa e remorso, que humilha e mata os pobres”. A mídia, a Justiça e a intelectualidade, de maneira quase unânime, afirma Souza na entrevista a seguir, estão a serviço dos donos do poder e se irmanam no objetivo de manter o povo em um estado permanente de letargia. A classe média, acrescenta, não percebe como é usada. “É feita de imbecil” pela elite.

CartaCapital: O impeachment de Dilma Rousseff, afirma o senhor, foi mais uma prova do pacto antipopular histórico que vigora no Brasil. Pode explicar?
Jessé Souza: A construção desse pacto se dá logo a partir da libertação dos escravos, em 1888. A uma ínfima elite econômica se une uma classe, que podemos chamar de média, detentora do conhecimento tido como legítimo e prestigioso. Ela também compõe a casta de privilegiados. São juízes, jornalistas, professores universitários. O capital econômico e o cultural serão as forças de reprodução do sistema no Brasil.

Em outra ponta, temos uma classe trabalhadora precarizada, próxima dos herdeiros da escravidão, secularmente abandonados. Eles se reproduzem aos trancos e barrancos, formam uma espécie de família desestruturada, sem acesso à educação formal. É majoritariamente negra, mas não só. Aos negros libertos juntaram-se, mais tarde, os migrantes nordestinos. Essa classe desprotegida herda o ódio e o desprezo antes destinados aos escravos. E pode ser identificada pela carência de acesso a serviços e direitos. Sua função na sociedade é vender a energia muscular, como animais. É ao mesmo tempo explorada e odiada.

CC: A sociedade brasileira foi forjada à sombra da escravidão, é isso?
JS: Exatamente. Muito se fala sobre a escravidão e pouco se reflete a respeito. A escravidão é tratada como um “nome” e não como um “conceito científico” que cria relações sociais muito específicas. Atribuiu-se muitas de nossas características à dita herança portuguesa, mas não havia escravidão em Portugal. Somos, nós brasileiros, filhos de um ambiente escravocrata, que cria um tipo de família específico, uma Justiça específica, uma economia específica. Aqui valia tomar a terra dos outros à força, para acumular capital, como acontece até hoje, e humilhar e condenar os mais frágeis ao abandono e à humilhação cotidiana.

CC: Um modelo que se perpetua, anota o senhor no novo livro.
JS: Sim. Como essa herança nunca foi refletida e criticada, continua sob outras máscaras. O ódio aos pobres é tão intenso que qualquer melhora na miséria gera reação violenta, apoiada pela mídia. E o tipo de rapina econômica de curto prazo que também reflete o mesmo padrão do escravismo.

CC: Como isso influencia a interpretação do Brasil?
JS: A recusa em confrontar o passado escravista gera uma incompreensão sobre o Brasil moderno. Incluo no problema de interpretação da realidade a tese do patrimonialismo, que tanto a direita quanto a esquerda, colonizada intelectualmente pela direita, adoram. O conceito de patrimonialismo serve para encobrir os interesses organizados no chamado mercado. Estigmatiza a política e o Estado, os “corruptos”, e estimula em contraponto a ideia de que o mercado é um poço de virtudes.
"O ódio aos pobres é intenso"

CC: O moralismo seletivo de certos setores não exprime mais um ódio de classe do que a aversão à corrupção?
JS: Sim. Uma parte privilegiada da sociedade passou a se sentir ameaçada pela pequena ascensão econômica desses grupos historicamente abandonados. Esse sentimento se expressava na irritação com a presença de pobres em shopping centers e nos aeroportos, que, segundo essa elite, tinham se tornado rodoviárias.

A irritação aumentou quando os pobres passaram a frequentar as universidades. Por quê? A partir desse momento, investiu-se contra uma das bases do poder de uma das alas que compõem o pacto antipopular, o acesso privilegiado, quase exclusivo, ao conhecimento formal considerado legítimo. Esse incômodo, até pouco tempo atrás, só podia ser compartilhado em uma roda de amigos. Não era de bom tom criticar a melhora de vida dos mais pobres.

CC: Como o moralismo entra em cena?
JS: O moralismo seletivo tem servido para atingir os principais agentes dessa pequena ascensão social, Lula e o PT. São o alvo da ira em um sistema político montado para ser corrompido, não por indivíduos, mas pelo mercado. São os grandes oligopólios e o sistema financeiro que mandam no País e que promovem a verdadeira corrupção, quantitativamente muito maior do que essa merreca exposta pela Lava Jato. O procurador-geral, Rodrigo Janot, comemora a devolução de 1 bilhão de reais aos cofres públicos com a operação. Só em juros e isenções fiscais o Brasil perde mil vezes mais.

Souza: novo livro em agosto (Foto: Filipe Vianna)

CC: Esse pacto antipopular pode ser rompido? O fato de os antigos representantes políticos dessa elite terem se tornado alvo da Lava Jato não fragiliza essa relação, ao menos neste momento?
JS: Sem um pensamento articulado e novo, não. A única saída seria explicitar o papel da elite, que prospera no saque, na rapina. A classe média é feita de imbecil. Existe uma elite que a explora. Basta se pensar no custo da saúde pública. Por que é tão cara? Porque o sistema financeiro se apropriou dela. O custo da escola privada, da alimentação. A classe média está com a corda no pescoço, pois sustenta uma ínfima minoria de privilegiados, que enforca todo o resto da sociedade. A base da corrupção é uma elite econômica que compra a mídia, a Justiça, a política, e mantém o povo em um estado permanente de imbecilidade.

CC: Qual a diferença entre a escravidão no Brasil e nos Estados Unidos?
JS: Não há tanta diferença. Nos Estados Unidos, a parte não escravocrata dominou a porção escravocrata. No Brasil, isso jamais aconteceu. Ou seja, aqui é ainda pior. Os Estados Unidos não são, porém, exemplares. Por conta da escravidão, são extremamente desiguais e violentos. Em países de passado escravocrata, não se vê a prática da cidadania. Um pensador importante, Norbert Elias, explica a civilização europeia a partir da ruptura com a escravidão. É simples. Sem que se considere o outro humano, não se carrega culpa ou remorso. No Brasil atual prospera uma sociedade sem culpa e sem remorso, que humilha e mata os pobres.

CC: Algum dia a sociedade brasileira terá consciência das profundas desigualdades e suas consequências?
JS: Acho difícil. Com a mídia que temos, desregulada e a serviço do dinheiro, e a falta de um padrão de comparação para quem recebe as notícias, fica muito complicado. É ridícula a nossa televisão. Aqui você tem programas de debates com convidados que falam a mesma coisa. Isso não existe em nenhum país minimamente civilizado. É difícil criar um processo de aprendizado.

CC: O senhor acredita em eleições em 2018?
JS: Com a nossa elite, a nossa mídia, a nossa Justiça, tudo é possível. O principal fator de coesão da elite é o ódio aos pobres. Os políticos, por sua vez, viraram símbolo da rapinagem. Eles roubam mesmo, ao menos em grande parte, mas, em analogia com o narcotráfico, não passam de “aviõezinhos”. Os donos da boca de fumo são o sistema financeiro e os oligopólios. São estes que assaltam o País em grandes proporções. E somos cegos em relação a esse aspecto. A privatização do Estado é montada por esses grandes grupos. Não conseguimos perceber a atuação do chamado mercado. Fomos imbecilizados por essa mídia, que é paga pelos agentes desse mercado. Somos induzidos a acreditar que o poder público só se contrapõe aos indivíduos e não a esses interesses corporativos organizados. O poder real consegue ficar invisível no País.

CC: O quanto as manifestações de junho de 2013, iniciadas com os protestos contra o reajuste das tarifas de ônibus em São Paulo, criaram o ambiente para a atual crise política?
JS: Desde o início aquelas manifestações me pareceram suspeitas. Quem estava nas ruas não era o povo, era gente que sistematicamente votava contra o projeto do PT, contra a inclusão social. Comandada pela Rede Globo, a mídia logrou construir uma espécie de soberania virtual. Não existe alternativa à soberania popular. Só ela serve como base de qualquer poder legítimo. Essa mídia venal, que nunca foi emancipadora, montou um teatro, uma farsa de proporções gigantescas, em torno dessa soberania virtual.

Um resumo das relações sociais no Brasil

CC: Mas aquelas manifestações foram iniciadas por um grupo supostamente ligado a ideias progressistas...
JS: Só no início. A mídia, especialmente a Rede Globo, se sentiu ameaçada no começo daqueles protestos. E qual foi a reação? Os meios de comunicação chamaram o seu povo para as ruas. Assistimos ao retorno da família, propriedade e tradição. Os mesmos “valores” que justificaram as passeatas a favor do golpe nos anos 60, empunhados pelos mesmos grupos que antes hostilizavam Getúlio Vargas. Esse pacto antipopular sempre buscou tornar suspeito qualquer representante das classes populares que pudesse ser levado pelo voto ao comando do Estado. Não por acaso, todos os líderes populares que chegaram ao poder foram destituídos por meio de golpes.