sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Por um 2009

Povo, Mais uma vez, nos vemos envolvidos pelo clima de "final de ano" e nos sentimos meio que compelidos a refletir, dizer algo, fazer "balanços" e coisas afins. E quem me conhece sabe que gosto destes rituais "de passagem" e acredito que particularmente este, que celebra o "Ano Novo", merece ser lembrado e compartilhado com as pessoas que nos acompanham. Então, tomem este texto mais como "conversa de final de ano" do que qualquer outra coisa. Gosto do "ano novo" não, obviamente, pela comercialização desenfreada nem pelos sentimentalismos sentimentalóides que cercam muita gente nesta época do ano. Nem mesmo em função de umas tantas fantasias (e delírios), muitas vezes hipócritas, que contaminam retrospectivas do ano morimbundo e as perspectivas para o ano que nasce. Sinceramente, o que acho legal nesta história toda é o que ela guarda e diz sobre uma daquelas coisas que compõem a própria essência do que é "ser humano": nossa contraditória e apaixonada relação com o tempo. Afinal, é exatamente a passagem do tempo que celebramos com velas e fogos e, eventualmente, lamentamos com lágrimas. É o "tempo" que ritualizamos ao ponto de dar "poderes especiais" à passagem de um segundo, tentando transformá-lo em amuleto mágico para os 365 dias que virão pela frente. Como também é "tempo" que banalizamos e "perdemos" cotidianamente com bobagens e mazelas que, quando vistas em perspectiva, se mostram completamente vazias de sentido. Seja como for, foi pensando nisto que, ao rever 2008, me dei conta que uma das efemérides menos comentada do ano talvez fosse a mais adequada para falar sobre o "passar do tempo" e, que sabe, carregarmos algo deste turbulento ano para 2009: os 80 anos do "Manifesto Antropófago", de Mário de Andrade e Tarsila do Amaral. Falamos muito de um pouco lido Machado, celebramos uma sempre inconclusa abolição e até reescrevemos a História sobre a "segunda" ocupação do país. Mas, infelizmente, e não por acaso, faltaram celebrações e festas àquela que foi uma das grandes contribuições mais importante para a cultura e a vida deste país: a Antropofagia ou, em outras palavras, a sempre presente possibilidade de nos reinventarmos; a recusa à mesmice; o convite à renovação constante. Por isso, ao povo que me acompanha pelos muitos caminhos que cruzo durante o ano, acho que a melhor coisa que posso desejar é que, em 2009, SEJAMOS UM POUCO MAIS ANTROPOFÁGICOS. Particularmente em tempos neoliberais, marcados pela elevação do "presente", da "estabilidade" e do "indivíduo" à condição de semi-deuses, acho que uma boa forma para se começar o ano é lembrando o ensinamento Modernista: o novo só pode surgir da rearticulação com o velho; a renovação só pode brotar de dialéticas "disputas" com o "outro" e todo esse processo é tão contraditório e enigmático (e, por isso mesmo, belo) como os mistérios que se escondem por trás da máxima "oswaldiana": "Tupy or not tupy! That´s the question!". Afinal, ser "antropófago" também significa questionar quem somos, diante de nós e dos outros; significa desestruturar pré-conceitos, redimensionar limites, recriar possibilidades. Por isso, desejar a vocês um "2009 mais antropófago", para mim, significa desejar um ano cheio de constantes renovações; carregado de energias contra as consciências enlatadas e as idéias cadaverizadas e prenhe de criatividade e ousadia. E não nos esqueçamos que principalmente num mundo e num país como estes em que estamos mergulhados, não pode nos faltar alegria. Afinal, arrancar alegria de uma "geléia geral" como a que vivemos é mais do que uma "prova dos nove". É arma fundamental para seguir em frente. No mais, e sem querer ser redundante, fiquem com o antropofágico poema do Drummond e estejam certos em poder contar comigo no banquete que nos aguarda em 2009. Wilson Honório Redeglutindo Oswald, 80 anos depois.=====================================Carlos Drummond de AndradeReceita de ano novoPara você ganhar belíssimo Ano Novocor do arco-íris, ou da cor da sua paz,Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido(mal vivido talvez ou sem sentido)para você ganhar um anonão apenas pintado de novo, remendado às carreiras,mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;novoaté no coração das coisas menos percebidas(a começar pelo seu interior)novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,mas com ele se come, se passeia,se ama, se compreende, se trabalha,você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,não precisa expedir nem receber mensagens(planta recebe mensagens?passa telegramas?)Não precisafazer lista de boas intençõespara arquivá-las na gaveta.Não precisa chorar arrependidopelas besteiras consumidasnem parvamente acreditarque por decreto de esperançaa partir de janeiro as coisas mudeme seja tudo claridade, recompensa,justiça entre os homens e as nações,liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,direitos respeitados, começandopelo direito augusto de viver.Para ganhar um Ano Novoque mereça este nome,você, meu caro, tem de merecê-lo,tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,mas tente, experimente, consciente.É dentro de você que o Ano Novocochila e espera desde sempre.
hasEML = false;

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sim