terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

América do Sul

30.01.09 - AMÉRICA DO SUL





Presidentes reafirmam compromissos com movimentos sociais




O ginásio de esporte da Universidade Estadual do Pará (UEPA), em Belém, foi palco na tarde de ontem (29) de um encontro memorável. Pela primeira vez, um Fórum Social Mundial reuniu num mesmo espaço, numa mesma mesa, representantes de movimentos sociais e os mandatários dos quatros países que atualmente estão na linha de frente do que podemos chamar de governos progressistas, ou indo mais além, com processos revolucionários em curso. Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Fernando Lugo (Paraguai) dividiram a mesa com Nalu Farias (Marcha das Mulheres, do Brasil), João Pedro Stedile (MST, Brasil), Pablo Reyner (Central de Trabalhadores Argentina), entre outros (as) representantes.

O evento, convocado pelos movimentos sociais como a Via Campesina, que agrega os principais movimentos agrários, Jubileu Sul, CAOI, Aliança Social Continental, teve como objetivo realizar um diálogo para a "Integração Popular de Nossa América". Segundo a Via Campesina, "infelizmente", o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, não foi convidado para a mesa, "sabemos claramente quais são os governos que hoje estão mais compromissados com as demandas populares".

Rafael Correa, com nova Constituição e adotando medidas há tempos cobradas pelos movimentos sociais, como a não renovação do contrato que permite a permanência da Base de Manta; Evo Morales, que enfrentou recente levante da minoria economicamente rica da Bolívia, e saiu vitorioso de um referendo no último dia 25; Fernando Lugo, que trabalha para cumprir uma de suas promessas de campanha, pedindo a renegociação do Tratado de Itaipu; e Hugo Chávez, com uma tentativa de golpe de estado e vitória em vários referendos, foram ovacionados por cerca de 600 pessoas de diversos organizações e entidades que estavam no local. Em comum, os quatro têm claro o projeto de soberania plena que buscam para seus povos e para a integração latinoamericana.

Fazendo referência à atuação da região, o representante da CTA afirmou que a América Latina é a única região que passa de um processo de resistência para políticas concretas de alternativas. E citou exemplos dos países convidados para a mesa. "Somos parte da mesma vontade de mudança. Esse espaço inaugura uma forma inédita de diálogo com nossos governos", afirmou.

Rafael Correa ressaltou a oportunidade de um evento poder reunir quatro governos e movimentos sociais que têm o objetivo comum de construção de uma América Latina mais justa e digna. Enfatizou o socialismo, a integração e criticou o modelo neoliberal. "Nós estamos vivendo uma crise que não foi criada por nós. E a saída para ela é a integração. Nós não podemos aderir aos interesses do capitalismo", disse, com a propriedade de quem peitou a negociação da dívida externa de seu país e abriu antecedentes para um debate mais amplo sobre o tema na região.

Já o presidente paraguaio Fernando Lugo, disse que é nos movimentos sociais, na luta das mulheres, dos camponeses, na questão indígena que seu governo busca inspiração para seguir em frente e que as mudanças só foram possíveis por conta da atuação deste setor. "É a luta dos grupos sociais que mudam o cenário da América Latina". Mas ainda há muito por fazer. "O que conseguimos mudar foi suficiente para derrotar os conservadores, mas ainda não é suficiente para garantir a sociedade que os latinoamericanos merecem", falou.

Elencou ainda alguns pontos necessários para uma mudança mais ampla: defesa do Aquífero Guarani ("Enquanto não conseguirmos, não descansaremos"); devolução de Guantânamo a Cuba ("as fronteiras não podem ser mais fortes que as integrações") e preço justo para a energia que busca o Paraguai, em referência à negociação do Tratado de Itaipu, que tem com o Brasil.

O coro orquestrado pelos militantes de "Evo, Amigo. O povo está contigo" ecoou pelo ginásio quando o presidente boliviano pegou o microfone. "Não quero que me convidem, quero que me convoquem", falou sobre o encontro com os movimentos sociais. "Vejo muitos movimentos sociais e só foi através deles que eu consegui chegar à presidência. E se hoje este fórum conseguiu reunir quatro presidentes é graças à luta de vocês", disse para o público.

Evo fez um breve histórico das lutas e conquistas do povo boliviano nos últimos anos e reafirmou seu compromisso com a soberania para o país, ressaltando sempre que sem os movimentos sociais não será possível realizar um processo realmente democrático.

Hugo Chávez, comandante e presidente da Venezuela, bem à vontade, foi o último a falar. Brincadeiras com o público, menção aos amigos na platéia (Aleida Guevara, filha de Che Guevara), reverência à luta feminista e muitas mensagens sobre a "revolução bolivariana" que, afirma, já se instalou na América Latina, assim como buscaram tantos líderes, Bolívar, Martí, Guevara e o "companheiro Fidel" - frequentemente citado por todos os participantes - fizeram parte de seu repertório.

Mais incisivo que os demais quando o assunto é combater o imperialismo, sobretudo o estadunidense, Chávez não poupou críticas e disse não ter muitas expectativas com a eleição de Obama nos Estados Unidos. "Estamos dispostos a resistir a qualquer opressão imperialista". E continuou: "A FAO disse que 800 milhões de pessoas passam fome no mundo. A culpa é do capitalismo e da política irresponsável dos Estados Unidos".

Fez menção aos 50 anos da Revolução Cubana, ícone de resistência, sobre os avanços sociais dos países ("Venezuela, como Bolívia e Cuba são territórios livre do analfabetismo"), e sobre as respostas que se tem dado como a Alternativa Bolivariana para as Américas à Alca, e a Unasul. "Vamos em busca de um tratado de comércio dos povos, pela integração e cooperação", falou.

Em seguida, João Pedro Stedile reuniu vários pontos colocados pelos movimentos sociais. O encontro foi encerrado com os presidentes cantando, juntos, a canção "Hasta Siempre Comandante Che Guevara".

À noite

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com os quatro presidentes no início da noite para tratar de assuntos de cooperação latina. Mais tarde, um evento oficial organizado pelo Governo Federal e local, reuniu os cinco presidentes no Centro de Convenções de Belém. O evento foi aberto ao público do Fórum Social Mundial, mas não comportou boa parte dos (das) participantes.

As matérias do projeto "Ações pela Vida" são feitos com o apoio do Fundo Nacional de Solidariedade da CF2008.

Ana Rogéria, editora de Adital, de Belém (PA)



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