segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Crise Alimenta Xenofobia

5 DE FEVEREIRO DE 2009 - 13h06

Crise alimenta xenofobia no mercado de trabalho dos EUA


Do Congresso aos movimentos populares, ativistas anti-imigração encontram na recessão dos EUA um prato cada vez mais cheio para aumentar seus protestos. E, embora os slogans não sejam inéditos, o novo contexto econômico oferece a cultura ideal para a proliferação de ecos perigosos, dizem analistas.


Veio do Congresso o exemplo mais recente da pressão. Quando a Microsoft anunciou no último dia 22 que demitiria mais de 5.000 por causa da crise, o senador republicano Chuck Grassley, de Iowa, escreveu uma carta à empresa pedindo que seu executivo-chefe dispensasse primeiro trabalhadores estrangeiros com visto H-1B (de trabalho qualificado temporário).


"A Microsoft tem uma obrigação moral de proteger os trabalhadores americanos ao priorizar seus empregos durante esses tempos difíceis", disse.
Organizações civis seguem na mesma linha. A Coalizão para o Futuro do Trabalhador Americano (CFAW), que reúne grupos anti-imigração, iniciou em 2009 uma campanha de TV associando o desemprego aos trabalhadores estrangeiros, como os com o visto H-1B.


"No ano passado, 2,5 milhões de americanos perderam seus empregos", diz o comercial. "Ainda assim, o governo continua a trazer para os EUA 1,5 milhão de estrangeiros por ano para pegar os postos de trabalho americanos. Será o seu emprego o próximo?"


O analista do Council on Foreign Relations Edward Alden, autor de "O Fechamento da Fronteira Americana" ("The Closing of the American Border", HarperCollins), diz que nem a Microsoft pode legalmente demitir só estrangeiros nem os cálculos da CFAW estão corretos. "Mas sem dúvida ambos encontram na recessão um ambiente social muito propício a aceitar esses argumentos."


Alden afirma que a cifra de 1,5 milhão sugerida pela CFAW é baseada em estimativas antigas e inclui imigrantes legais e ilegais. Segundo ele, entram com o H-1B no máximo 65 mil estrangeiros anualmente. Outros 20 mil que fazem pós-graduação também recebem o visto. "Não vejo possibilidade de o número cair por causa da recessão. Nos últimos anos, a demanda foi praticamente o dobro da oferta de trabalhadores com H-1B", disse.


Ele também se diz pouco alarmado com a campanha do CFAW, que "usa qualquer argumento para falar contra a imigração". "Mas um senador pedir a demissão de estrangeiros é bastante preocupante", afirmou. "Quando o governo investe cada vez mais em empresas privadas, como prevê o pacote de estímulo, vamos ter mais e mais pressão na linha de que "o dinheiro deve ser gasto só com cidadãos dos EUA"."


Isso já está acontecendo. Republicanos alegam que provisões do pacote de US$ 900 bilhões proposto pelo governo Obama direcionarão fundos para os estimados 12 milhões de imigrantes ilegais nos EUA, o que democratas contestam.


Para Alden, a justificativa se baseia em noções incorretas. "Não há estudos que mostrem que estrangeiros "tomem" empregos americanos", diz. Mas nota que, em serviços sem qualificação, imigrantes forçam queda nos salários pela maior oferta de trabalhadores. De toda forma, o impulso contra estrangeiros tem pouca fundamentação nos números.


Imigração em queda


Como é comum em recessões, o fluxo de imigrantes ilegais que entram no país pela fronteira com o México caiu de 800 mil por ano entre 2002 e 2006 para 500 mil em 2008 (dados do Centro de Pesquisas Pew). A detenção de ilegais na fronteira caiu em 2008 para 723 mil. O pico, em 2000, foi de 1,8 milhão. E, no governo Bush (2001-2009), o número de deportações triplicou e chegou a 300 mil no último ano.


Apesar do clima inóspito, há em Washington quem continue disposto a abordar a reforma migratória – ou ao menos a amolecer a repressão da era Bush. Um deles é Janet Napolitano, nova secretária de Segurança Doméstica. Ela defende criar um caminho para a cidadania aos trabalhadores ilegais já em 2009.


O republicano John McCain, co-autor de uma proposta bipartidária de reforma migratória enterrada no Senado em 2007, também indicou que pode tentar de novo.


Mas a maioria no governo é contra tocar no assunto na recessão. "Minha expectativa é que Obama adie mesmo a discussão", disse Alden. "Mas, quando a economia começar a se recuperar, poderá ter uma ótima oportunidade."


Fonte: Folha de S.Paulo





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