segunda-feira, 6 de abril de 2009

Crise Mundial

O anúncio de que os líderes mundiais dos países desenvolvidos e "emergentes" - o G-20 - voltam a se reunir em setembro, em Nova York, é um sinal de que a luz no fim do túnel da crise econômica mundial continua fraca. A nova reunião, segundo o porta-voz da notícia, o presidente francês Nicolas Sarkozy, coincide com a realização da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Ela complementa o encontro de Washington de novembro do ano passado, que estabeleceu os princípios para agir diante da crise, e a reunião da quinta-feira (2), que definiu a forma de colocá-los em prática. Em Nova York, os "progressos" serão revisados.





ABRIL DE 2009 - 22h36

Para onde vai a crise econômica global?

O anúncio de que os líderes mundiais dos países desenvolvidos e “emergentes” — o G-20 — voltam a se reunir em setembro, em Nova York, é um sinal de que a luz no fim do túnel da crise econômica mundial continua fraca. A nova reunião, segundo o porta-voz da notícia, o presidente francês Nicolas Sarkozy, coincide com a realização da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Ela complementa o encontro de Washington de novembro do ano passado, que estabeleceu os princípios para agir diante da crise, e a reunião da quinta-feira (2), que definiu a forma de colocá-los em prática. Em Nova York, os “progressos” serão revisados.


Por Osvaldo Bertolino



O ponto inicial aqui é: haverá progressos? A julgar pelos efeitos previstos da decisão de Londres de destinar US$ 1 trilhão ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para ajudar países com problemas decorrentes da crise econômica global a resposta dificilmente pode ser positiva. O G-20, segundo o premiê britânico Gordon Brown, também joga suas cartas na necessidade de ''trabalhar urgentemente com os líderes'' mundiais para fazer avançar a Rodada Doha de liberalização comercial, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).


O G-20 faz uma aposta alta. “Estamos empreendendo uma expansão fiscal coordenada e sem precedentes, que salvará ou criará milhões de empregos que de outra maneira seriam destruídos, e isso somará, até o final do próximo ano, 5 trilhões de dólares, aumentará a produção mundial em até 4 por cento e acelerará a transição para uma economia verde”, disse o comunicado final da cúpula. O documento diz ainda que os bancos centrais do G-20 se comprometeram a manter políticas de expansão econômica, enquanto for necessário, e usar de todas as ferramentas e políticas disponíveis para tanto.


Desafio: salvar os bancos que estão na UTI

Os limites dessa política de expansão econômica estão bem à mostra na face exposta da crise, os Estados Unidos, onde o pacote anunciado pelo governo do presidente Barack Obama — o maior da história — gera ceticismo sobre o seu poder de fazer com que os bancos voltem a emprestar. A eficácia das medidas propostas por Tim Geithner, o secretário do Tesouro — uma polpuda ajuda extra prevista para as instituições financeiras de cerca de US$ 1 trilhão — já foi posta em dúvida quando, menos de uma semana depois de anunciar o plano, ele próprio teve de ir à TV para dizer que não descarta a possibilidade de os bancos precisarem de mais dinheiro.


Em entrevista ao canal ABC News, Geithner disse que não descarta ir ao Congresso pedir mais recursos. “Faremos os congressistas entenderem por que ser mais agressivo hoje é mais barato no longo prazo'', disse. Seu desafio é salvar os bancos que estão na UTI e desatar o nó da concessão de crédito necessária para oxigenar a economia. A parada é dura. A questão é saber o que fazer com os títulos imobiliários podres em poder dos bancos. Geithner pretende resolver o problema por meio de um mercado específico a fim de limpar os balanços dos bancos — que continuam recheados de títulos imobiliários e carteiras de crédito de baixíssimo valor.

Subsídios à compra de ativos ruins


O plano prevê que as instituições financeiras possam vender suas carteiras de crédito imobiliário e seus títulos podres em um mercado patrocinado pelo governo que está sendo criado exclusivamente para negociá-los. Se tudo andar como o planejado, os compradores serão o próprio Tesouro e — a grande novidade — investidores privados, como fundos de pensão, fundos de hedge e até grandes investidores individuais, que concorreriam entre si para comprar esses ativos pelo maior preço. O baixo valor que estariam dispostos a pagar, no entanto, pouco ajudaria a resolver o buraco no balanço dos bancos.


Para enfrentar a reticência dos compradores, mais uma vez a mão do Estado atua com o objetivo de estimular os negócios — o Tesouro resolveu dar um gigantesco incentivo aos fundos que queiram pagar mais. Funciona assim: em troca de uma pequena aplicação inicial, eles ganham acesso a uma linha de financiamento praticamente sem risco para comprar as carteiras e os títulos problemáticos. Se os ativos comprados valorizarem, os compradores e o Tesouro vão dividir os ganhos. Se houver prejuízo, os compradores não precisarão devolver o financiamento. Perdem apenas o aporte inicial.


Paul Krugman, prêmio Nobel de economia, esclarece que a medida “é uma forma indireta e disfarçada de subsidiar a compra de ativos ruins”. Em um artigo no jornal The New York Times, ele argumenta que o plano não vai funcionar. ''Sim, os ativos problemáticos podem estar subavaliados. Mas o fato é que os executivos financeiros literalmente apostaram seus bancos na crença de que não havia bolha imobiliária e de que o endividamento sem precedentes das famílias não era problema. Eles perderam a aposta. E nenhuma ajuda financeira fantasiosa vai mudar isso'', diz Krugman.

Nacionalização de bancos solventes

Ele argumenta que o plano concede benefícios demais às operações de compra e venda dos ativos podres. Para o economista, o volume de recursos liberado (US$ 575 bilhões) é bem menor do que o necessário — o total de ativos hipotecários podres é estimado em até US$ 7 trilhões. E lembra que é preciso resolver o problema do mutuário — a solução da crise passa pela redução da inadimplência.


Liquidar esses títulos, no entanto, será apenas o primeiro passo para enfrentar a essência da crise. Além dos bancos cambaleantes, há outros, tidos como sadios, que já se defrontam com o fantasma da insolvência — com o desemprego em alta, até os bons pagadores se tornam inadimplentes. Há quem defenda o novo pacote, mas com ressalvas. ''O plano é um passo na direção certa porque limpa o sistema financeiro'', escreveu o economista Nouriel Roubini, conhecido pelas previsões catastrofistas, em um raro momento de otimismo. ''Mas não devemos nos iludir. Se a economia piorar, a situação pode ficar muito feia rapidamente'', disse ele.

Para Roubini, a solução concebida por Geithner só funcionará no caso dos bancos solventes, isto é, com ativos suficientes para cobrir suas dívidas — ainda que ninguém saiba dizer, hoje, quem são eles. O economista propõe uma saída diferente. ''Aqueles que se mostrarem insolventes devem ser nacionalizados, saneados e preparados para uma nova privatização'', diz ele. A preocupação é que, se o plano naufragar, sobrará pouquíssimo dinheiro para uma nova rodada de ajuda aos bancos. As dificuldades políticas também se agigantarão — Obama teria de ir ao Congresso convencer os parlamentares a aprovar a liberação de mais recursos públicos para o sistema financeiro com a credibilidade destruída.


Direito de voto da China no FMI


Além da equação interna, os Estados Unidos enfrentam problemas estruturais das complexas relações da sua economia com o mundo. O ponto nevrálgico é, sem dúvida, a China. Sintomaticamente, o anfitrião da cúpula do G-20 em Londres, o premiê britânico Gordon Brown, instalou Obama à direita e o presidente da China, Hu Jintao, à sua esquerda. O gesto refletiu o reconhecimento da legitimidade dos questionamentos da China em relação ao seu papel no xadrez político mundial — dada a relevância econômica do país.


É uma queda de braços com os Estados Unidos. A economia chinesa ultrapassou a alemã, convertendo-se na terceira maior do mundo — atrás dos Estados Unidos e do Japão. Mas o seu direito de voto no FMI representa apenas 4% do total, contra, por exemplo, 17% dos norte-americanos. Uma das causas para essa tentativa de manter a China com baixo poder de interferência nos destinos da economia mundial é o fato de o país possuir mais de US$ 2 trilhões de dólares em títulos do Tesouro dos Estados Unidos e outros ativos. A China com maior poder no FMI representaria uma correlação de forças mais fovorável a alterações nas regras da instituição.


O presidente do Banco Popular da China, o banco central do país, Zhou Xiaochuan, defendeu a criação de uma nova moeda e um conjunto de reformas que poderia encerrar décadas de domínio do dólar no comércio e nas transações financeiras internacionais. Ele sugeriu que uma alternativa seria ampliar o uso dos Direitos Especiais de Saque (DES), uma moeda sintética criada em 1969 pelo FMI e cujo valor é calculado com base em uma cesta de moedas que inclui o dólar, o euro, o iene e a libra esterlina. Países com excesso de divisas poderiam transferir parte de suas reservas para o Fundo gerir, recebendo em troca o valor correspondente em DES.


Resistência á desvalorização cambial


A resistência à proposta, fora dos Estados Unidos, se deve ao perigo que a China corre diante da crise norte-americana — com o DES, os demais membros do FMI assumiriam uma parte do risco chinês. O temor tem fundamento, evidentemente, mas ele não deve se limitar, no que que diz respeito ao potencial explosivo da crise norte-americana, à problemática chinesa. E aí as coisas deveriam ser bem pesadas — inclusive politicamente.


Os Estados Unidos optaram pela desvalorização acentuada do dólar para empurrar uma parte substancial do peso da sua crise sobre as costas do restante do mundo. E pressionam os ''emergentes'' e a União Européia (UE) para que promovam desvalorização cambial, abrindo caminhos à demanda externa.


Mas a UE o os “emergentes” — China, Índia, Rússia e Brasil — resistem. A China, que corre o sério risco de tornar-se refém dos Estados Unidos, é a mais interessada em resistir à proposta. E tem falado grosso com Washington, como mostram as declarações do primeiro-ministro Wen Jiabao, em meados de março, sobre o valor dos títulos norte-americanos e a postura contundente da marinha chinesa nos mares do Sul em relação à presença de navios norte-americanos supostamente em expedição científica.


A dramática situação da Europa do Leste


Na intrincada teia que enreda a crise global, há ainda os ausentes da cúpula do G-20 — como lembrou o sempre arguto líder revolucionário cubano Fidel Castro. São 180 nações, entre elas os países do Leste da Europa, que caminham céleres para o desastre. Eles se endividaram em moedas estrangeiras — principalmente em euro e franco suíço — após a queda do socialismo e agora ameaçam mergulhar a Zona do Euro em uma crise gigantesca. Esses países são um importante ponto de apoio da economia da Europa Ocidental — absorvem, por exemplo, 25% das exportações da Alemanha, a maior economia da Zona do Euro.


A situação é dramática. “Se as economias das europas Central e Oriental não forem salvas, a economia mundial desabará”, disse recentemente o jornal britânico The Daily Telegraph. A Europa Oriental contraiu US$ 1,7 trilhão em empréstimos do exterior, e neste ano deverá resgatar uma parcela de US$ 400 bilhões — volume de recursos equivalente a um terço do total do Produto Interno Bruto (PIB) de todos os países da região. De acordo com o Banco Europeu de Reestruturação e Desenvolvimento, o Leste da Europa precisará dessa quantia para cobrir os serviços de suas dívidas e reativar seus sistemas de crédito.


A política de sacrifícios do FMI


A questão é: como conseguirá isso no momento em que as portas do crédito estão hermeticamente fechadas? A Europa Oriental contraiu quase todas as suas dívidas da Europa Ocidental — especificamente de bancos da Áustria, Suécia, Itália, Grécia e Bélgica. A solução é recorrer ao FMI. O problema é que os volumes de recursos que a região precisa estão além dos limites do Fundo, que já tentou salvar a Hungria, a Ucrânia, a Letônia, a Bielorússia, a Islândia, o Paquistão e, em breve, terá de tentar socorrer a Turquia. Suas reservas já foram praticamente pulverizadas.


Apesar dos gigantescos recursos canalizados a todos estes países, o problema não foi solucionado. A Hungria deverá declarar moratória. O Paquistão precisa de mais US$ 7,6 bilhões e a economia da Letônia já foi declarada, pelo próprio governo do país, “clinicamente morta”. Outro agravante é a política do FMI de impor pesados sacrifícios aos povos desses países em nome do “equilíbrio fiscal”.


Os limites da instituição vão eliminando as expectativas alimentados por alguns economistas de um suposto ''FMI Obama'', presumivelmente mais amigável e mais sintonizado com os problemas reais do que o ''FMI Bush''. Mas, como sugerem os programas do Fundo para a Letônia e a Ucrânia, a principal diferença pode ser apenas um sorriso — o diretor-geral do FMI Dominique Strauss-Kahn apelou recentemente a uma resposta orçamentária ''global'' para enfrentar o agravamento da crise.

O grande dilema da crise


Na Letônia, o FMI exigiu um corte de 25% nos salários do funcionalismo e nos investimentos públicos, aliado a um enorme aumento dos impostos. Na Ucrânia, as imposições incluem reduções drásticas das aposentadorias. Ambos os países já passaram por distúrbios siciais e instabilidade política. Os recentes empréstimos do Banco Mundial também estão, em parte, condicionados à ''disciplina fiscal''. É preciso considerar que o FMI e o Banco Mundial têm sido instrumentos auxiliares da política externa norte-americana.


Dada a importância de “ortodoxos” como Larry Summers e Geithner no governo dos Estados Unidos, as perspectivas de uma reforma séria dessas instituições parecem distantes. Summers foi um dos principais arquitetos das políticas neoliberais quando esteve no Banco Mundial e na Secretaria do Tesouro durante o governo do presidente Bill Clinton. E Geithner foi um alto dirigente do FMI. Eles administram a economia interna de olho no cenário mundial.


A chave-mestra para se compreender o grande dilema da crise é a combinação da forma como Summers e Geithner administram a economia interna, despejando rios de dinheiro público no sistema financeiro, e o poder que eles têm, como representantes do governo dos Estados Unidos, para fazer o FMI e o Banco Mundial empurrar goela abaixo dos países pobres suas amargas e conhecidas receitas neoliberais. Resumo da ópera: com a luz no fim do túnel da crise cada vez mais fraca, os dramas econômicos começam a transitar, rapidamente, para o campo político.

http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=53665

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