segunda-feira, 11 de maio de 2009

Desqualificação


Sábado, 09 de maio de 2009
Estratégia de desqualificação
Foto: Emílio Pedroso



Alertada na sexta-feira de que a revista Veja injetaria novas suspeitas de irregularidades envolvendo a sua campanha eleitoral e a compra da casa, a governadora Yeda Crusius decidiu investir na estratégia da desqualificação das fontes citadas pela Veja.

Na manhã de hoje, Yeda se reuniu com três de seus principais secretários para afinar o discurso e estudar a reportagem (embora tenha dito na entrevista coletiva concedida em seguida que esperaria a edição impressa da Veja para tomar conhecimento do conteúdo).

Yeda lançou dúvidas sobre a conduta da ex-companheira de Marcelo Cavalcante, Magda Koenigkan, e sobre Lair Ferst, pivô do escândalo do Detran, que teria feito um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. Yeda sugeriu que Lair teria vendido as gravações citadas pela revista e que Magda não seria "uma pessoa qualificada" porque sobre ela recairiam acusações.

A estratégia de desqualificação da viúva, porém, não reduz a gravidade do teor da reportagem da revista, que teve acesso a uma hora e meia de 10 horas de diálogos mantidos entre Cavalcante e Lair. A reportagem levanta novas suspeitas. Uma delas é a de que Yeda teria se beneficiado de caixa 2 depois do pleito e que Cavalcante teria coletado R$ 400 mil de empresas fumageiras e entregue o dinheiro ao professor Carlos Crusius, então marido da tucana. Em entrevista à Veja, reafirmada nesta manhã a Zero Hora, a viúva diz que os R$ 400 mil teriam sido usados para comprar "por baixo do pano" a casa da governadora.

É verdade que o Ministério Público arquivou a investigação da casa, mas fontes do MP dizem que nada impede que o procedimento seja reaberto se surgirem fatos novos.




Clique aqui para conferir a íntegra da entrevista concedida pela governadora Yeda Crusius hoje






O QUE A VIÚVA DISSE À REVISTA:

Síntese da entrevista da empresária Magda Koenigkan, que viveu 15 meses com Marcelo Cavalcante, ex-assessor de Yeda Crusius que morreu no dia 17 de fevereiro.


A relação Marcelo-Yeda

"Na campanha ela ligava para ele a todo instante e pedia: 'Marcelinho, precisamos arranjar R$ 10 mil para isso e aquilo'. E ele arranjava".


A captação de doações

"Se havia um dinheiro para receber, Marcelo pegava e entregava a Carlos Crusius (marido da governadora). No começo (da campanha), tinha de convencer as pessoas a colaborar. Quando Yeda começou a subir nas pesquisas, ficou mais fácil. Vinham R$ 200 mil dali, R$ 100 mil de lá. Só que esse dinheiro não entrava para o caixa".


O Dinheiro de fumageiras

"Entre o fim do segundo turno eleitoral e a semana posterior à eleição, Cavalcante recebeu R$ 400 mil de dois fabricantes de cigarro, R$ 200 mil de cada um. Ambos pediram para que a verba não fosse entregue oficialmente. Então, foi para o caixa 2".

A relação Carlos e Yeda

"Marcelo acreditava que Crusius escondia tudo da governadora. Mas ela justificou a história. Chegou e disse: 'Marcelinho, Crusius quer pagar uma dívida antiga nossa que está apertando a gente e, se sair na mídia, não vai ser bom'. Marcelo se indagava sobre que dívida era aquela. Ele não conhecia essa dívida".

A polêmica casa

"(Carlos) Crusius finalizou a compra de uma casa. Pelo que o Marcelo contava, usou os R$ 400 mil nisso. O Marcelo falava que o pai de um dos secretários da governadora simulou ter comprado um apartamento dela na praia. Teria sido uma venda forjada para mostrar que ela tinha renda para comprar a casa. Contou também que a casa custou cerca de R$ 1 milhão, talvez mais. Mas esses R$ 400 mil foram entregues por baixo do pano (ao vendedor)".

A assessora de yeda

"Marcelo contou que, quando ela era deputada, todo mês entravam cerca de R$ 10 mil de um sindicato (Sindicato da Indústria da Construção de Estradas, Sicepot). O dinheiro ia diretamente para a governadora. Quem pegava era uma mulher contratada pelo Marcelo, Walna Vilarins".

Sobre Lair Ferst

"Lair Ferst ajudou Marcelo a arrecadar. Entre 2006 e 2007, eles se encontraram diversas vezes. Em novembro, Lair contou a Marcelo que tinha gravado todos esses diálogos e que ia entregá-los à Justiça".

O uso de caixa 2

"Até do caixa 2 do caixa 2. Marcelo deu os R$ 400 mil a Carlos Crusius no comitê da campanha. Crusius agradeceu e foi para uma sala mais reservada, enquanto Marcelo conversava com fornecedores. Crusius apareceu e disse: "quero me desculpar. Não conseguimos o dinheiro. Vamos precisar de mais um prazo. Espero sua compreensão".





DA ZERO HORA DESTE DOMINGO:

O que pode acontecer





1 - A reportagem da revista Veja, mesmo que baseada principalmente em cima da entrevista da viúva de Marcelo Cavalcante, reafirma denúncias que dirigentes do PSOL vinham fazendo desde fevereiro, como por exemplo, a contribuição de campanha que envolveria empresas fumageiras. O PSOL diz ainda ter tido acesso a vídeos, além de áudios, também gravados pelo lobista Lair Ferst.

2 - A se confirmarem as revelações da empresária Magda Koenigkan, é muito provável que Lair tenha feito, de fato, acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal _ acordo que vem sendo desmentido pelo próprio. As fitas, gravadas por Lair (e que Veja teria tido acesso), estariam em poder dos procuradores da República.

3 - As novas denúncias reforçam a possibilidade de CPI na Assembleia. Até sexta-feira, a oposição tinha 14 das 19 assinaturas necessárias para a instalação da comissão para apurar denúncias que vieram à tona após a morte de Cavalcante. No sábado, o deputado Raul Pont (PT) já afirmou que o novo cenário "deve convencer mais deputados" a aderirem à proposta da oposição.

4 - No entendimento de procuradores do Ministério Público, ouvidos por ZH, o arquivamento da investigação da compra da casa de Yeda foi "provisório". Ou seja, pode ser reaberto com o surgimento do que eles qualificam de indícios mais consistentes. A forma de aprofundar o episódio exige a quebra de sigilo bancário da governadora, de seu ex-marido e da família do ex-secretário Delson Martini, que comprou o apartamento de Capão da Canoa do casal Crusius. Na época, o Judiciário entendeu que não havia elementos para pedir a quebra do sigilo.

5 - A própria governadora disse sábado, em entrevista coletiva, estar preparada para o surgimento do relato de mais fitas. "Todo mundo sabia que Lair fazia gravações", disse Yeda.


Postado por Vivian Eichler às 15h35
Fonte: Zero Hora/Blog da Rosane

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