quarta-feira, 3 de junho de 2009

Angola

DIÁLOGO DE CIVILIZAÇOES/ Angola/Colóquio/ SÃO PETERSBURGO “Angola. Línguas nacionais e identidade cultural“

Dimensão proto-bantu e identidade cultural em Angola

Isso aconteceu recentemente na cidade de Pedro o Grande, pela ocasião do Colóquio “Angola. Línguas nacionais e identidade cultural“ e da palestra “Línguas nacionais, factores de unidade” pronunciada na cosmopolita Universidade de Amizade entre os Povos Patrice Lumumba da capital federal russa.

Convidado a este programa científico e cultural organizado pela Embaixada de Angola na Russia, o Centro Internacional das Civilizações Bantu foi ai representado pelo historiador Simao Souindoula.

O encontro da embocadura da Neva teve lugar num dos anfiteatros da Universidade de Estado de São Petersburgo, esta que formou eminentes personalidades, dentro dos quais o próprio Presidente Vladmir Poutine.

Esta reunião reagrupou, sob a conduta do Embaixador de Angola na federação, o General Roberto Monteiro “Ngongo“, uma vintena de especialistas angolanos e russos.

Notou-se, assim, a presença do Embaixador Jaka Jamba, Representante Permanente de Angola junto da UNESCO, Amélia Mingas, da Universidade Antonio Agostinho Neto e as principais figuras actuais dos estudos africanistas na primeira capital dos Czares: Arseniev, Popov, Komissarov, Yaruchkin, Dobronravin, Perekhvalskaia, Vidrin, Jeltov, Jukov e Siim.

Esses linguistas, historiadores, antropólogos, sociólogos e filósofos desenvolveram perante um público, maioritariamente estudiantil, vários eixos decorrentes do tema do colóquio, dentro dos quais a promoção das línguas nacionais pela escrita e através dos meios de comunicação social, a importância dos falares locais nos programas de desenvolvimento, as experiências de alfabetização e escolarização tentadas, as vantagens do plurilinguismo, a prática linguística urbana, as perspectivas, a médio prazo, da legislação nesta matéria, etc.

Na sua comunicação intitulada “Dimensão proto-bantu e identidade cultural em Angola“, apresentada na cidade portuária, e na conferência que ele pronunciou conjuntamente com o filósofo Jaka Jamba, em “Lumumba“, Souindoula realçou um dos pontos de parentesco genetico das linguas nacionais, maioritariamente em uso neste pais. Com efeito, esses falares, classificados, no dominio bantu, apresentam um sistema de concordâncias, reconstituido, que forma uma das componentes da substância da cultura nacional deste Estado membro do CICIBA.

EPISTEMOLOGIA

A apresentação de exemplos de similitudes lexicais nas línguas actuais, que seguiu, cobriu domínios tais como a prática da agricultura, a produção agricola, a concepção do poder, a organização social, a sensibilidade a música e as tradições orais. E, como a base etimológica é relacionada aos radicais supostos da proto-língua, o perito do CICIBA defendeu, firmamente, o subsequente comportamento antropólogico, homogéno, das populações locutoras de línguas bantu em Angola.

Com efeito, um exame etnológico dos aspectos de civilizações tomados em exemplo, confirma este ponto de vista. E, neste exercício de linguística e de civilizações comparadas, o antigo investigador do Museu Nacional de Antropologia de Luanda, bem popou ao público das duas cidades russas, o exame comparativo sobre as 3000 raízes do ur-bantu. Com efeito, este cobre perfeitamente o conjunto do largo tecido antropólogico das sociedades tradicionais de África central, oriental e austral, nas suas diversas componentes, da medicina tradicional a administração da justica, das artes as crenças religiosas.

Esta análise permitiu ao historiador angolano de afirmar que o “ bantu comum” constitui um dos fondamentos linguisticos da construção da consciência cultural nacional angolana ao lado, portanto, das convergências de tipo antropólogico atestadas, mas igualmente, da passagem, desde o século XVI, no mesmo molde histórico. Alguns dos elementos desta dimensão triptíca sobresairam dos poemas de Agostinho Neto que foram declamados pela Brigada Jovem de Literatura de Moscovo e da surpreendente exibição do grupo de dança estudiantil, Os Muangolé.

Tirando os ensinamentos da sua participação neste programa cultural, Simão Souindoula revelou que o maior desafio que o CICIBA vai enfrentar na Russia é a frilosidade, hoje largamente ultrapassada na Europa ocidental, sobre o absoluto desencerramento linguístico do conceito bantu. Na verdade, em São Petersburgo, a epistemologia sobre o fenómeno bantu parou com a morte do eminente africanista Dimitri Olderogue, que não participou, em 1985, no colóquio refundador de Libreville sobre os estudos bantu.

Com efeito, para Souindoula, é dificil não entrever, para além das similitudes linguísticas, nenhuma convergência antropólogica, entre os Kimbundu, os Ovimbundu, os Cokwé e os Nyaneka – Humbé com os Bakongo dos dois Congo e do Gabão, os Luvales da Zambia, os Ovambo, os Helelo e os Chindonga da Namibia.

E, baseando-se, esta evidência, afirmou que a globalização do conceito bantu é hoje científicamente estabelecida e históricamente justa, porque constituindo um trunfo decisivo nos esforços de consolidação dos diferentes conjuntos nacionais e sub-regionais naquele area cultural, mas também da própria União Africana.

Por Johnny Kapela

Libreville, Setembro de 2005



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