sexta-feira, 17 de julho de 2009

Estratégia do CEPERS

17 de julho de 2009 | N° 16033
CASA SITIADA
Inspirado no MST, Cpers muda táticaDesde que as sinetas badalaram na Praça da Matriz em todos os anos do governo Pedro Simon, totalizando 203 dias de greve entre 1987 e 1990, as manifestações do Cpers-Sindicato sempre seguiram uma linha. Houvesse o que houvesse, fosse qual fosse o partido ou o inquilino do Palácio Piratini, tudo se dava em locais públicos: o próprio palácio, a Assembleia Legislativa, o prédio do Instituto de Previdência do Estado.

Ontem, não. Ontem o protesto formal da entidade foi inspirado em um método de pressão usado pelos movimentos ligados aos sem-terra: ir atrás do governante na casa dele.

É um reflexo da mudança política no interior do movimento sindical. O radicalismo do PSOL avança sobre o espaço do PT, cuja imagem cada vez mais refletida pelo poder só abre caminho para atos como o de ontem. Mais ainda: os petistas moderados vão sendo excluídos aos poucos. No Cpers, por exemplo, os petistas que resistem são os vinculados às facções mais à esquerda, ainda assim alvos fixos da artilharia de PSOL e PSTU em busca do controle absoluto da entidade.

– A direção é metade do PT e metade do PSOL e do PSTU. É uma composição pública, não resta dúvida disso. Esse é o perfil – afirma Juçara Dutra Vieira, ex-presidente do Cpers.

Ex-governadores apontam excesso em manifestação

Como o tilintar das sinetas não comove mais os gaúchos como nos anos 80, o Cpers buscou outras maneiras de chamar a atenção para os baixos salários dos professores. Na própria gestão de Juçara, durante o governo Olívio Dutra, um ato terminou se transformando em invasão da Casa Civil. Mas era dentro do palácio, um prédio público e simbólico do poder estadual. Não era o apartamento de Olívio. Ou do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como observa Juçara, lembrando que o movimento acompanha as ações e as legitima:

– Dia destes, o MST apoiou um ato em frente ao apartamento de Lula, em São Bernardo.

Pelo interior do Estado já ocorrem manifestações nas proximidades das casas de parlamentares federais e estaduais, indicando a mudança de estratégia. Dois ex-governadores que enfrentaram greves concordam que, em seus mandatos, as dores de cabeça nunca desembocaram em episódios emblemáticos como os registrados diante da casa de Yeda. Alceu Collares concorda que o método lembra o do MST. Adverte que os dois lados, Cpers e Yeda, se excederam. Mas desabona a ida de professores e alunos até a residência particular da tucana.

– São métodos ultrapassados. É preciso uma profunda reflexão de todos. Esses exageros não resolvem absolutamente nada – resume Collares.

Pedro Simon, que chegou a fumar quatro maços de cigarro por dia no auge do conflito com o Cpers em seu governo, é mais enfático e reforça a tese de importação dos métodos do MST.

– Estão fazendo isso com o Lula também. Reclamar, tudo bem. Mas ir até a casa é demais – diz o senador peemedebista.

diogo.olivier@zerohora.com.br

DIOGO OLIVIER
Estratégia polêmica
NO PLENÁRIO
Com tradição em provocar governos, até ontem o Cpers limitava seus protestos a prédios públicos
- Em 1997, durante o governo de Antônio Britto, o Cpers marcou presença na manifestação de sindicalistas e servidores que ocuparam o plenário da Assembleia Legislativa e suspenderam a votação que selaria a privatização da CRT
EM FRENTE AO PALÁCIO
- Ao apontar Yeda Crusius como “a face” da corrupção e do autoritarismo, o Cpers provocou discussão sobre a linha tênue entre a crítica política e o ataque pessoal
- Durante solenidade do Dia da Bandeira, em novembro de 2008, manifestação liderada pelo Cpers em frente ao Piratini já havia provocado reação da governadora


Fonte: Zero Hora

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