sexta-feira, 24 de julho de 2009

Mortes entre Adolescentes

FSP 22 de julho 09

Homicídio é a causa de 46% das mortes entre adolescentes

Cidades do entorno de capitais, além de polos de desenvolvimento regional, têm os maiores índices de assassinatos dos 12 aos 18 anos



Estudo da Uerj em parceria com o Unicef mostra que, de cada mil adolescentes no país, dois deverão morrer antes de completar 19 anos



ANGELA PINHO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA



Os homicídios respondem por 46% das mortes de adolescentes no país e são a principal causa de óbitos nessa faixa etária, à frente das causas naturais (25%) e dos acidentes (23%).



A constatação é de estudo do Laboratório de Análise da Violência da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, a ONG Observatório de Favelas e o Unicef, braço da ONU para a infância. O trabalho utiliza informações do Ministério da Saúde relativas a jovens de 12 a 18 anos nas 267 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. Os dados são de 2006.



A pesquisa criou um novo indicador, o IHA (Índice de Homicídios na Adolescência). Ele mostra que, de cada mil adolescentes brasileiros, dois deverão morrer antes dos 19 anos.



Foram estimados 33 mil assassinatos de adolescentes entre 2006 e 2012 se mantidas as condições atuais, o que equivale a 13 por dia.



Regiões metropolitanas e polos de desenvolvimento regional concentram as cidades com os maiores índices de homicídios de adolescentes no país.



A pior situação está em Foz do Iguaçu (PR), onde quase dez de cada mil devem morrer antes de completar 19 anos.



Na lista das mais violentas, se sobressaem cidades das regiões metropolitanas de Minas Gerais, Espírito Santo, Pernambuco e Rio de Janeiro.

Entre as capitais, aparecem Recife (PE) e Maceió (AL). O Rio de Janeiro fica em 21º lugar. A capital paulista, em 151º.



Nancy Cardia, coordenadora-adjunta do Núcleo de Estudos da Violência da USP, aponta que, com exceção de Rio e São Paulo, as regiões metropolitanas sofreram um processo de expansão mais recente e, em consequência, têm uma estrutura urbana mais precária.



Ainda segundo ela, estudos mostram que uma série de problemas das cidades está relacionada à violência com crianças e adolescentes: o fato de as crianças mais pobres permanecerem menos tempo na escola e ficarem a maior parte do tempo sem a supervisão de adultos, por exemplo, faz com que elas fiquem mais tempo expostas.



O professor da Uerj Ignácio Cano, que esteve à frente do estudo, prefere não arriscar razões para explicar o problema de cada cidade. Ele afirma que é preciso avaliar caso a caso.



Entre as soluções, porém, ele é taxativo: é preciso restringir a circulação de armas de fogo. A conclusão é especialmente válida para a região Sudeste, em que esse meio responde pela maior parte dos homicídios.



Em geral, o adolescente assassinado é homem, negro e tem baixa escolaridade. O principal fator de risco é o sexo: na adolescência, um homem tem 12 vezes mais chance de morrer do que uma mulher. Negros, três vezes mais do que brancos.



São Paulo



Segundo Cano, em comparação com outros Estados, São Paulo tem uma situação positiva. Das 71 cidades paulistas com mais de 100 mil habitantes, 59 têm índice de homicídio de adolescentes abaixo da média nacional -em sete delas, a taxa é de zero. O pesquisador atribui a situação de São Paulo à redução na taxa de homicídios no Estado verificada desde 2001.



O Globo, 22.07.2009




Violência matará 33 mil adolescentes até 2012

Número de vítimas de assassinato, desde 2006, equivale a dois aviões caindo por mês; 10% delas são do Rio



Demétrio Weber



BRASÍLIA. Um estudo divulgado ontem, com base em dados do Ministério da Saúde e do IBGE, estima que 33.504 jovens de 12 a 18 anos serão vítimas de assassinato entre 2006 e 2012, caso as taxas de homicídio de 2006 permaneçam inalteradas. A pesquisa considera as 267 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. O Rio responde pelo maior número absoluto: 3.423 (10% do total) morreriam até 2012.



De todos os jovens mortos no Brasil em 2006, 45% foram vítimas de homicídio, informa o levantamento realizado pelo Laboratório de Análise da Violência, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Ao analisar dados dos 267 municípios, os pesquisadores calcularam o risco de um jovem com 12 anos em 2006 ser assassinado até 2012, antes de completar 19.



- São quase 5 mil mortes por ano. Significa 22 Airbus como o da Air France caindo anualmente, quase dois por mês. E por que isso não impacta a opinião pública? - reage o representante-adjunto no Brasil do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Manuel Buvinich.



Ele lembra que o Brasil tem avançado no combate à mortalidade infantil, mas lamenta que as vidas poupadas sejam aniquiladas a partir da adolescência.



- As crianças que o país salvou começam a morrer aos 12 anos - diz Buvinich.



O levantamento foi feito para o Programa de Redução da Violência Letal contra Adolescentes e Jovens, iniciativa do Observatório de Favelas, do Unicef e da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), do governo federal. O estudo cria o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), que permite comparar o grau de violência em municípios de tamanho diverso. O IHA projeta quantos jovens serão mortos até 2012, para cada grupo de mil na mesma faixa etária.



Foz do Iguaçu (PR), na fronteira com o Paraguai, tem o maior índice (9,74), seguida por Governador Valadares (MG), com 8,49, e Cariacica (ES), com 7,32. A média nas 267 cidades ficou em 2,03, dobrando para 4,16 nas dez capitais com maiores taxas de homicídio.



O Rio, com 4,92, tem o 21º maior IHA e, entre as capitais, é proporcionalmente a terceira mais violenta, atrás de Maceió e Recife. Dos 20 municípios com maiores taxas de assassinato de jovens, três são fluminenses: Duque de Caxias (6,1), Itaboraí (6) e Cabo Frio (5,4).



- Tudo o que não for abaixo de 1 é inaceitável - diz o sociólogo e coordenador técnico do estudo, Ignácio Cano, do laboratório da Uerj.



O levantamento mostra que as armas de fogo são o principal instrumento para matar: na média, os 23 municípios do RJ têm a taxa mais alta de risco de assassinato por arma de fogo: 6,2 vezes mais do que os demais meios de matar. Na média dos 267 municípios pesquisados, o risco de ser assassinado por arma de fogo é 3,2 vezes maior.



- A restrição a armas de fogo é um imperativo, sobretudo no Sudeste - afirmou Cano.



A probabilidade de ser vítima não é a mesma para toda a população. Rapazes têm 11,91 vezes mais risco do que moças; negros, 2,6 vezes mais do que brancos. A faixa etária com maior incidência de assassinatos vai dos 19 aos 24 anos.



A representante do Observatório de Favelas, Raquel Willadino, explicou que o estudo focou na população de 12 a 18 anos para mostrar que as políticas de prevenção da violência devem começar mais cedo. Na faixa de 0 a 11 anos, quase não há assassinatos de crianças, mas o quadro muda radicalmente depois.



A subsecretária de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente da SEDH, Carmen Oliveira, disse que os dados são alarmantes. Segundo ela, as causas da violência variam em cada município, mas o problema gira em torno de três eixos: dívidas de usuários de drogas com traficantes; exploração sexual de meninas; disputas territoriais entre gangues. A evasão escolar é outra premissa.



Carmen considera que a opinião pública não presta atenção ao problema das mortes de jovens, especialmente porque as maiores vítimas são rapazes pobres, negros e da periferia:



- Antes de ser um fora da lei, o adolescente foi abandonado pela lei. A evasão escolar está na ponta do problema.



Um grupo de trabalho vai aprofundar a pesquisa nos municípios, mapeando iniciativas já em andamento para reverter o quadro.




Lula reconhece falha



"Ainda faltam muitas políticas públicas"



BRASÍLIA. O presidente Lula reconheceu ontem que ainda faltam políticas públicas para enfrentar a violência contra os jovens. Ao comentar a pesquisa, o presidente citou programas do governo federal que visam a atender os jovens e tirá-los da situação de risco, como o Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci), o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o ProUni:



- Acho que ainda faltam muitas políticas públicas para que a gente comece a enfrentar o problema da violência. Mas há vários programas para se enfrentar o problema. O Ministério da Justiça lançou o Pronasci, que cuida da segurança como um todo, forma profissionais, mas, ao mesmo tempo, a gente tem uma preocupação com a juventude. No PAC, temos um investimento importante na urbanização de lugares degradados nas favelas, pesando também na juventude.



Segundo Lula, o ProUni (programa de bolsas em cursos superiores) atende 545 mil jovens e as vagas nas universidades públicas foram ampliadas de 113 mil para 227 mil neste ano. Ele citou também a implantação de escolas técnicas.

- Esse é o caminho que vamos fazer para tentar recuperar a juventude brasileira, dando esperança, com educação e possibilidade de trabalhar. Penso que uma outra parte é a gente gerar desenvolvimento econômico para gerar a possibilidade de esses jovens trabalharem - afirmou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sim