segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Artigos Zero Hora parte 2

ARTIGOS
Política não é só para engravatados, por Fernanda Melchionna*Recentemente foi tratado na Câmara de Vereadores de Porto Alegre um tema que nos envergonha enquanto parlamentares e envergonha a cidade: o tema da vestimenta das vereadoras. Envergonha, porque consideramos que Porto Alegre tem problemas sociais suficientes para que sequer devêssemos estar discutindo isso.

Temos acompanhado diversas lutas da cidade. Exemplo é o problema dos moradores das ilhas que vivem em uma condição subumana e que, com as últimas chuvas, viram sua situação piorar ainda mais. Ou o problema da falta de médicos no bairro Santa Rosa, onde há apenas um clínico-geral para 21 mil prontuários; enfim, esses são apenas alguns dos grandes problemas da nossa cidade e que, no entanto, não ganham a devida urgência justamente porque as preocupações de muitos vereadores são bastante distintas das preocupações do povo.

As vestimentas utilizadas na Câmara em nada interferem na agilidade do poder público para resolver os problemas do povo, ou mesmo no combate à corrupção, que a cada dia apodrece as instituições brasileiras. Aliás, muito bem vestidos andam os Sarneys, as Yedas e os criminosos de colarinho branco que assaltam os cofres públicos.

Frente ao descrédito da política para a população, nós, do PSOL, temos certeza de que a atividade política tem que ser de todos os cidadãos. A mobilização popular e a participação política são as peças-chave para que as instituições passem a representar interesses públicos e não privados. Por isso, quando debates tão fúteis ganham proeminência, há sempre que se perguntar qual é a sua motivação.

Será que os vereadores querem usar roupas que os diferenciem do povo? Será que o terno e a gravata correspondem às expectativas daqueles que votam em nós ou nos afastam ainda mais dos que necessitam de políticas públicas (e que nunca usaram terno e gravata)?

A situação é ainda pior quando um homem quer decidir quais são as vestimentas “apropriadas” para as poucas mulheres vereadoras. Uma atitude, no mínimo, machista!

Pois bem, se cada gravata ou terno significasse um projeto de lei que beneficiasse a vida do povo pobre e trabalhador da cidade, usaríamos com orgulho. Mas sabemos que é justamente o contrário. O uniforme dos burocratas serve apenas para diferenciá-los do povo e afastar a população da política. Para nós, só teremos uma nova política, de fato, quando ela não for apenas para os engravatados.



*Vereadora em Porto Alegre (PSOL)

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