quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O Filme do chacrinha


Cinema | 29/10/2009 | 04h31min

Estreia amanhã em Porto Alegre documentário sobre Chacrinha
Mais do que compor uma biografia, filme pretende reviver um tempo e uma TV
Ana Paulo Sousa
Alô, Alô, Terezinha leva à catarse. E ao ódio. Nas exibições nos festivais de cinema de Recife e do Rio, a plateia foi abaixo com o filme – que estreia amanhã em Porto Alegre. O público cantou com os músicos que lançaram hits no Cassino do Chacrinha, gargalhou ao ver um parapente cair sobre Biafra e interromper o seu “Voar, voar, subir, subir’’ e divertiu-se com a desafinação dos calouros.

Mas o documentário de Nelson Hoineff desperta também a ira de parte da crítica e do público.

– É absurdo expor e ridicularizar os calouros e chacretes desse jeito – disse Anderson Martins, estudante de audiovisual.

– Tem intelectual que não consegue rir. Esse filme é coisa de povão, faz o que o Chacrinha fazia – emendou Paulo Girão, professor de música que, quando jovem, esteve no programa do velho e debochado palhaço Abelardo Barbosa (1917 – 1988).

O filme, mais do que compor uma biografia, pretende reviver um tempo e uma TV. O tempo da incorreção política e a TV anárquica.

– Quis reproduzir o espírito do Chacrinha. Busco a diversão coletiva do programa de auditório – diz Hoineff.

Hoineff é acusado, porém, de flertar com o grotesco.

– O nível de certas cenas não me agradou. Algumas declarações eram desnecessárias – disse, ao fim do filme, a ex-chacrete cabocla Jurema.

Para outra dançarina, Lúcia Apache, “o filme explora a decadência’’. Há quem discorde.

– O filme é maravilhoso. Expõe um pouco a gente. Mas quem foi chacrete sempre se expôs, não? – perguntou Gracinha Copacabana.

Tomar contato com chacretes e calouros de um dos programas de maior sucesso da TV brasileira é aproximar-se do exército de anônimos que a indústria do entretenimento cria para, em seguida, descartar. Há os gagos que lembram os dias de troféu abacaxi e quem foi buzinado dezenas de vezes.

– Meu limite foi o limite do Chacrinha. Não ridicularizo ninguém – diz Hoineff, afirmando que o filme confronta o espectador com o Brasil. – O Chacrinha é a antítese do que se faz agora na televisão.

Quase em defesa própria, o diretor mantém, no filme, uma definição de Gilberto Gil: “O Chacrinha era um humorista. O humor é cáustico, é cruel’’. Soa a crueldade, por exemplo, a exposição de Índia Potira, seminua, dançando em frente a uma fonte. Ela diz, porém, que o filme realizou, em parte, seu sonho de posar nua. Todas as ex-chacretes empolgam-se ante qualquer luzinha que remeta aos holofotes que um dia conheceram – Fátima Boa Viagem lembra como foi difícil sair do ar e cair no esquecimento de repente, com a morte de Chacrinha. O que mais as incomoda no filme, contudo, são as referências à sua vida sexual.

– É chato, mas cada uma fala por si. Para mim, nenhuma carapuça serviu – diz Regina Polivalente. – A gente estava lá para alegrar o programa.

Como diz Alceu Valença, Chacrinha era o velho libidinoso, e as chacretes, suas pastoras:

– Ele levou o pastoril do Nordeste para a TV. Sua raiz era a cultura popular.

Talvez por isso fosse um barato um cassino do Chacrinha.

Para lembrar o Velho Guerreiro

OS BORDÕES

> Teresinha, uh-uh!

> Quem vai querer abacaxi?

> Vai para o trono ou não vai?

AS FRASES

> Na televisão nada se cria, tudo se copia

> Eu vim pra confundir, não pra explicar

> Quem não se comunica, se trumbica

O CASSINO POR DENTRO

> Jurados como Aracy de Almeida, Rogéria e Elke Maravilha ajudavam a criar a anarquia no palco.

> As chacretes, dançarinas que acompanhavam o apresentador, reforçam a figura do “velho safado’’. Rita Cadillac e Índia Potira foram as mais famosas.

> Baby do Brasil, Fábio Jr. e Aguinaldo Timóteo eram alguns dos habituès do programa.

FOLHAPRESS

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