sábado, 13 de fevereiro de 2010

Escândalo

À espera de um escândalo


Por Carlos Bandeira,(De Brasília ,11 de fevereiro de 2010)

A terceira reunião da CPMI contra a Reforma Agrária já tinha terminado. Aí começou a guerra. Jornalistas com sede de sangue cercaram os parlamentares para fazer cobranças. Cadê o embate entre ruralistas e defensores da reforma agrária? E a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico das entidades dos trabalhadores assentados? A comissão não está muito morna? E a polêmica? Em resumo: esperavam um espetáculo de mau-gosto, que não aconteceu. Mesmo assim, quem ler os jornais terá um relato mais próximo do que aconteceu depois do encerramento da comissão.



Durante a sessão, o clima era outro. O relator Jilmar Tatto (PT-SP) apresentou uma proposta de aprovação de um bloco de 67 requerimentos, entre os 167 que foram apresentados pelos deputados e senadores. A proposta focava os requerimentos sobre questões administrativas, como a solicitação de documentos e de servidores públicos para compor a equipe do relator, e a convocação de pesquisadores da questão agrária, integrantes do governo e representantes das entidades de assentamentos.



Do lado dos ruralistas, houve pedidos para dar celeridade à investigação dos convênios e deixar de lado o debate sobre a questão fundiária. Do lado da reforma agrária, a defesa da discussão dos problemas estruturais do campo e da serenidade na investigação das entidades sociais. Apesar desses registros, não houve resistência dos parlamentares da CPMI, tanto que a proposta foi aprovada por unanimidade.



Não houve bate-boca nem exaltação. E os parlamentares elogiaram a proposta do relator. Onyx Lorenzoni (DEM-RS), vice-presidente da CPMI, segurou a turma dos ruralistas, mas não conseguiu impedir que aparecessem as suas diferenças. Durante a apresentação da proposta pelo relator, Lorenzoni saiu da mesa de condução dos trabalhos e foi até a terceira fileira passar orientações ao deputado Moreira Mendes (PPS-RO), que está entre os mais truculentos. No momento do debate, o deputado gaúcho fez sinal, com a mão espalmada, pedindo calma a Abelardo Lupion (DEM-PR), que simplesmente desistiu de se pronunciar...



No entanto, ninguém conseguiu acalmar os jornalistas que acompanharam a reunião. Eles demonstraram mais impaciência que os parlamentares ruralistas mais truculentos. Suas perguntas pareciam sair da boca de Lupion, que entrou mudo e saiu calado da sessão. Parece que CPI boa é aquela que gera manchetes e notícias de impacto - mesmo que não tenha nenhum resultado. Não importa o objeto em si, mas o impacto que pode criar na opinião pública. A repercussão é mais importante que os fatos.



Por isso, as reportagens denunciam que a CPMI está morna, com cheiro de pizza. Cobram a quebra de sigilo das entidades dos assentados. Assim, buscam criar um clima de impunidade na sociedade, incentivando cobranças de cabeças e escândalos, mesmo antes de começarem as investigações. Querem sangue, e quanto antes melhor. Até os ruralistas estão mais pacientes.



No entanto, a imprensa não faz menção aos requerimentos que pedem a investigação dos desvios da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e do Serviço Nacional de Aprendizado Rural (Senar), diagnosticados pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Nada também sobre os requerimentos para investigar as terras tomadas de pequenos agricultores, em Tocantins, que foram para nas mãos da senadora Kátia Abreu (DEM-TO) – que mais uma vez estava ausente e deixou a CPMI órfã de mãe.



Podemos ficar bem tranqüilos. Se o Congresso Nacional conseguir manter o nível na execução das suas atividades, a imprensa vai pressionar como justiceiros e tomar uma posição mais conservadora que os parlamentares mais conservadores. Vamos esperar para ver nas próximas sessões dessa CPMI.



Carlos Bandeira é jornalista (carlos.sbandeira@gmail.com)

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