sábado, 13 de fevereiro de 2010

Repressão contra Sindicalistas em Caxias do Sul


PROTESTO E REPRESSÃO
Prisão e feridos em metalúrgica
Confronto durante manifestação em Caxias do Sul termina com mais de 10 pessoas feridas e três sindicalistas presosUm protesto do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região próximo à Randon Implementos acabou em confronto entre sindicalistas e policiais militares, que teria resultado em mais de 10 feridos, além de três prisões. Foi o desfecho, na manhã de ontem, de uma série de manifestações e assembleias promovidas nos últimos dias para a revisão dos cálculos do programa de distribuição de lucros (PPR) aos funcionários da empresa. Na quinta-feira, apenas metade do turno da manhã, de 2,2 mil pessoas, compareceu. Ontem, entre 60% e 70% dos funcionários estavam trabalhando.

A confusão começou quando os sindicalistas trancaram a Rua Atílio Andreazza, que dá acesso à empresa, no bairro Sagrada Família, por volta das 6h30min. A Brigada Militar (BM) foi acionada para acompanhar a manifestação. A prisão do presidente do sindicato, vereador Assis Melo (PCdoB), intensificou o conflito, deflagrando confronto entre policiais, sindicalistas e trabalhadores.

A polícia usou bombas de gás, balas de borracha e cacetetes para controlar os manifestantes. Três sindicalistas foram encaminhados à Delegacia de Polícia, pelo menos cinco manifestantes e dois policiais ficaram feridos. Além de Melo, foram detidos Sálvio Fontes, seu assessor na Câmara de Vereadores, e Mercildes do Carmo, diretor do sindicato. Durante quase duas horas, sindicalistas, funcionários e curiosos se concentraram em torno do caminhão de som do sindicato à espera da volta do presidente, mas um novo confronto ocorreu quando os policiais tentaram guinchar o veículo. Pelo menos outros cinco sindicalistas ficaram feridos em novas explosões de bombas e tiros com balas de borracha.

Na quinta-feira, a Randon conseguira uma decisão judicial proibindo assembleias a menos de cem metros da empresa. Durante a semana, manifestações ocorreram em frente aos portões. Ontem, a orientação foi seguida pelos sindicalistas, que instalaram o carro de som a mais de 500 metros da avenida.

– Estávamos obedecendo a uma decisão judicial e fazendo uma manifestação pacífica até os policiais chegarem – relatou o vice-presidente do sindicato, Leandro Velho.

Ao sair da delegacia, Assis Melo considerou a ação da BM arbitrária.

– Houve despreparo da polícia. Não havia razão para agirem com essa violência. Eu me sinto agredido moral e fisicamente – afirmou Melo.

Comando da BM instaura inquérito para apurar conflito

O comando da BM instaurou inquérito policial militar (IPM) para apurar as causas do conflito. A decisão foi do coronel Telmo Machado de Souza, titular do Comando Regional de Policiamento Ostensivo da Serra (CRPO-Serra). O IPM tem 40 dias para ser concluído, podendo ser prorrogado por mais 20 dias.

– Houve bloqueio da via e da empresa, e a empresa chamou a Brigada. A polícia é reativa, é provocada a reagir – explicou Machado de Souza.

Segundo o comandante, os brigadianos intervieram porque manifestantes, liderados por Melo, tentaram impedir o acesso de trabalhadores.

– Eles desrespeitaram o interdito da Justiça. A BM agiu quando o Assis começou empurrar quem queria trabalhar. Até cadeados colocaram nos portões na madrugada – disse.

A versão foi ratificada pelo comandante do 12º Batalhão da Brigada Militar, tenente-coronel Júlio César Marobin, responsável pelo policiamento:

– Ele (Melo) foi apresentado por incitar à desordem. Dois homens foram feridos por tijolos e paralelepípedos. Foi uma reação natural de contenção.

* Colaborou Roberto Carlos Dias



VANESSA FRANZOSI* | Caxias do Sul
ENTENDA O CASO
- Em 5 de fevereiro, trabalhadores da Randon Implementos recebem os lucros distribuídos (PPR) do segundo semestre de 2009. Os valores ficam entre R$ 40 e R$ 200.
- Quarta-feira, descontentes pelo valor inferior ao pago por outras unidades, colaboradores do turno da noite são recebidos com uma assembleia do sindicato que os incentiva a não entrar. Pelo menos 90% dos 1,1 mil funcionários aderem.
- Assembleias continuam na frente da empresa na quinta-feira. No final da tarde, é expedido um Interdito Proibitório que veda manifestações a menos de cem metros da empresa.
- Na manhã de ontem, nova assembleia ocorre na rua de acesso à empresa, a mais de 500 metros de distância do portão principal. O trânsito é interrompido pelos manifestantes. A Brigada é acionada para controlar a situação.
- Na tarde de ontem, ocorre audiência na Justiça do Trabalho para tentar um acordo entre o sindicato e a empresa. Sindicalistas pedem pagamento de R$ 1,2 mil a cada funcionário. A juíza contrapropõe R$ 900. A empresa não aceita.


Fonte: Zero Hora

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