quarta-feira, 17 de março de 2010

Poucos Negros na Passarela


Modelos
Ainda há poucos negros a desfilar na 'passerelle'
por CATARINA VASQUES RITO14 Março 2010


A moda não vive só de 'designers'. Os manequins são parte fundamental nesta indústria, existindo, no entanto, ainda poucos de raça negra a desfilar.


A presença de manequins ne- gros nas passerelles da ModaLisboa, a decorrer até hoje no Páteo da Galé, no Terreiro do Paço, fez-se notar mais pelo lado masculino que do feminino. Cláudio, Luís Borges e Armando Cabral ou Ana Sofia são alguns exemplos a desfilar para diferentes criadores nacionais. Mas então porque é que em Portugal, país que tem uma relação muito forte com a cultura africana (PALOP) e muitos portugueses de origem angolana, moçambicana, entre outros, não aposta mais na presença destes manequins? "Quando estou a fazer um casting para a ModaLisboa e vejo os candidatos, o importante é que tenham as medidas que os designers pretendem para desfilarem as suas colecções. Faço sempre questão que existam manequins de cor ou de outras etnias, como é o caso de nesta edição termos uma manequim chinesa. No entanto, as mulheres de origem africana, em Portugal, ao contrário do que acontece noutros países europeus ou americano, têm formas pouco próximas das que procuramos, são mais roliças. Tudo isto independentemente de serem bonitas, altas e magras, mas existem partes do corpo que são diferentes, e quando falamos com os criadores eles pedem um certo tipo de corpo que temos de conseguir satisfazer", explica Luís Pereira, director de casting da ModaLisboa ao DN.

Armando Cabral, manequim há cerca de dez anos e a viver em Nova Iorque, sente que poderia haver mais modelos como ele a desfilar. "Comecei a ser convidado para desfilar na Semana de Moda de Lisboa há pouco tempo, o que me deixa muito feliz. Sou português e o meu trabalho foca-se basicamente lá fora. Mas confesso que muitas vezes sentia pena ver colegas meus brasileiros a dizerem que iam trabalhar nas Semanas de Moda de São Paulo ou do Rio de Janeiro e ficava triste por ter de dizer que ia para Nova Iorque e não para Lisboa. Nunca senti discriminação por parte de ninguém, mas senti no início da minha carreira, nalguns países europeus, uma certa resistência em dar-me trabalho. Curiosamente, essa resistência foi mais da parte das agências que dos criadores. Mas assim que me começaram a ver trabalhar, digo com orgulho que estou sempre na lista da Louis Vuitton, Dolce & Gabbana, Calvin Klein, Dries Van Notten. Na cidade onde vivo esta questão nunca se colocou. Sinto-me muito bem recebido", salienta.

"A questão racial é-me indiferente. O importante é se a manequim corresponde à imagem que idealizei para a colecção em questão. Muitas vezes o tema ajuda. Agora, dizer não a uma manequim porque é de cor, ridículo. Tem é de saber trabalhar, desfilar e ter o cabide certo para a roupa que desenhei", frisa Pedro Pedro, designer de Moda ao DN.

Um dos criadores nacionais que faz sempre questão de ter manequins de cor nos seus desfiles é Miguel Vieira. "Para mim não existe raça nos manequins. Toda a gente sabe que a Nayma é a minha musa, e grande amiga, e que sempre trabalhei com modelos de estilos diferentes. O importante é que saiba trabalhar, tenha as medidas pedidas." E, conclui: "Acima de tudo, quero que a minha roupa seja vestida por todas as pessoas, por isso recorrer a vários estilos fisionómicos - louros, morenos, pele quase pálida -, enfim gosto de criar diversidade."

Tags: Cartaz, moda
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Fonte: DN Cartaz

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