quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ruy Carlos Ostermann



Mas quem aprende?
Ruy Carlos Ostermann

A gente só se conhece aos poucos, por isso não pode haver pressa ou afobação. Não estou dizendo nada de novo. O que é mesmo que o inesquecível e indispensável Heráclito, o dos fragmentos e do compreensivo ensaio de Donaldo Schüler (Heráclito e seu discurso, L&PM Pocket), exigia do interlocutor de suas frases? Antes que ele dissesse alguma coisa, irrompida pelo seu entusiasmo ou incontida por suas urgências, o grande grego pedia, com amabilidade, que era sempre urgente que conhecesse a si mesmo.


Uma introspecção só, não um mergulho, porque, afinal, se trata de uma questão moral e intelectual, e em matéria de prospecção de si mesmo nada melhor do que o tempo, a reflexão e uma grande humildade, sem afetos ou orgulhos, uma coisa feita no chão de cada um.


Fui para trás porque, aqui na frente, no estômago e suas adjacências, estou passando por alguns contratempos que preciso investigar. Já fui ao médico, e ele, com a parcimônia dos médicos que não se surpreendem mais, me garantiu que o processo digestivo está saudável, em pleno funcionamento, e não é por ele que chegarei a essa pequena verdade heraclitiana sobre meu aparelho digestivo. Vou fazer exames, claro, mas antes de dizer a verdade ao médico já estou repetindo para mim mesmo que o problema é um desconhecimento de quem sou visto por baixo.


Todas as vezes (não são muitas) em que como e bebo demais para acompanhamento da mesa e dos amigos, como foi, literalmente, o caso desse último fim de semana, o primeiro do mês – 80 anos do Antonio Carlos Porto, em todo segundo andar do Copacabana, homenagem dominical à família com massa e tatu, repique à noite, por assim dizer –, rebelam-se os órgãos internos, fico enjoado, quase vomito, e acabo ficando de molho, como na segunda-feira, deitado e muito arrependido.


Mas quem aprende?

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