terça-feira, 1 de junho de 2010

Anos de Chumbo

Tortura e luta pela anistia são foco de novo filme sobre os anos de chumbo
LUIZ VITA
Especial para o UOL, do Cineweb
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O diretor gaúcho Paulo Nascimento se prepara para lançar seu quarto longa metragem, “Em teu nome”, num momento especialmente propício para o debate: o da polêmica suscitada pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em não revogar a anistia política para acusados de terem torturado presos políticos. O filme, rodado no Rio Grande do Sul, França e Marrocos, aborda de forma romanceada a vida do ex-preso político João Carlos Bona Garcia, exilado durante a década de 1970 no Chile, Argélia e França.

O filme, exibido no ano passado no festival de Gramado e vencedor de quatro Kikitos (diretor, ator para Leonardo Machado, trilha sonora e prêmio especial do júri), estreia no próximo dia 28 em São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Rio, Salvador e Brasília. A empresa Espaço Filmes, responsável pela distribuição, fará promoção destinada a professores com ingressos a R$ 3 em alguns cinemas, em sessões durante a semana. “Temos uma flexibilidade muito grande de buscar caminhos alternativos para fazer o filme chegar ao público”, afirma Paulo Nascimento em entrevista ao UOL Cinema.

O filme conta a história de um grupo de militantes políticos que passa para a luta armada com o recrudescimento da ditadura no Brasil após a edição do AI-5. O papel de Bona, na época estudante de engenharia, é interpretado por Leonardo Machado, que acaba se aprofundando nas ações do grupo, mesmo com muitas restrições aos métodos utilizados. As divisões internas da esquerda brasileira são mostradas de forma didática, pensando principalmente no público mais jovem, que não viveu aquele período. “Ao começar a mexer nesse assunto, me impressionou a total falta de memória, de informação ou até de descrença sobre a realidade dos fatos, que a nova geração tem. Já os mais velhos, em muitos casos, situam o assunto na mesma linha de tempo da Guerra do Paraguai”, explica o diretor.

Por esse motivo, o filme situa o espectador com informações históricas sobre cada momento enfrentado por Bona e militantes de seu grupo, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), autora de assaltos e do seqüestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, liderado pelo capitão do Exército Carlos Lamarca. Bona, na prisão, estava no grupo de 70 guerrilheiros presos trocados pelo diplomata. O estudante partiu para o exílio no Chile, depois Argentina, Argélia e França e só retornou ao Brasil em 1979, com a promulgação da lei da Anistia.
Nascimento revela que tinha intenção de contar a história desse período de forma ficcional e chegou a Bona e sua mulher, Célia, por indicação de um amigo. “Ao ouvir os dois contarem o que viveram, percebi que jamais conseguiria criar algo melhor. A história tinha todos os componentes que eu queria: emoção, determinação, amor, superação, tudo o que se busca para um roteiro e raramente se consegue”, lembra.

O diretor ainda aprofundou suas pesquisas em conversas com outros ex-presos políticos, como Índio Vargas, autor do livro “Guerra é Guerra, dizia o Torturador”. “Digamos que 70% da história é baseada em um só pessoa, mas ela carrega traços de várias outras, até porque há uma similaridade bastante forte entre os que sucumbiram”.

Mesmo tratando de fatos tão horripilantes, como a tortura, o filme passa uma serenidade explicada pelo próprio personagem principal que, com o passar do tempo, entende que o passado precisa ser superado. “Não manter o ódio, até como forma de sobrevivência, mas não fazer de conta que nada aconteceu. Os fatos foram graves, os erros foram graves, os tempos mudaram, mas existiram”, resume o diretor.

Uma figura emblemática da história é a personagem interpretada por Sílvia Buarque que, no exílio, não consegue se encaixar na nova vida, mais segura em outro país. As sequelas do período em que foi torturada nunca foram superadas e só aprofundaram seu alheamento da realidade e desistência da vida. “Quando se resolve retratar a realidade sem retoques, o público pode até duvidar, mas a verdade é mais forte”.

Nascimento já tem um novo projeto que deverá ser filmado a partir de fevereiro do próximo ano. O filme vai se chamar “A Oeste do Fim Do Mundo” e será uma coprodução entre Brasil, Argentina e Inglaterra.




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