segunda-feira, 12 de julho de 2010

Delírio de Gabriel de Fochem


Carta O Berro............................................................................repassem



Um textoprosapoema de José-Augusto Carvalho, nosso amigo e companheiro,
sobretudo, para refletir, desalienar e enxergar que o mundo globalizado nos
leva a Guernica de hoje: vender e comprar a consciência. Um viver sem vida.
Vidas em destruição como o horror refletido na tela de picasso.

O DELÍRIO DE GABRIEL DE FOCHEM


Cada dia que passa, o mundo é mais pequeno.
As notícias que chegam, desnudam as misérias paridas pelo incensado avanço duma civilização que se reclama, aos quatro ventos, dos direitos humanos.
A civilização que, num frenético leilão, compra e vende consciências.
A civilização que avilta a dignidade em chás de caridade e em paradas de pompa e circunstância.
Ah, e como as pantalhas de todas as latitudes disputam, como as feras, a presa indefesa, em acções concertadas de eficaz e paciente anestesia!
Ah, e como a presa indefesa e quase inerme voga na corrente dum recuperado Hades, donde foi banido Caronte e a sua barca!...

É preciso vender! É urgente vender! É inadiável vender, cada vez a preços mais acessíveis, as manhãs sem sol, o mar sem vida nem aventura, a desgraça sem fim da desesperança!

É preciso vender! É urgente vender! É inadiável vender o elixir da alienação, para, mais e mais, ser garantida a ostentação dos poderosos!

É preciso vender! É urgente vender! É inadiável vender as lotarias que fazem um rico e desesperam milhões de pobres!

É preciso vender! É urgente vender! É inadiável vender balelas coloridas que distraiam o dia sem fim e torturam de sonhos a noite da vida!

É preciso lamentar! É urgente lamentar! É inadiável lamentar o luto dos sobreviventes da catástrofe!

É preciso chorar! É urgente chorar! É inadiável chorar o pranto continuado das carpideiras que, por trinta dinheiros, elegem heróis os mortos, os mortos que já nada podem reclamar aos vendedores de ilusões e mentiras e aos carcereiros desta penitenciária de segurança provada, que pretende a fuga impossível e a morte o alívio que resta!

É preciso calar! É urgente calar! É inadiável calar os gritos lancinantes dos condenados!

É preciso calar! É urgente calar! É inadiável calar as verdades alucinadas da loucura que ainda grita que o rei vai nu na força da vontade que recusa render-se!

É preciso incensar o Poder! É urgente incensar o Poder! É inadiável incensar o Poder que legitima as cruzes intemporais de todos os calvários!

É preciso regressar a Roma! É urgente regressar a Roma! É inadiável regressar a Roma e recrucificar todos os perigosos malvados que sabem conjugar o verbo em todos os tempos.

Viana de Fochem
Julho de 2010





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