segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Carta o Berro

Carta O Berro...................................................................repassem


Meus amigos, vejam esta entrevista do escritor e cientista política Moniz Bandeira, ao jornal Brasil de Fato, de São Paulo.
Moniz Bandeira é sobrinho do meu querido amigo Edmundo Moniz, que tive o orgulho e honra de ter sido seu assessor de imprensa na Secretaria Estadual de Cultura, no segundo governo do Leonel Brizola. Bandeira escreveu uns 30 livros, mora há 20 anos,
em Heidelberg, na Alemanha, onde é consul honorário do Brasil.
Seus livros são recomendados aos alunos dos cursos do Instituto Rio Branco, para quem quer seguir a carreira diplomática no Ministério das Relações Diplomáticas do Brasil.

Abração do Sergio Caldieri


Brasil de Fato

30 de Julho de 2010

“Crise é sistêmica e epicentro está nos EUA”, diz Moniz Bandeira

“Crise é sistêmica e epicentro está nos EUA”, diz Moniz Bandeira

Segundo o cientista político, a situação da moeda estadunidense é pior do que a do euro

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/entrevistas/201ccrise-e-sistemica-e-epicentro-esta-nos-eua201d-diz-moniz-bandeira/image_mini

28/07/2010

Renato Godoy de Toledo

da Redação

O cientista político e historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira concedeu uma entrevista ao Brasil de Fato acerca da crise na Europa. Moniz Bandeira aponta que a crise europeia tem origem no sistema financeiro dos EUA e os reflexos têm aparecido mais na Europa, até por conta de as agências de avaliação de risco terem sede em Wall Street.

Confira a entrevista abaixo.

Brasil de Fato - A atual crise na Europa faz repensar se "valeu a pena" a constituição da União Europeia? Dá para avaliar se a UE ainda promove mais ganhos do que perdas para os cidadãos europeus?

Luiz Alberto Moniz Bandeira - Não se pode discutir se “valeu ou não” a constituição da União Europeia. Constituiu uma consequência natural do desenvolvimento do capitalismo, decorrente de uma necessidade histórica, tal como, na segunda metade do século XIX, processou-se formação dos Estados nacionais, com a superação dos Estados pequenos, das formas débeis de Estado, geradas na época da economia natural e da economia simples de mercado, pelo Estado unitário. Essa questão eu exponho detalhadamente em dois dos meus livros: “Brasil, Argentina e Estados Unidos (Da Tríplice Aliança ao Mercosul)”, cuja 3ª edição a Editora Civilização Brasileira acaba de lançar, e “Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque)”, no qual demonstro que, conforme Kautsky previra, a guerra mundial compeliu as potências imperialistas a formar uma federação, e o capitalismo entrou em nova fase, marcada pela transferência dos métodos dos cartéis, para a política internacional, a fase do ultra-imperialismo, e a transferência das guerras para a periferia do sistema. A crise da União Europeia é uma crise global, cujo epicentro está nos Estados Unidos.

Na sua opinião, quais são os principais motivos para a crise mundial ter impactos mais duradouros na UE do que em países como o Brasil e até mesmo os EUA?

A economia capitalista mundial é um todo e não uma soma de economias nacionais. Ela envolve não só as potências industriais, como também os países em desenvolvimentos e os mais atrasados.

Porém os impactos agora são mais visíveis na União Europeia em larga medida devido à especulação das agências de classificação de risco, quase todas ou todas sediadas em Wall Street e sob o controle dos bancos de investimentos dos Estados Unidos.

A crise na Grécia e em outros países da eurozona refletiu a sobrevalorização do euro, devido exatamente à elevada desvalorização do dólar, e isto dificultou as exportações dos países mais débeis como Grécia, Irlanda e Portugal, em meio a outros fatores como irresponsabilidade fiscal, descontrole dos gastos públicos, elevados déficits orçamentários, déficit comercial, corrupção, inflação e estancamento econômico.

Daí que é difícil prever, devido aos seus múltiplos aspectos, inclusive sociais e políticos. É uma crise sistêmica e, como disse, o epicentro está nos Estados Unidos. O Brasil naturalmente tem problemas. Mas a rigorosa política econômica e financeira do governo Lula, mantendo regidamente a responsabilidade fiscal e contendo a inflação, concorreu para evitar que sofresse maiores consequências da crise financeira global. Ademais o Brasil somente exporta cerca de 13% de sua produção e diversificou, com a sua política externa, os mercados no exterior. Atualmente exporta mais para os países em desenvolvimento do que para a Europa e os Estados Unidos, regiões mais diretamente afetadas pela crise.

Esta crise é a mesma crise de 2008? Em outras palavras, a origem da crise está na EU ou no mercado financeiro internacional?

A erupção da crise, que abala toda a eurozona (16 dos 27 Estados-membros da União Europeia e outros nove não-membros da UE que adotam o euro), constituiu um desdobramento, a terceira etapa da crise econômica e financeira deflagrada nos Estados Unidos, com a explosão do mercado imobiliário, no primeiro semestre de 2007, quando grandes corretoras, como Merrill Lynch e Lehman Brothers, suspenderam a venda de colaterais, e em julho do mesmo ano, bancos europeus registraram prejuízos com contratos baseados em hipotecas sub-prime. Em seguida, setembro de 2008, a crise atingiu o setor bancário, com a bancarrota e a dissolução do Lehman Brothers, o quarto banco de investimento dos Estados Unidos. E comprometeu e envolveu, finalmente, os próprios Estados nacionais. Levou a Islândia, cujos bancos mantinham negócios num valor três vezes maior do que o PIB do país, a uma virtual bancarrota, com reflexo sobre o Reino Unido, seu principal credor. E, em fins de 2009, manifestou-se na Grécia, ameaçando a estabilidade de toda a Eurozona, dado que vários países não cumpriram as metas do Tratado de Maastricht para a unificação monetária, entre as quais controle do déficit orçamentário (até 3% do PIB),do endividamento público (até 60% do PIB).

O fim do euro está em debate na UE?

Não está em debate o fim do euro. Sua instituição, como moeda única, resultou da crise de câmbio estrangeiro que atingiu a Europa nos primeiros anos da década de 1990, quando fluxos especulativos quase destruíram o mecanismo anterior de taxas de câmbio "fixas mas adaptáveis". Há problemas, naturalmente, que decorrem da moeda única adotadas por 16 países, cujas práticas políticas, leis, necessidades, dimensões econômicas e governos são diferentes. Se cada um desses países ainda tivesse a sua própria moeda nacional, poderia desvalorizá-la, se sua economia fosse mal administrada, sem responsabilidade fiscal, e sofresse um ataque especulativo. Porém, com a substituição das moedas nacionais, que os próprios Estados nacionais podiam emitir, pela moeda única, o euro, a desvalorização tornou-se impossível. É difícil, portanto, administrar uma moeda única, sem um poder central, dado que a existência de assimetrias, sobretudo econômica, e os governos nacionais podem tomar decisões financeiras, em virtude de pressões sociais e políticas domésticas ou de outros fatores. A perspectiva mais viável é a submissão dos Estados de economia mais débil, como Grécia e Portugal, às políticas fiscais da Alemanha e França, com a adoção de critérios rígidos de convergência, para monitorar, sobretudo, as taxas de inflação, as finanças públicas e a estabilidade monetária. E é preciso observar que o euro, instituído pelo Tratado de Maastricht (1992), embora vítima dos especuladores, ainda está mais valorizada que o dólar, moeda sem qualquer lastro, cuja tendência é declinar cada vez mais. Enquanto o aumento das reservas oficiais em euros cresceu 27% do total mundial em 2008, uma elevação de 18% em uma década, no mesmo período, a parcela dessas reservas em dólares caiu de 71% para 63%. E o dólar, após desvalorizar-se 40% entre 2002 e 2008 e fortalecer-se 20% em relação ao euro, entre março e dezembro de 2008, durante a crise financeira, voltou a cair 20%, entre março e dezembro de 2009, devido à preocupação no mercado com a dívida externa dos Estados Unidos. A revalorização do dólar apenas refletiu a crise da Eurozona. Foi conjuntural. O dólar está estruturalmente debilitado pelos déficits fiscal e cambial e pela elevada dívida externa líquida dos Estados Unidos. A perspectiva é de que, mais dias menos dias, deixe a condição de única moeda internacional de reserva, apesar da China e de serem os Estados Unidos o centro do sistema capitalista mundial.


Qual tem sido o papel de partidos de esquerda na Europa diante dessa crise?

Conforme o grande historiador Eric Hobsbawm disse entrevista à agência de notícias Telam, da Argentina, “já não existe esquerda tal como era”, seja social-democrata ou comunista. Ou está fragmentada ou desapareceu. Não há contraste, não há virtualmente oposição. As diferenças consistem somente no matiz dos partidos. Diversos fatores econômicos e sociais produziram, sobretudo nas potências industriais, certo esmaecimento das contradições políticas e ideológicas entre os partidos políticos, cujas iniciativas, no governo, não muito discrepam, na Alemanha, França, Inglaterra, muito menos nos Estados Unidos, onde os Partido Democrata e o Partido Republicano, essencialmente, pouco se diferenciam.


O Estado de Bem-estar social corre o risco de deixar de existir depois da crise, diante dos pacotes econômicos de caráter neoliberal?

A existência de poderoso exército industrial de reserva debilitou o poder de negociação dos sindicatos, cuja articulação política, restrita aos limites de seus respectivos Estados nacionais, não acompanhou o desenvolvimento da organização transnacional capitalista, que permite às grandes corporações, com subsidiárias nos novos países industrializados, contar com amplos recursos para resistir às pressões e minimizar os efeitos de qualquer paralisação do trabalho. O deslocamento da produção para os países com níveis salariais mais baixos, as diferenças de condições sociais e políticas, bem como dos níveis de organização obstaculizam, por exemplo, o êxito da coordenação internacional de uma greve, com o objetivo de paralisar, simultaneamente, todas as unidades de produção da mesma empresa espalhadas por diversos países. E o poder dos sindicatos foi ainda mais enfraquecido pela expansão do mercado global de trabalho, com o aparecimento de 1,2 bilhão de novos trabalhadores e de outros milhões dispostos a trabalhar por qualquer salário, para ter um meio de subsistência. Porém, é muito pouco provável, difícil mesmo, acabar totalmente com o Estado de bem-estar, em virtude de suas terríveis consequências políticas, com a desestabilização dos regimes na União Europeia e na Europa em geral.

Luiz AlbertoMoniz Bandeira é cientista político e historiador


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