domingo, 7 de novembro de 2010

Caminhos das Folhas



Há dias quero tocar no assunto que está envolvendo figurões das letras. Já escrevi sobre isso mas o texto está inédito ainda, inserido num trabalho sobre lavadeiras, maior do que o artigo que enviei a mts de vcs quando saiu na Bahia.
Da última vez que olhei, ontem, alguém exclamava no Globo que Tia Nastácia não era racista. E não era mesmo, quero crer, racista era o seu criador.
Se vc só conhece o Sítio do Pica-pau Amarelo de ver na TV, esquece. Vá ler os livros. Se vc leu e lembra, lembre da frasezinha "ela era negra mas tinha a alma branca" que volta e meia aparece. Aliás é TIA Nastácia, pra evitar incômodos pirralhos de cores não aprovadas pela sociedade tradicional da época.  
O problema é que as pessoas são maniqueístas e não aceitam que a pessoa que se distinguiu muito por suas boas qualidades possa manifestá-las, tb, menos boas... Quem nos dera fosse como elas querem, mas não é. Monteiro Lobato criou uma maravilhosa série infantil. Mas era sim racista, um racista sem dúvida brando, se comparado á KKK norteamericana. Disse um jornalista francês, que se sentia discriminado em seu país qdo menino por falar langue d´oc, que a melhor forma de descobrir se um texto é ou não racista é colocar-se na pele do personagem descrito. Se eu fosse Tia Nastácia não iria gostar nadinha nem da frase citada, nem de mais virulentas tiradas proferidas pela (por outro lado fascinante) Emília, nem de ser retratada sem família própria, um ser castrado, adestrado para cozinhar pros filhos alheios. 
Quem duvida do racismo de ML: existe um livro dele, O Presidente Negro, do qual a Piauí publicou longos trechos qdo Obama se elegeu; ele imagina um país em que a miscigenação, em vez de tornar o mundo pardo de uma vez, o que sem dúvida é o seu destino, CLAREIA aos poucos os negros misturados aos mais claros, com a ajudazinha de um química que não lembro. Não sei se é branqueador ou anticoncepcional. Mas é pra clarear o mundo, pra "melhorá-lo" mental e esteticamente. Gente!..
Por fim, o que fazer com os livros da série? Obviamente seguir publicando, se possível no charmoso formato antigo, selecionando porém trechos nas escolas que não agridam ninguém; nunca mais reli Caçadas de Pedrinho, no ápice da polêmica; era um dos meus prediletos, mas se é pra ensinar a matar bicho talvez não seja o mais adequado pro ensino fundamental. E por que não inserir um PREFÁCIO nos livros da série? explicando que a visão da Tia Nastácia hoje nos parece preconceituosa? Criança não lê prefácio?? Bota um bom autor infantil pra fazer que eles lêem sim. Não precisamos nem usar os termos "racismo" nem "preconceituoso" para falar de racismo e de preconceito.
Era isso que eu queria compartilhar com vocês.
 
  
Gisela D'Arruda

 

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