quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ruy Carlos Ostermann

A Toscana, logo à Esquerda

Ruy Carlos Ostermann


Nunca fui à Toscana, estou indo agora, homem feito, baixas ilusões, visão prejudicada, menos cabelos, mais aflições, menos vontades. Acabo de chegar do Rio, 12 horas de Air France, mais cinco no Charles De Gaulle, interminável em escadas rolantes, andares. Até de ônibus foi preciso andar para que se chegasse ao G2, se submetesse à detecção de metais, sem sapatos, sem cinto, moedas e até o boarding pass, que sempre me pareceu inofensivo – até demais.

Estou escrevendo suado e com sede, depois de mais de dois quilômetros a pé – ou seriam mais? –, no G2, que é um amplo salão com poltronas quase confortáveis e esses computadores, mais de vinte, um ao lado do outro, e pessoas silenciosas à exceção do basco que está a minha frente e já deu instruções aos interlocutores que, aparentemente, não dizem nada. O basco entra pelo meu ouvido esquerdo, o que me garante que estou mesmo em trânsito.

Esse computador ainda me mata. O A fica em cima, o Q embaixo, fico mais tempo corrigindo do que escrevendo. Mas viajar também é assim, perdem-se as referências; o mundo roda e a cadeira fica. Fecho os olhos, revejo os pés, tenho certeza de que alguma coisa vai acontecer.

Afinal, estou a caminho de Florença, onde tudo vai começar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sim