sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ruy Carlos Ostermann

Uma experiência espiritual
Ruy Carlos Ostermann
 
Não sou um religioso, mas não dou discurso. Sou quietamente um homem de outra fé. E admito perfeitamente que todos devam ter a liberdade de decidir e se referenciar a ela como uma conquista do ser humano. Essa é a compatibilidade que rejeita os fanatismos, as reduções, a exclusão e a pretensão de superioridade. Procuro ser justo, espero a justiça e sou capaz de lutar por ela. Não há bem maior para ser humano.
Entrei na Capela Sistina, no Vaticano, em Roma, em silêncio e conduzido passo a passo por esse bom sentimento. Era um longo corredor de ambientes repletos de quadros renascentistas, etruscos, clássicos, óleos impecáveis na granulação de cores celestiais (que outra cor poderiam ter para humanos contritos e apossados de genialidade?), estátuas e bustos vigorosos, cabeças altivas, olhares fortes mas resignados, cenas de elevação e culto.  
E, hora e tanto depois de lenta e persignada caminhada, abriu-se na Capela, quase sem luz, uma sala imensa com um altar pequeno e uma cruz lisa, banco de mármore escuro em toda a volta, único refúgio para se sentar. Foi o que se fez, quando o cansaço aparentemente se impunha ao nosso deslumbramento. Mas não era, não se estava sentado simplesmente: estávamos fascinados pelo lugar, ninguém dizia nada, todos olhavam para os céus de Michelangelo e o fundo da Capela, para as imensidões das cenas bíblicas, e não se moviam.

Foi uma experiência iluminadamente espiritual.  
 
 
 

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