O romance de Manuel Ricardo Miranda «Ginga Rainha de Angola», publicado pela Oficina do Livro, Suponho que pode ser adquirido entrando em contato com a editora. Já tentaram? E hoje eu li a entrevista da Associação Portuguesa de Cultura Afro-Brasileira com o autor No seguimento do romance «Ginga Rainha de Angola», publicado pela Oficina do Livro, a APCAB convidou Manuel Ricardo Miranda para uma conversa que reproduzimos em seguida: APCAB: Porquê um romance com temática africana? MRM: Como refiro no prólogo do romance, tudo começou há quatro décadas, quando convivi de perto com um amigo e companheiro de armas, no mato angolano. Ambos milicianos, cumpríamos o serviço militar obrigatório. Ele, dizia-se descendente de uma rainha africana do século XVII e tudo o que teve oportunidade de contar, deixou-me simplesmente fascinado. Os anos passaram-se com outros interesses e afazeres. Mais recentemente tive disponibilidade para investigar o que os livros contavam sobre essa rainha, que em tempos deixara-me tão curioso. À medida que ia lendo a história da rainha crescia o meu interesse e o desejo de criar um romance tendo como figura central a lendária rainha. APCAB: O que o fascinou na Rainha Ginga que fecundou a escrita de um livro? MRM: A rainha Ginga é um exemplo de longevidade. Viveu 82 anos de uma vida guerreira, numa época na qual se atingia a velhice aos cinquenta anos. Um outro facto notável e talvez único na história de África, Ginga foi, durante quarenta anos, rainha de um imenso território no coração de Angola. A sua vida, poder-se-á considerar um exemplo de luta permanente contra o tráfico de escravos. Tendo como base o que tive oportunidade de investigar, considero-a uma verdadeira nacionalista. APCAB: Estarão os portugueses aptos e motivados para a leitura de um romance cuja temática é africana, como acontece no Brasil? MRM: As raízes brasileiras são indiscutivelmente africanas, nomeadamente angolanas. Milhões de escravos durante mais de dois séculos afluíram ao Brasil e ajudaram com o sacrifício das suas vidas penosas a construir a grande Nação da actualidade. O livro é também um preito de homenagem a esses homens e mulheres. APCAB: A lusofonia é um conceito bastante em voga mas peca pela verdadeira multiculturalidade. Poderão os livros combater isso? E quando não há espaço para temática? MRM: Lusofonia é uma palavra verdadeiramente abrangente e de uma riqueza impar. A multiculturalidade é resultante de uma verdadeira amálgama de povos com um passado comum. Oxalá o futuro tenha o mesmo rumo. APCAB: Sabia que a rainha Ginga é muitas vezes sincretizada, na tradição oral, com a divindade yorubá Oyá-Yasan ou com a divindade bantu Bamburussena? MRM: Sou pouco conhecedor da associação que se pretende estabelecer entre a rainha Ginga e as divindades que referem. O povo da rainha Ginga pertencia ao grupo étnico banto, ao qual se ramificam várias centenas de subgrupos étnicos distintos, existentes em toda a África subsariana. As suas práticas religiosas eram profundamente animistas, sendo ao longo dos séculos influenciadas por outras religiões e distintas divindades. APCAB: A identidade cultural portuguesa está em mudança. O que lhe sugere a ideia de uma cultura luso-afro-brasileir a? MRM: Eu diria que já vivemos em Portugal uma cultura luso-afro-brasileir a. Para nos apercebermos de tal fenómeno basta simplesmente entrar no café do nosso bairro. Vemos nesse mesmo espaço, vidas partilhadas, com idênticos sonhos e ilusões, africanos, brasileiros e portugueses, falando a mesma língua e trocando opiniões sobre assuntos que de igual modo interessam a todos. |
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