quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Noticias de Arquivo

Tomás,
 
Concordo contigo em relação à fome e, vou além quando pensarmos que a fome é apenas um dos problemas macro-sociais por qual passa Angola, bem como outros países africanos.
 
A questão é que vivemos sob um mundo competitivo, globalizado, em que as economias estão cada vez mais integradas, interdependentes e têm se aproximado sob aspectos geográficos, políticos, culturais e, até mesmo, religiosos. Nenhum país mais cresce e evolui sozinho. Nem o Brasil nem qualquer outro... A atual crise financeira internacional se iniciou nos EUA e alastrou-se pelo mundo, mostrando a força que a economia globalizada tem. Não significa que é o momento pior porque a crise é norte-americana, significa que as economias estão interligadas e dependentes. Em 1998 tivemos a crise na Ásia que afetou todo o mundo, um pouco depois, foi a Rússia que passou por problemas afetando o mundo. Todos os países, próximos ou não, estão conectados e talvez seja tarde demais para rever esse modelo capitalista e pós-moderno. Até mesmo as economias socialistas têm aderido ao modelo, para conseguirem sobreviver à lógica global. Assim, estamos inseridos em um modelo que ou se isola estando fadado ao retrocesso ou se integra ao globalismo para se manter e evoluir. Entre e o "se manter" e o "evoluir" há uma grande distância, mas aí entramos em outra discussão...
 
Toda economia nacional é gerida por seus líderes políticos, bem ou mal, é assim que funciona. Seja em governos de 10 anos de mandato ou mais, como ocorre em Angola desde sua independência e posteriores disputas entre MPLA e UNITA, seja naqueles em que de 4 em 4 anos há possibilidade de troca, sendo a população responsável pelas escolhas, como ocorre no Brasil desde 1989, pós ditadura militar. Por isso, cada político aplica seu mandato como lhe convém, desde que sua população o acolhe. No Brasil, tiramos um presidente que prejudicou o país, como foi Fernando Collor, no entanto, mantemos no mandato o atual governante, que apesar de constantemente apedrejado por corruptos a sua volta, faz um governo em prol do crescimento do país, auxiliando a classe C e D emergir como nunca se viu. É só perguntar para qualquer membro da população de classe C e D do país que estou certo que haverá unanimidade de que hoje vivem melhor. Lembro que não estou dizendo que o presidente é perfeito e nem que tudo que é feito é correto ou maravilhoso, apenas coloco que há prioridades que estão diretamente atingindo essa massa da população, que aliás corresponde por mais de 50% do país.
 
Nesta perspectiva, incentivar os biocombustíveis é fundamental para o Brasil dentro e fora do país. Quem disse que não existe desmatamento no país? Quem disse que não existe clandestinidade? Quem disse que não existe, ainda, trabalho infantil? Que há ainda famílias que sofrem com a exploração em zonas rurais? Isso infelizmente é uma realidade. Participo de uma ONG brasileira que tem um de seus projetos relacionados à agricultura familiar. A cana para o etanol, as sementes olegienosas para o biodiesel e outros fontes para biomassa gerão rendas, trazem oportunidades de trabalho e criam as bases para a subsistência de populações carentes, ribeirinhas e isoladas das grandes cidades/metró poles. É claro que falo de uma situação isolada que vi acontecer que fazia algumas famílias felizes, mas porque não pensar nessa situação como algo geral? É preciso esforço, trabalho, dedicação, lutas e muita garra para enfrentar e transpor barreiras e desafios, porque eles sempre vão existir, principalmente quando o assunto for capital ($$$), pois a final vivemos em uma sociedade onde esta palavra faz toda a diferença, não?! Desta forma, o etanol é importante para o Brasil porque o país foi capaz de perceber que consegue substituir o diesel, a gasolina e outras fontes de energias por uma fonte genuinamente nacional, que pode ser explorada de forma sustentável e ainda render benefícios ecológicos. Mas, novamente, tudo sendo pensado de forma bem coordenada e fiscalizada, porque sempre haverá burladores de regras, charlatões, ladrões e, enfim, clandestinos que sempre buscarão o auto-beneficiamento sob o menor esforço. Essa também é uma sociedade injusta, não sejamos ingênuos, é claro!
 
Como brasileiro e estudioso de Angola (e apaixonado por esse país, diga-se de passagem, independente de seu estágio de crescimento econômico e mesmo com IDH baixo), vejo que o país passa por uma grande transformação social, econômica, política e democrática. Vou mais além, passa por um processo de readequação perante a si mesmo e perante ao mundo. Quem é Angola? Quem responde verdadeiramente pelos angolanos? Há democracia instalada no país? Os conflitos e disputas realmente cessaram? Há governo para auto-beneficiamento ou há governo para o povo? Enfim... Poderíamos fazer diversas perguntas e questionamentos que vão desde uma resposta objetiva e clara (Sim ou Não), até uma divagação profunda pois ainda não haveria uma resposta precisa... O Brasil, na minha avaliação, tem feito muito pouco pelo o que poderia fazer aos angolanos. Estamos, sinceramente, aquém do que há de colaborar. Mas os brasileiros já possuem uma larga parceria com o mundo. Não se deixa um país para atender a outro, todos são importantes e são ouvidos, contemplados muitas vezes e muitos vêm a contemplar demandas brasileiras. Vejo esse governo como o mais aberto de todos, desde antes da Ditadura inclusive, para negociar com outros países desde parcerias para disputas em órgãos como ONU, OMC, UNCTAD, etc, até para realizar projetos de cooperação e aproximação bilateral. O que Brasil e Angola tinham antes de 2003 e que o têm hoje??? Tantos projetos, tantas parcerias e tantos acordos que nem saberia inumerá-los. O importante é que está vigente uma parceria em todos os campos da economia e da sociedade entre os países.
 
Mais uma das consequências dessa aproximação é o etanol, são os biocombustíveis e dentre outras tecnologias. O Brasil está cooperando.. . Trocando informações, fazendo com que os países recebam as tecnologias brasileiras. Isso é importante para o país sim. Queremos ter parceiros que acreditem em nossas ferramentas de gestão e em nossas tecnologias, esse não é um interesse escondido ou camuflado, ele é claro e transparente ao meu ver. Não há um jogo político por trás. Inserir os biocombustíveis em Angola é importante para o Brasil, que está disseminando tal energia para outros países da África e do mundo que queriam adquirir tal tecnologia e compreender como isso auxilia o país a se desenvolver e a zelar mais pelo meio ambiente. Há um forte interesse e envolvimento do caráter financeiro e econômico, sim, é claro, mas há pormenores de programas assim instalados que precisam ser avaliados. Geração de emprego e renda é uma consequência, agora se em Angola isso não vai ocorrer, talvez seja um fato a ser avaliado. Há concentração de renda em Angola? Forte, é claro, pela exploração de diamantes e petróleo, riquezas que ficam nas mãos de pouquíssimos. Não é à toa que Cabinda vive lutando pela sua independência, pois apesar de ser a fonte de riqueza de petróleo, pouco vê de benefício social e econômico local... Empregos a estrangeiros. .. Será que a aplicação de biocombustíveis será assim também? Não sei, sinceramente, mas penso eu que deve haver um caminho, talvez não o mais certo, mas o melhor hoje para os angolanos. Qual seria ele???
 
Tomas, gostei de suas palavras e tento compreender a realidade, mas é difícil falar de algo que não se vive ou que não se vê. Conheço Angola apenas por fotos e através das pessoas que falam... Sempre falam-me da diversidade do país e do grande desnivelamento social... Bem, o Brasil já passou por período em que se havia apenas três classes sociais, a alta, média e a baixa, todas sem quaisquer aproximação. Hoje, temos uma sociedade heterogênea e complexa. Uma doméstica hoje tem onde morar, tem todos os móveis em sua casa e consegue até um automóvel, algo que era impensável anteriormente. Eu estou feliz com o meu país, sei que há muito para fazer e há muita, mas muita coisa errada, mas já foi muito pior. Por isso, é fundamental pensar em etapas, pois não há como fazer tudo de uma vez só. Desta forma, tente avaliar os prós do assunto biocombustíveis em Angola. Bem... mas se não houver nenhum... Talvez seja um fato a ser pensado pelos políticos e reivindicado pela população...
 
Espero que agora tenha deixado claro minha opinião. Eu jamais gostaria de preterir a importância da saúde e da educação em Angola em favor, unicamente, do etanol e da economia brasileira.
 
Abraço,
 
Rodrigo Iglesias
Brasília / DF / Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sim