sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Petralhas

O País dos petralhas
Alto , em nome da lei
Em O País dos Petralhas, Reinaldo Azevedo, o melhor blogueiro do país, conta sua luta diária com a turma da situação.
Por: Diogo Mainardi

 

Alzira Rufino
Petralha de Santos
Casa da Cultura da Mulher Negra

Um petralha indignado pergunta a Reinaldo Azevedo como ele consegue dormir em paz. Resposta:
- Com Stilnox.
E conclui:
- Por isso defendo os laboratórios, as patentes e a propriedade intelectual.
Esse é o resumo perfeito de O País dos Petralhas (Record; 337 páginas; 38 reais). O livro reúne os melhores textos de Reinaldo Azevedo sobre o petralhismo, publicados em seu blog em veja.com deste junho de 2006 e, antes disso, em sua coluna em O Globo.
O que significa "petralha"?
Um glossário, no fim do livro, esclarece: "Neologismo criado da fusão das palavras 'petista" e 'metralha" – dos Irmãos Metralha, sempre de olho na caixa-forte. Um petralha defende o roubo social".
O roubo social é uma disciplina que, praticada pelos operadores do petralhismo entranhados no partido e no setor público, se baseia no – como dizer? – roubo.
Pode ser o roubo para eleger candidato, ou o roubo para enlamear um opositor, ou o roubo para encher as burras de dinheiro. Em geral, tudo isso junto. Para que um petralha possa roubar sem constrangimento, ele precisa contar com a cumplicidade de outros petralhas, enfronhados na imprensa, na Internet, nas salas de aula, nos gabinetes, nos tribunais, nas delegacias, nas rodas de samba. O papel deles é fazer a defesa teórica do banditismo, acobertando todos os crimes cometidos em nome do partido. Esta é a gangue que o Reinaldo Azevedo Combate: a gangue que violenta as idéias, que corrompe os conceitos, que brutaliza a verdade. Se o Brasil do PT é Patópolis. Reinaldo Azevedo só pode ser o nosso Mickey.
Ele, o camundongo sabido de Dois Córregos, é o melhor blogueiro do país. O termo blogueiro, para quem está acostumado só com a imprensa escrita, pode soar ligeiramente depreciativo. Corrigindo: Reinaldo Azevedo é o melhor articulista do país. É o único capaz de passar com desenvoltura de Robert Musil à eguinha Pocotó, de G.K. Chesterton à Marilena Chauí, de Ortega y Gasser a Marco Aurélio Garcia. Com 900000 páginas lidas todos os meses, seu blog é também um dos mais populares da Internet. O resultado é espantoso: se, num dia ele indica um filme no YouTube, como aquele sobre a pancadaria da PF em Raposa Serra do Sol, no dia seguinte o filme já contabiliza 18.000 espectadores.
Para nossa sorte (eu, Diogo, sou uma das centenas de milhares de macacas-de-auditório de Reinaldo de Azevedo, e entro no blog umas cinco vezes por dia, como a média de seus leitores), o melhor articulista do país é igualmente o mais compulsivo. Reinaldo Azevedo trabalha sem parar. Até a última quarta-feira, seu blog já publicava 14.943 artigos. Dois anos atrás, os médicos abriram uma tampa em seu cocuruto e arrancaram lá de dentro dois hemangiomas ósseos do tamanho de bolas de gude. Três dias depois, no quarto do hospital, ele já estava na frente do computador, fazendo chocotas de seu aspecto de golfinho Flipper e de seus tumores benignos – o único produto benigno saído de sua cachola.
Reinaldo Azevedo costuma escrever seu primeiro artigo às 3 da tarde, quando acorda, e o último às 5 e meia da madrugada, quando toma seu comprimido de Stilnox e vai dormir. Ao petralha indignado: Reinaldo Azevedo nunca dorme em paz, ele dorme em guerra. Em guerra contra os petralhas indignados, contra os esquerdopatas, contra os tocadores de tuba, contra os apedeuta (consulte o glossário de o País dos Petralhas). Isso lhe rende, todos os dias, centenas de mensagens ofensivas. Chamam-no de canceroso, de nazista, de Opus Dei. A Primeira triagem dos comentários do leitores, em que se eliminam todos os insultos, é feita por sua mulher. Ela se chama Lílian, mas os leitores do blog a conhecem como Dona Reinalda. Há também as Reinaldinhas, suas duas filhas, Maria Clara, de 13 anos, e Maria Luíza, de 11.
Apesar de estar sempre em guerra, Reinaldo Azevedo se considera "bastante convencional". O que isso quer dizer? Quer dizer que ele chama "crime de crime, ladrão de ladrão, bandido de bandido". E acrescenta:
"No auge de minha esquisitice, defendo o cumprimento da lei".
Essa é uma idéia repetida incessantemente ao longo do livro. Para ele, "a impunidade destrói qualquer chance de futuro. Se a lei é cumprida, entra-se numa espiral positiva de direitos e deveres". Por isso ele se bate pela lei e pelas regras da democracia, da gramática, da lógica, dos bons costumes e da patente dos remédios. No país dos petralhas, o assombroso é ficar do lado da lei.

Publicado na Revista Veja Nº 37 de 17 de setembro de 2008





--
-------------------- * --------------------
"A lavoura do Brasil, feita por escravos boçais e preguiçosos, não dá os lucros, com que homens ignorantes e fantásticos se iludem".
- * -
Trechos da famosa Representação sobre escravatura, apresentada por José Bonifácio de Andrada e Silva na Assembléia Constituinte do Império do Brasil, em 1823, e imprensa em Paris, em 1825. Trata-se do primeiro documento oficial contra a escravatura no País.

Site: http://www.afrodescendente.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sim