terça-feira, 11 de outubro de 2011

Morro Alto

 

O drama de Morro Alto

<br /><b>Crédito: </b> ARTE JOÂO LUIS XAVIER

Crédito: ARTE JOÂO LUIS XAVIER
A dívida do Brasil com negros e índios é impagável. Devemos quase tudo a eles. Os portugueses tomaram um país ocupado e impuseram-lhe um novo destino. Na justiça da história, um ato desses é imprescritível. Os negros trazidos da África ergueram à força, com sua força, um país dos brancos na terra dos índios. A escravidão e a tomada dos territórios indígenas são crimes contra a humanidade praticados em larga escala no passado. Sempre, contudo, se teve consciência dessa infâmia. Os escravizados nunca se enganaram quanto ao horror a que foram submetidos. O resto é ideologia e racismo. Nunca é demais sugerir a leitura das obras do maior intelectual brasileiro de todos os tempos, Joaquim Nabuco, sobre esse passado. Apesar dessa dívida infame incomensurável, volta e meia se quer dar mais uma exploradinha naqueles a quem só se deveria render homenagens. Na BR 101, entre Maquiné e Osório, vivem 230 famílias remanescentes dos quilombos de Morro Alto. Moram em cima das antigas senzalas.Segundo a antropóloga Cíntia Beatriz Muller, apoiada nos estudos de Daisy Barcellos e outros, o quilombo de Morro Alto era habitado por "velhos, libertos pela Lei dos Sexagenários (1885), foragidos, escravos em trânsito entre senzalas, que ora atravessavam morros, ora se arranchavam por ali temporariamente, e africanos livres desembarcados ilegalmente no litoral. Além disso, Rosa Osório Marques, ex-senhora de escravos da região, doou em testamento um legado de terras para alguns de seus ex-escravos". Pois não é que os descendentes desses heróis do cotidiano estão enfrentando problemas para legalizar suas terras! Cíntia Muller mostra a continuidade dessa cultura: "A Comunidade de Morro Alto é formada por outros núcleos, que são espécies de bairros rurais. São eles: Aguapés, Barranceira, Faxinal do Morro Alto, Morro Alto, Ribeirão e Espraiado, cada qual possuindo suas peculiaridades históricas, mas unidos por redes de solidariedade e laços de parentesco, além do compartir religioso, da crença em Nossa Senhora do Rosário".Mais: "Morro Alto também é famoso desde 1872 por seu Maçambique, congada que se realiza anualmente no dia 13 de maio, quando Nossa Senhora do Rosário visita São Benedito na localidade de Aguapés, e em outubro, na cidade de Osório/RS. Atualmente, grande parte dos dançantes e demais componentes do grupo vivem em Osório, mas os ex-maçambiques de Morro Alto, seguidamente, rememoram sua impressões das festas de antigamente". O que está acontecendo? O de sempre. Lentidão no processo de concessão dos títulos de propriedade. Por quê? Porque grileiros, pequenos ou grandes, querem as terras. Já ameaçaram de morte o líder quilombola Wilson Rosa. O argumento também é o de sempre: falta de produção. No Brasil é assim, a Justiça é lenta. Fica mais lenta ainda quando se trata da plebe da plebe, o porão dos excluídos. O cinismo é tamanho que se faz até discursos contra o politicamente correto, como se isso legitimasse a apropriação indébita. É apenas a continuação do saque.
João Pedro Izé Jardim
Geografia/UFRGS - AGB/PA
(51)93273671
"Há quem caminhe pelo bosque e veja apenas lenha para a fogueira" (Leão Tolstói)



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Ieda Ramos
Cientista Social
Especialista em Projetos Sociais e Culturais
Mestre e Doutoranda - Desenvolvimento Rural
Cel: 51 8175-8049 / 9941-9431
Grupo de Pesquisa Mediações e Desenvolvimento Rural
Pesquisadora Associada ao Laboratório de Arqueologia e Etnologia
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