Perda de biodiversidade cresce em ritmo acelerado
Relatório divulgado durante 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica revela que a velocidade de degradação ainda é muito mais rápida que o desenvolvimento de políticas e projetos que conservem a natureza

No mês de março, a cidade de Curitiba (PR) sediou a 8ª Conferência das Partes (COP 8) da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) e a 3ª Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança (MOP 3), que discutiram temas como a biodiversidade e organismos transgênicos, respectivamente. Os eventos aconteceram pela primeira vez no Brasil e reuniram milhares de representantes dos países membros da CDB - as chamadas Partes, organizações não-governamentais, jornalistas e observadores de todo o mundo.
 

A COP 8 e a MOP 3 integram a Convenção sobre Diversidade Biológica da Organização das Nações Unidas, um acordo global que segue três eixos: a conservação da biodiversidade; seu uso sustentável; e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios resultantes do acesso aos recursos genéticos.

"Esses três fatores são importantes, mas a conservação da biodiversidade deve ser prioritária. Não haverá o que usar e repartir se os recursos não forem conservados", alerta o diretor da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, Miguel Milano. O engenheiro florestal ressalta que, no Brasil, não é mais possível discutir uso sustentável na Floresta com Araucária, Floresta Atlântica e Cerrado, pois esses ecossistemas estão seriamente destruídos. E se as ações de conservação não forem urgentes, a situação alarmante poderá se estender a outros biomas, como a Floresta Amazônica.

O cenário global também não é dos melhores. No dia 20 de março, durante a solenidade de abertura da COP 8, foi divulgada a segunda edição do Panorama Global da Biodiversidade (em inglês, Global Biodiversity Outlook 2 - GBO 2). O estudo analisou a possibilidade de o mundo alcançar a missão estabelecida pela CDB de reduzir, até o ano de 2010, a taxa atual de perda de biodiversidade, como uma contribuição ao combate à pobreza e ao benefício para todas as formas de vida na Terra.

"A tendência mostrada no Panorama é a continuação da perda da biodiversidade, devido às mudanças climáticas, ao crescimento da população mundial, ao excesso de consumo e à introdução de espécies exóticas facilitada pela globalização", afirma o coordenador do Programa Nacional de Conservação da Biodiversidade, Bráulio Dias.

O problema é que a destruição da natureza desestabiliza os ecossistemas e faz com que eles sejam mais vulneráveis aos desastres naturais como furacões e enchentes, que podem reduzir rapidamente a capacidade de o meio ambiente fornecer os bens e serviços necessários à sobrevivência humana, como água potável, peixes, polinização das plantas e controle de pragas.
 
 
A situação da biodiversidade
Para avaliar o estado da biodiversidade no planeta e alcançar as metas de 2010, as Partes estabeleceram 15 indicadores. Os únicos dois indicadores com tendência positiva são aqualidade da água e o número de áreas protegidas. Os outros 13 têm tendências negativas. Entre eles, a proteção dos recursos naturais, a preservação da biodiversidade, a alocação de recursos para conservação e a redução de fatores de risco, como a poluição e o crescimento populacional.

O 2° Panorama Global da Biodiversidade afirma que o consumo de recursos em nível global excede em 20% a capacidade biológica de a Terra se regenerar. Como resultado dessa exploração excessiva, 40% das 3 mil espécies de plantas e animais identificadas desapareceram nos últimos 30 anos.

Os mares e os ecossistemas costeiros sofreram ainda mais os impactos das atividades humanas. No Caribe, a cobertura média dos recifes de coral foi reduzida de 50% para 10%, desde a década de 1970. Cerca de 30% dos mangues - importantes berçários para a fauna marinha - desapareceram nos últimos 20 anos. Apesar de toda essa degradação, apenas 0,5% da superfície marítima tem algum tipo de proteção.
 
  
A exploração excessiva dos recursos naturais
pelo homem causou danos aos mares e ecossistemas costeiros. Quantidades
significativas de recifes de corais e de mangues desapareceram nas últimas décadas.
 
 
Em "terra firme", a percentagem de áreas protegidas é maior, mas não suficiente. Embora 13% dos ecossistemas do planeta estejam conservados por lei, o 2° Panorama Global da Biodiversidade aponta que a distribuição é irregular, pois quase a metade das grandes áreas naturais possui menos de 10% de sua área sob proteção. E muitas das regiões que estão protegidas não são manejadas de um modo eficaz.

Mesmo com a existência de algumas unidades de conservação, muitos dos ecossistemas estão fragmentados, afetando a sua capacidade de manter a biodiversidade e o fornecimento de recursos. Uma das causas dessa fragmentação é o desmatamento, que cresce em ritmo alarmante: desde 2000, seis milhões de hectares de florestas primárias foram destruídos a cada ano, principalmente pela conversão de áreas para a agricultura.

Outro problema é a introdução de espécies exóticas em ecossistemas, como resultado do aumento do número de viagens e do comércio. Por não terem predadores naturais nas áreas em que chegam, elas se tornam verdadeiras pragas.

Todos podem e devem contribuir

Para o coordenador do Programa Nacional de Conservação da Biodiversidade, houve avanços ambientais no Brasil, como o aumento do número de áreas protegidas, regulamentação de licenciamentos ambientas e divulgação de listas de espécies ameaçadas de extinção. No entanto, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) não será capaz de reverter o quadro de destruição intensa se estiver sozinho. "Se for assim, todos caminharão contra o meio ambiente e o MMA irá apenas corrigir os erros cometidos", comenta Dias.

A solução é promover a transversalidade. A biodiversidade deve ser tratada como uma questão central por todos os setores da sociedade, como governos, organizações não-governamentais, empresas privadas, indústrias e cidadãos."Um bom futuro depende do estabelecimento de parcerias e alianças dentro e fora do governo. Por exemplo, deve haver maior relação entre as agendas ambiental, econômica e social", afirma Dias.

O 2° Panorama Global da Biodiversidade conclama cada cidadão a exigir ações eficazes de seus governos. "Cada cidadão também pode contribuir ao verificar se os produtos que consome têm origem sustentável", lembra o coordenador do Programa Nacional de Conservação da Biodiversidade.

O estudo destaca cinco pontos estratégicos a serem discutidos por todos esses setores e que são importantes para colocar o planeta "na linha": aumento da eficiência agrícola; proteção de áreas com alta taxa de biodiversidade e recuperação de áreas degradadas; uso sustentável dos recursos naturais, incluindo energia, alimentos e madeira; investimentos na proteção e reabilitação de ecossistemas costeiros e áreas-úmidas, que sustentam o fornecimento de serviços essenciais como água potável; e alerta para o fim da exploração excessiva dos recursos naturais, em particular da pesca "marítima".
 
 
  
Iniciativa inovadora coordenada pela Fundação O Boticário irá reunir e disponibilizar informações sobre as unidades de conservação das Américas, como o Parque Estadual do Jalapão, localizado em Tocantins.
 

Fundação O Boticário coordena consórcio que disponibilizará informações sobre Áreas Naturais Protegidas nas Américas 


Os 34 países do continente americano terão um mecanismo comum para avaliar a efetividade de suas unidades de conservação. A implantação da Rede Temática sobre Áreas Protegidas da IABIN (Inter-American Biodiversity Information Network) possibilitará a reunião e a disponibilização de informações sobre as áreas protegidas de toda a América, o que auxiliará no estabelecimento de políticas públicas e contribuirá para o desenvolvimento de vários estudos, promovendo a conservação no continente.

"A criação de áreas protegidas é uma das formas mais eficazes de se proteger os diferentes ecossistemas das Américas. No entanto, cada uma dessas áreas é manejada de uma forma diferente. E é importante verificar a efetividade desse manejo", comenta o diretor do Secretariado da IABIN, Ivan Valdespino.

O consórcio que coordenará a implantação desta rede éliderado pela Fundação O Boticário de Proteção à Natureza e tem como participantes a TNC (The Nature Conservancy), WWF (World Wildlife Foundation), UNEP-WCMC (United Nations Environment Programme-World Conservation Monitoring Centre), UICN-Sul (Unión Mundial para la Naturaleza - América Del Sur), WICE (World Institute for Conservation and Environment), Alexander Von-Humboldt Institute e Ecociência Foundation.
 
 

Já existem levantamentos sobre áreas de conservação, mas o mérito desse novo programa será padronizar as informações de maneira que possam ser efetuadas comparações entre os países. Para tanto, haverá indicadores comuns de análise, como descrições gerais do local (com dados locais, área e história da gerência) e de populações humanas, os usos da área, uma avaliação da eficácia da gerência, e inventários das espécies de animais e plantas.

"Outra inovação dessa iniciativa é não restringir o acesso às informações", lembra Valdespino. A plataforma de dados sobre áreas protegidas em todo o continente americano estará disponível para acesso público, desde o início do projeto e, até a sua conclusão, será constantemente alimentada e ampliada de acordo com as atividades do projeto. A iniciativa pioneira é financiada pelo Banco Mundial e pelas organizações integrantes do consórcio que coordenará a implantação da Rede Temática sobre Áreas Protegidas.

A primeira reunião do consórcio aconteceu de 25 a 27 de março, paralelamente à 8ª Conferência das Partes (COP 8) da Convenção da Diversidade Biológica, em Curitiba, e na Reserva Natural de Salto Morato, criada e mantida pela Fundação O Boticário, em Guaraqueçaba, litoral norte do Paraná.

A IABIN foi criada em 1996 a partir da Cúpula das Américas para o Desenvolvimento Sustentável, que foi realizada em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. A instituição é ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA). O objetivo é fornecer infra-estrutura de informação de rede (padrões e protocolos) e conteúdo sobre biodiversidade para basear tomadas de decisão particularmente para problemas nas áreas de desenvolvimento humano e conservação. Além da Rede Temática de Áreas Protegidas, a IABIN atua em mais cinco redes temáticas: Espécimes, Espécies, Ecossistemas, Espécies Invasoras e Polinizadores.
 
 

  
A exploração intensa dos Campos Naturais e da Floresta com Araucária destruiu grande parte do hábitat do lobo-guará e do pinheiro-do-paraná, respectivamente. Atualmente, essas espécies
estão ameaçadas de extinção.
 
Paraná ganha três novas unidades de conservação


Três novas unidades de conservação foram criadas no estado do Paraná, para proteger parte dos últimos remanescentes de Floresta com Araucária (Floresta Ombrófila Mista) e de Campos Naturais do Sul do País. No mês de março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou decretos para a criação da Reserva Biológica das Perobas, da Reserva Biológica das Araucárias e do Parque Nacional dos Campos Gerais.
O Ministério do Meio Ambiente ainda pretende criar dois refúgios da vida silvestre: do Rio Tibagi e dos Campos de Palmas. "Com o estabelecimento das 5 unidades de conservação previstas, a área de Floresta com Araucária protegida será quadruplicada. O que ainda é pouco em termos absolutos, uma vez que resta menos de 0,8 % desse ecossistema em estágio avançado de conservação", diz Bráulio Dias, coordenador do Programa Nacional de Conservação da Biodiversidade, do Ministério do Meio Ambiente.

A Floresta com Araucária é uma formação florestal única, exclusiva da região Sul do Brasil. A exploração intensa pela indústria madeireira e a substituição por áreas agrícolas foram as principais causas de sua destruição.
 
 
O Boticário lança novas camisetas "Respeite a Minha Natureza"

O Boticário lançou a versão 2006 da campanha Respeite a Minha Natureza. A cada R$ 94,00 em compras de produtos do Boticário, com mais R$ 5,90 é possível escolher uma das três camisetas da coleção: sapo, tartaruga e jacaré. As camisetas estão disponíveis nas lojas O Boticário de todo o Brasil.

Parte do valor arrecadado com a venda dos produtos será destinada à Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.
 
 
 
Curso de "Formação de Guardas-parques" está com as inscrições abertas

Estão abertas as inscrições para o curso de "Formação de Guardas-parques", promovido pela Fundação O Boticário de Proteção da Natureza. O curso é destinado a técnicos que atuam em unidades de conservação e integrantes de Polícias Florestais e Ambientais Estaduais.

O formulário de inscrição está disponível no site da Fundação O Boticário. Clique aqui.
 
 

Obrigado pelo seu comprometimento com a natureza.
Para cancelar o recebimento deste newsletter ou modificar seu cadastro
 clique aqui.