CUT defende soberania do povo haitiano

04/06/2013 Informa CUT

Conferência internacional em Porto Príncipe exige retirada das tropas da ONU do país

por: CUT Nacional

  Douglas Mansur  
1) Manifestação pública em Porto Príncipe – Julio Turra (microfone) ao lado de Juliana e Bárbara. Atrás, o senador Moise
1) Manifestação pública em Porto Príncipe – Julio Turra (microfone) ao lado de Juliana e Bárbara. Atrás, o senador Moise

Nos dias 31 de maio e 1º de junho realizou-se em Porto Príncipe, capital do Haiti, a Conferência continental pela retirada das tropas da ONU que ocupam o país desde 2004 no quadro da Minustah (Missão de estabilização do Haiti).

A conferência, convocada a partir de um chamado da delegação internacional que esteve na sede da ONU em outubro de 2012 para reclamar a saída das tropas estrangeiras do Haiti, foi organizada por entidades sindicais e populares locais – dentre elas as centrais sindicais CATH e CTSP (filiada à ISP e CSI) que estiveram presentes nos dois últimos congressos nacionais da CUT - e contou com a presença de delegados de 10 países: Haiti, Argentina, Argélia, Brasil, El Salvador, Estados Unidos, França, Guadalupe, Martinica e México.

A delegação brasileira foi composta por Julio Turra pela CUT nacional; Juliana Cardoso; vereadora do PT, pela  Câmara Municipal de São Paulo; Bárbara Corrales do comitê “Defender o Haiti é defender a nós mesmos”; Kátia Silva da Secretaria de Combate ao Racismo da prefeitura de São Paulo; Sônia Santos do Movimento Negro Unificado (MNU) e Douglas Mansur do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, além de militantes do MST, Guto e Jéssica, que desenvolvem atividades da Via Campesina no próprio Haiti.

Recordemos que a CUT, desde sua Plenária Nacional de 2008, adotou posição pela retirada das tropas da ONU do Haiti, o que foi confirmado no 10º e no 11º CONCUT (2009 e 2012), tendo participado de várias atividades de solidariedade à luta do povo haitiano para recuperar sua soberania.

A conferência foi iniciada na manhã do dia 31 de maio com painéis sobre a história das ocupações militares que o Haiti sofreu desde a sua independência em 1804, quando os escravos negros libertaram o país do colonialismo francês, passando pelas ocupações promovidas pelos EUA desde 1915, até a situação atual, em que as tropas da ONU, cujo comando militar foi dado ao Brasil, entraram no país em 1º de junho de 2004 para ficar 6 meses e lá continuam há 9 anos! O professor Camille Chalmers fez uma exposição sobre a atual situação do país, o secretário geral da CTSP, Fatal, sobre o desrespeito à Constituição haitiana que significa tal ocupação militar e, por fim, o senador Jean Charles Moise (que recentemente esteve no Brasil), apresentou a resolução adotada por unanimidade pelo Senado do Haiti em 28 de maio que exige a retirada das tropas da Minustah até o prazo máximo de 1 ano (maio de 2014).

  Douglas Mansur  
Tomada geral da sala da conferência – ao fundo a mesa
Tomada geral da sala da conferência – ao fundo a mesa
Manifestação pública


Na tarde do mesmo dia 31, ocorreu uma manifestação pública diante do monumento a  Dessalines (herói da independência do Haiti), que reuniu mais de 500 pessoas para escutar as mensagens de dirigentes políticos e sindicais haitianos e dos delegados internacionais, todos coincidindo com o grito de vinha dos manifestantes “Ann Pote Kole pou Ministah ale”, o que, em crioulo (“kreol”, língua popular do Haiti) significa “todos juntos pela retirada da Minustah”.

No sábado, 1º de junho, data em que se completaram 9 anos da entrada da Minustah no Haiti, a conferência teve sequência com intervenções dos delegados e delegadas, numa rica e fraterna discussão. No intervalo do almoço, ao lado do senador Moise e do secretário geral da CATH, Fignolé St-Cyr, vários delegados internacionais foram ouvidos num programa de radio de grande audiência, dentre eles o secretário geral da CTA da Argentina, Pablo Micheli, e os brasileiros Juliana Cardoso e Julio Turra.

Na sua parte final, a conferência adotou uma resolução dirigida aos governos envolvidos na Minustah, em particular aos membros da UNASUL e CELAC (Comunidade dos Estados da América Latina e Caribe), exigindo o respeito à soberania do povo haitiano, a indenização das vítimas da epidemia de cólera que, introduzida por soldados da ONU, provocou a morte de 9 mil pessoas, bem como a retirada imediata das tropas estrangeiras que ocupam o Haiti. Nela também se propõe a realização da uma semana de mobilização internacional  de 28 de julho a 3 de agosto próximos.