quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Angola

O petróleo vem perdendo posições no crescimento económico de Angola

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petroleoAs empresas sul-africanas estão a migrar para Angola - e por uma boa razão, segundo um estudo da Eaglestone, citado pelo jornal Financial Mail, da África do Sul. «Angola está no bom caminho para cumprir a sua promessa de ser uma das grandes histórias de sucesso económico da África subsaariana», adianta Tiago Dionísio, analista da Eaglestone, um dos autores do estudo.
«Angola tem sido bem-sucedida em usar o bónus de altos preços do petróleo para diversificar a sua economia», afirma o analista, para quem o Plano Nacional de Desenvolvimento de Angola tem como objectivo duplicar o número de projectos de investimento a cada ano entre 2.013 e 2017. De acordo com o jornal sul-africano, ainda citando o estudo, a diversificação económica está a impulsionar um dos maiores pontos fortes e atracções da economia angolana para investidores estrangeiros: a expansão de sua classe média.
O PIB per capita de Angola vai crescer a partir de 5.700 dólares em 2012 para mais de 6000 em 2014, como o prevê Tiago Dionísio. Este aumento, segundo ele, «irá cimentar a sua posição [de Angola] como uma das poucas economias da África Subsariana de renda média». O PIB da África do Sul per capita foi de 11.281 dólares americanos em 2012, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O artigo do Financial Mail, assinado por Stafford Thomas, baseia-se no estudo da Eaglstone e refere ainda que a diversificação económica e a expansão da classe média de Angola também estão a desempenhar um papel crucial na redução da forte dependência do país em relação ao petróleo, do qual é o segundo maior produtor da Africa. Embora o petróleo ainda domine a economia de Angola, a sua importância está em declínio. A contribuição de petróleo para o PIB de Angola caiu de 56 % em 2002 para 46% em 2012 e continuará a cair, afirma o estudo da Eaglestone. Em 2014, o sector do petróleo de Angola deverá crescer 4,7 %, enquanto outros sectores como o retalho, construção, bancos e comunicações, vão crescer em 8,3 %. Em geral, acredita a Eaglestone, o PIB de Angola deverá crescer 6,3% em 2014, acima dos 5,6 % de 2013. A longo prazo, a empresa coloca a taxa de crescimento sustentável anual do PIB de 5% a 7%.
De acordo com o estudo, há outros factores que também tornam Angola menos vulnerável a uma queda acentuada do preço do petróleo. «Angola tem um saldo orçamental positivo e uma baixa dívida pública», diz Tiago Dionísio. As reservas internacionais, acrescenta, também estão a um nível «mais confortável», depois de ter subido de 9,5 mil milhões de dólares em 2010 para mais de 37 mil milhões em 2013. Comparando com o seu país, o Financial Mail diz que as reservas externas da África do Sul ficaram em 50 biliões de dólares no final de Setembro. A estrela da história de crescimento não petrolífero angolano é o retalho, o que tem aumentado a sua contribuição para o PIB de 15% em 2002 para 20% em 2012, perdendo apenas para o petróleo. A Eaglestone estima que o PIB de Angola seja de 124 mil milhões de 2013, o que coloca o valor das vendas no retalho em cerca de US $ 25 mil milhões. De acordo com o jornal, isso é igual à cerca de um terço do total das vendas de retalho da África do Sul em 2012. O Financial Mail escreve que entre os retalhistas sul-africanos, a Shoprite foi a primeira a perceber o potencial da história de crescimento de Angola, abrindo o seu primeiro supermercado em Luanda em 2003. Isto foi apenas um ano após ter terminado a guerra civil de três décadas do país. Com 17 lojas Shoprite e Poupa Lá abertas, Angola já é o maior gerador de vendas da Shoprite fora da África do Sul. É apenas o começo: a Shoprite tem em carteira a abertura de mais 43 lojas em Angola.
Em Dezembro de 2013, a Spar «mergulhou» em Angola, com a abertura de uma loja em Luanda, em parceria com um investidor local. A Massmart tem previsto seguir este ano com uma ou mais lojas de artigos para casa e roupas. O Grupo Foschini escolheu Angola como um alvo-chave na sua estratégia de expansão agressiva africana. Mas, os retalhistas sul-africanos não vão ter o domínio exclusivo do mercado. Angola está a atrair o interesse crescente de retalhistas europeus. Entre eles, segundo Tiago Dionísio, está o maior grupo de retalho de Portugal, a Sonae, que vai investir 100 milhões de dólares na criação de pelo menos quatro hipermercados em Luanda em 2015.
As empresas angolanas também estão a deixar a sua marca no comércio, avança o estudo da Eaglstone, citando o caso da Score Distribuição, que pretende abrir 37 supermercados em Luanda, em parceria com a Jerónimo Martins, um grupo de retalho alimentar português com 2.800 lojas na Europa e na Colômbia.
A perspectiva de concorrência no sector de retalho de Angola parece estar a seguir o exemplo estabelecido pelo sector bancário do país, que nos últimos 10 anos viu o número de bancos crescer de nove para 23. O Standard Bank, que entrou Angola em 2009, é o único banco sul-africano. Aparentemente justificando a rápida expansão do sector, um dos autores do estudo da Eaglestone diz que o crescimento da margem financeira dos bancos angolanos está estimado em média em 32,6 % entre 2009 e 2012. O crescimento no lucro líquido foi de 23,8 % no mesmo período.
Apesar da sua atracção e crescimento, Angola não é para os fracos de coração. «O país enfrenta enormes desafios em termos de melhoria da sua infra-estrutura, capital humano, ambiente de negócios e as condições sociais de sua população», adverte Tiago Dionísio, ressaltando que o «Doing Business» de 2014 do Banco Mundial classifica Angola no 179.° lugar entre 189 países na facilidade geral de fazer negócios. Entre os principais obstáculos identificados pelo Banco Mundial para abrir um negócio, estão o fornecimento de energia eléctrica e água e o sistema judicial. Angola é também um dos países mais caros para se operar, devido a dificuldades logísticas, observa Dionísio. De facto, Luanda é a segunda cidade mais cara do mundo, enquanto Joanesburgo se classifica em 154.°, de acordo com Mercer.
Mas, apesar dos desafios, a atracção primordial de Angola permanece, sem dúvida, como uma das cinco economias que mais crescem no mundo, concluiu o artigo do jornal sul-africano Financial Mail. A Eaglestone é uma plataforma financeira de investimentos da África Subsaariana com sede em Londres. Fundada em 2011, possui escritórios em Luanda, Maputo, Cidade do Cabo, Amesterdão, Lisboa e Nova Iorque.
 
Semanário Angolense, 18 de janeiro de 2014

http://www.diarioangolano.com/index.php?option=com_content&view=article&id=8190:o-petroleo-vem-perdendo-posicoes-no-crescimento-economico-de-angola&catid=150:economia&Itemid=652

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