sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Coletivo de Entidades Negras

Antes de qualquer coisa é importante destacar que esta reflexão é feita a partir do campo daqueles que se organizam para combater o racismo e suas consequências e que, portanto, situam-se num espectro da política de âmbito popular e progressista.
Isto posto, é essencial partir da constatação que não se pode negar a flagrorosa e acachapante derrota sofrida pelo nosso segmento nestas eleições.Tentar mascarar a derrota só fará aumentar a dificuldade de se buscar alternativas para minimizar esse prejuízo nos pleitos futuros.
Dizer que o povo votou mal é equivocado e simplista, pressupõe uma lógica arrogante que o povo só vota certo quando vota conosco e somos radicais defensores da manifestação do desejo e do respeito ao voto popular.
A derrota sofrida pelo campo da esquerda reflete uma onda conservadora que está a mover-se por todo o globo, havendo, onde chega, a fusão dos interesses empresariais, financeiros, midiaticos entre outros que seguem algumas características locais mas que sempre se pautam na manutenção dos interesses das elites dominantes.
No caso do Brasil, as elites aguardaram a abertura de uma brecha para pôr por terra o discurso de conciliação de classes e empreender uma violenta desconstrução das forças de esquerda que governaram o país nos últimos anos.
Essa desconstrução se vale de poderosos recursos de propaganda que, em articulação com os poderosos grupos de mídia nacional, impõe ao cidadão médio falsos conceitos como se fossem verdadeiros, havendo aí, para executar essa tarefa, alianças amplas com grandes especialistas em tecnologia, retórica, oratória e, principalmente, com os representantes do fundamentalismo religioso que se especializou, nos últimos 40 anos em penetrar em corações e mentes e lá plantar seu discurso e visão de mundo.
Foi, portanto, essa conjunção de fatores que nos levou a um quadro de derrota nas municipais de 2016 e que nos leva a pensar que a narrativa do golpe por si só não se sustenta e que o “Fora Temer ” precisa se aprimorar, pois há a percepção e reação negativa da população à figura de Temer, mas essa rejeição não se estende aos seus mais próximos aliados.
Para reerguer a esquerda devemos, como movimento social, voltar às nossas práticas de trabalho de base e aproximação com as massas, lembrando que desde a redemocratizacao os movimentos sociais sempre fortaleceram o partidos de esquerda, cabendo aí avaliar o grande erro que foi a vinculação umbilical dos movimentos sociais ao partido hegemônico, tirando destes movimentos a capacidade de crítica ao conjunto de erros que estavam se formando e  que ao fim lhe levou à inevitável queda.
É necessário compreender que o momento político a nós desfavorável nos impõe uma agenda de diálogos, capacitações e formações que visem recuperar o tempo perdido. Discutir o cotidiano, a realidade de cada um, apresentar propostas e juntos buscar soluções, nos é um caminho possível e extremamente necessário neste momento. Precisamos resgatar o que tínhamos de mais poderoso que era proximidade com os mais pobres e mais pretos,  estes mesmos que agora são e serão apontados por alguns segmentos como culpados e acusados de votar mal.
Se hoje a política retroage há trinta anos é nosso dever resgatar as estratégias e metodologias que nos levaram a conquistar o poder, mesmo que por um curto período de tempo e , agora sim, escaldados pelos erros, não mais cometê-los, buscando construir novos elementos referenciais a partir daquilo que pauta nossa luta, que é o combate ao racismo e  às suas nefastas consequências.
Márcio Alexandre
Coordenador Nacional de Política Institucional do CEN

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Att,
Coletivo de Entidades Negras - CEN
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